Pernambucano vencedor do Oscar fala sobre sua trajetória

Pernambucano Eduardo Bivar, que já trabalhou em filmes como 'Mulher-Maravilha' e 'A Múmia', integrou a equipe de efeitos visuais que recebeu o Oscar por 'Blade Runner 2049'

Cena do filme 'Blade runner 2049' - Divulgação

O Brasil não concorria na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar 2018, mas na noite do dia 4 de março, durante a premiação, o pernambucano Eduardo Bivar, 35 anos, torcia como se fosse "uma final de Copa do Mundo".

Em passagem pelo Recife, Eduardo Bivar falou sobre sua trajetória à Folha de Pernambuco. Ele, que trabalhou na equipe de efeitos visuais de "Blade Runner 2049", foi um dos vencedores do Oscar. "Esse momento foi muito especial para mim. Quando se tem no currículo algo assim, obviamente produtores e recruiters dão uma atenção especial, e podem confirmar a qualidade de seu trabalho", ressalta.

O pernambucano começou a trabalhar com efeitos visuais em 2017, em filmes de destaque internacional. Seus primeiros créditos foram "A Múmia", refilmagem do clássico de 1932, protagonizado por Tom Cruise; "Mulher-Maravilha", um dos filmes de heróis de maior destaque nos últimos anos; e "Aniquilação" (2018), com Natalie Portman, que a Paramount lançou diretamente no Netflix. Depois, surgiu o convite para "Blade Runner 2049", sequência do clássico de 1982, dirigida por Denis Villeneuve.

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"'A múmia' foi meu primeiro crédito. A equipe foi muito bacana comigo. 'Aniquilação' tem uma história bastante interessante. Gostei tanto que até fiz uma tatuagem", recorda Eduardo.

"Ainda lembro a produtora vindo até a sala onde trabalhava e me convidando para participar de 'Blade Runner 2049'. Foi incrível trabalhar em produções deste tamanho e representatividade, significa grande responsabilidade e necessidade de me comunicar de uma maneira ágil e completa com meus colegas", destaca.

O trabalho com efeitos visuais é uma operação coletiva: uma equipe, que pode chegar a centenas de profissionais, se dedica a todos os detalhes de cada cena. "A equipe de 'Blade Runner 2049' era grande, e cada artista trabalha em uma quantidade pequena de cenas, para que se possa atingir uma alta qualidade de produção", explica o pernambucano Eduardo Bivar.

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"O supervisor de efeitos visuais é quem se comunica diretamente com o diretor. No meu time, havia 250 pessoas, divididas entre Londres, Vancouver e Mumbai", detalha.

"Cada artista recebe um shot [plano de em média três segundos] e tem entre uma e duas semanas para trabalhar, segundo o briefing [informações] do diretor. Vamos para uma sala, chamada screening room, que é como se fosse uma sala de cinema, e vemos uma projeção. O supervisor aponta o que deve ser feito ou corrigido. Fazemos isso até a cena estar pronta e o diretor satisfeito", comenta.

"A gente recebe o que foi gravado. Então, vai ter fio, transeunte. Meu trabalho foi remover o que estava na gravação original, mas que não devia estar no filme", explica.


Do VHS ao Oscar

O interesse de Eduardo por cinema surgiu através de filmes importantes para a geração dos anos 1980. "Lembro de alugar fitas VHS em uma locadora em Piedade, chamada NatNay. Filmes como 'Goonies' (1985) e 'Uma cilada para Roger Rabbit' (1988)", lista Eduardo.

Mas o passo além, da vontade de cinema para uma cinefilia mais profunda, ocorreu ao assistir a filmes hoje considerados clássicos. "'2001 - Odisseia no espaço' (1968) e 'Blade Runner' (1982) realmente foram os mais impactantes para mim", ressalta.

A transição de cinéfilo para profissional de destaque no mercado ocorreu de forma metódica. "Em 2014, durante a Copa do Mundo, meditei sobre o que gostaria de fazer com meu futuro e minha vida. Larguei a carreira jurídica e decidi que trabalhar com computadores e arte seria essencial para o que viesse a fazer dali em diante. Foi quando me apliquei para a Lost Boys Studios, em Vancouver", diz Eduardo, sobre a prestigiada escola de efeitos visuais do Canadá.

Os estudos que levaram o pernambucano Eduardo Bivar até o trabalho atual em cinema envolveram diferentes etapas da produção. "Primeiro, fiz um curso na Saga, no software 3DS Max, por 20 meses. Depois, fiz o curso de Composição, da Lost Boys School, por dois anos, que me permitiu receber uma oferta de um dos estúdios que mais admirava, a Double Negative, que naquele momento era conhecido pelos efeitos visuais de filmes como 'Interestelar' (2014) e 'Ex_Machina: Instinto Artificial' (2014)", comenta.

A ocupação do pernambucano, que mora atualmente em Vancouver, no Canadá, e acaba de finalizar o trabalho na animação "Hotel Transylvania 3", é uma parte dentro de um quadro de funções.

"Há vários profissionais de efeitos visuais, cada um faz uma pequena parte do fluxograma de produção. No meu caso, o compositor, estou no final do fluxograma, combinando os diferentes elementos em uma imagem final, como um quadro de colagens, mas em vídeo", diz. "É um trabalho bastante recompensador e a cada cena há um desafio diferente", ressalta.