Gilú Amaral mostra pluralidade musical e religiosa no disco 'Peji'
Há cinco anos maturando o álbum novo, 'Peji' representa a diversidade musical presente na vida do músico com os mais variados símbolos que fazem parte do altar africano, do instrumentista que afirma se sentir pronto para lançar o seu trabalho autoral
A relação entre o músico Gilú Amaral e a percussão se entrelaça há mais de duas décadas. O músico que começou a tocar profissionalmente com 12 anos de idade, lança nesta sexta-feira (15) em todas as plataformas digitais o álbum "Peji", primeiro trabalho solo na carreira.
Com suas raízes fincadas na cidade de Olinda e influenciado pelos sons dos terreiros de candomblé e dos ritmos da cultura popular pernambucana, o artista criou desde muito cedo uma forte ligação com os batuques que soam o ano inteiro nas ladeiras do Sítio Histórico da cidade.
Gilú concedeu entrevista exclusiva para a Folha de Pernambuco sobre sua carreira e o primeiro trabalho solo. De origem Nagô, Peji significa lugar sagrado, altar. O músico conta que o álbum carrega um simbolismo muito forte entre o sincretismo religioso com a diversidade rítmica que o acompanha ao longo da carreira. Em uma das faixas do disco, na canção “Mãe do Amor”, composta pelo Babalorixá Expedito d'Oxossi a íntima relação do trabalho de Gilú com as religiões de matriz africana e os folguedos populares fica ainda mais exposta.
Há cinco anos maturando o álbum novo, "Peji" representa a diversidade musical presente na vida do músico com os mais variados símbolos que fazem parte do altar africano, do instrumentista que afirma se sentir pronto para lançar o seu trabalho autoral. “O Peji é um lugar de muitas energias, muitas figuras, tem o preto velho, tem uma pombagira, tem um caboclo, um santo católico e na área da música eu jogo em várias posições. Quando eu pensei nesse nome, ele também agrega isso. Não necessariamente está ligada com o candomblé e umbanda, mas ligada com a coisa de múltiplas figuras”.
Mantendo uma relação espiritual com a música, Gilú afirma que essa forma de enxergar as canções também está presente no álbum. “'Peji' tem muito a ver comigo, porque sou uma pessoa muito espiritualizada e tenho uma ligação muito forte com a música, acredito eu, até de outras vidas. E é uma coisa muito interessante, porque tem a questão do sincretismo religioso”, destaca.
Apesar de manter os projetos musicais em sua terra natal, a carreira do artista também tomou uma proporção internacional. Em 2017, o percussionista se apresentou representando o Brasil no Festival Percussive Arts Society International Convention (Pasic), no estado de Indiana, nos Estados Unidos.
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Naná Vasconcelos
Integrante de uma das bandas mais consagradas e especiais do Estado, a Orquestra Contemporânea de Olinda, Gilú foi o fundador da big band e articulou o elo entre o frevo da tradicional Orquestra do Grêmio Musical Henrique Dias, com o balanço jazzístico dos músicos Juliano Holanda, Tiné, Rapha B, Hugo Gila e Maciel Salú, que se somam a ele no grupo.
O artista que, ao longo da carreira como percussionista, dividiu o palco e mantinha uma amizade pessoal com nada mais, nada menos, que o mestre Naná Vasconcelos. “Quando eu conheci o Naná, ele sempre dizia que a história era tirar a percussão da cozinha e colocar na sala. A gente pode ser protagonista, fazer um disco de percussão”, relembra.
De uma inquietude sem tamanho na forma de criar artisticamente, Gilú acumula três discos lançados coletivamente com a Orquestra Contemporânea de Olinda, desenvolve os projetos com o Grupo Instrumental Wassab e os shows solo com o projeto Percursos, além da curadoria e produção do Festival Aurora Instrumental.