Padre Cosmo viaja a Roma em busca de Maria
Aos 49 anos, padre Cosmo deixou a Igreja Matriz Nossa Senhora da Paz, em Afogados, Zona Oeste do Recife, para um novo desafio: cursar Mariologia, na Itália. Carismático e respeitado pelos fiéis, o religioso também ganhou fama como padre exorcista. Ele per
“Descobrir Maria é descobrir o próprio Cristo.” É com essas palavras que padre Cosmo define o amor que tem à mãe de Jesus, ou só Maria de Nazaré, como é conhecida pelos fiéis católicos. Amor este que surgiu quando ele ainda era criança e que só hoje, aos 49 anos, transformou-se na sua maior motivação para deixar a atividade como pároco na Igreja Matriz Nossa Senhora da Paz, em Afogados, na Zona Oeste do Recife, após quatro anos dedicados ao ofício no local. E o sonho de conhecer mais sobre a vida da santa está bem perto de virar realidade: às 23h da próxima quinta-feira (2), ele parte da capital pernambucana com destino a Roma, na Itália. Será na Pontifícia Facoltà Teologica Marianum de Roma, menor faculdade do mundo, que padre Cosmo cursará Mariologia durante quatro anos, divididos entre mestrado e doutorado. É a primeira vez que ele faz uma viagem longa para fora do Brasil.
Sob forte comoção, a Missa da Cura, celebrada todas as quintas-feiras na Igreja Matriz Nossa Senhora da Paz, teve o padre Cosmo à frente pela última vez no dia 26. O novo pároco, padre Caio Duarte, toma posse neste sábado (28), na presença do arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.
Sobre padre Cosmo
Desde então, seu caminho religioso aumentou. Trabalhou na Paróquia de Santa Terezinha, em Bonanza, no Agreste pernambucano e, em seguida, na de São Pedro Mártir, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. Depois, comandou por dez anos a Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, no bairro de Afogados. Em 2009, foi suspenso das atividades de pároco por sua abordagem tida à época como espírita, nas celebrações. Voltou a assumir uma paróquia em 2011 e terminou seu legado na Igreja Matriz Nossa Senhora da Paz, no bairro de Afogados.
A igreja de Nossa Senhora da Paz tornou-se pequena diante da quantidade de fiéis que tomaram o templo para acompanhar a última Missa da Cura de padre Cosmo. Não havia espaço para todos. A reportagem acompanhou uma das últimas celebrações do pároco, no dia 12 de julho. E o cenário não foi diferente. A superlotação sempre se fez presente nas celebrações do religioso.
O clima descontraído durante as missas, misturado ao carisma e à disposição com a qual ele escuta cada fiel na comunhão ou quando lhe pedem uma benção, torna-o diferenciado, segundo os fiéis que o acompanham. Da mesma forma, é unânime o sentimento de tristeza em vê-lo partir para Roma. “Há oito anos, perdi meu único filho homem num acidente de carro. Foi o momento em que mais precisei de força e padre Cosmo, com toda a sua bondade, não me deixou cair em nenhum momento. Ia para a minha casa quase que todos os dias dar o conforto que eu necessitava. Rezava e falava o que precisava escutar. Devo muito a ele”, desabafou a aposentada Maria Cristina Roberta Maia, 59 anos.
Histórias de devoção
Nas celebrações, a cada hóstia compartilhada, Cosmo recebia um gesto de gratidão ou de ternura. Um abraço, um beijo, um agradecimento. “Não é idolatria. É amor. Recebemos a notícia (de que ele vai a Roma) com tristeza, mas, ao mesmo tempo, estamos felizes por ele. Porque é um sonho que ele quer realizar. Mas, ele deixará um vazio muito grande na paróquia. Tenho fé de que ele poderá voltar qualquer dia e ser o meu padrinho de crisma”, acredita a aposentada Gilvanete de Oliveira, 58. No dia da missa, ela levou um retrato da sua família “para pedir saúde e bênçãos”.
Gilvanete também carrega uma boa história de fé. Numa missa, em maio deste ano, o padre benzeu uma rosa e disse que a primeira pessoa que a notasse levaria a flor e ganharia uma bênção. “Quem notou foi uma amiga minha que, há nove meses, sofria com as sequelas da (síndrome de) Guillain-Barré. Ela passou a andar e mexer as mãos uma semana depois”, disse Gilvanete.
Ao retornar de Roma, pretende voltar à paróquia?
Eu disse a dom Fernando (Saburido) que não quero mais paróquia. Estar como pároco foi uma temporada na minha vida. Quero ser disponível para o serviço pastoral na igreja. Paróquia fixa requer muito compromisso e eu não tenho mais condições de corresponder a tudo. O propósito que Deus quer para a minha vida é outro. Mas claro que, se o bispo precisar de mim, deverei obedecê-lo. Eu não me pertenço, sou de Deus e da igreja.
Quais lembranças leva dos 20 anos como padre?
Qual sua mensagem para os fiéis?