Um 'Hamlet' contemporâneo pelas mãos do grupo Armazém

Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro, leva montagem de 'Hamlet', protagonizada por Patrícia Selonk, ao Teatro de Santa Isabel

"Hamlet", da Armazém Companhia de Teatro - Mauro Kury/Divulgação

Ao completar 30 anos de trajetória, a Armazém Companhia de Teatro resolveu encarar o desafio de montar "Hamlet", peça teatral que chega ao Recife. As sessões na capital pernambucana ocorrem no Teatro de Santa Isabel, nesta sexta-feira (3) e sábado (4), às 20h, e no domingo (5), às 18h.

"Há algo de podre no reino da Dinamarca", "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia", "Ser ou não ser, eis a questão". A popularidade dessas frases, proferidas ao longo de "Hamlet", é uma mostra da relevância que a obra de William Shakespeare tem para a cultura ocidental. Encenar o espetáculo é, portanto, uma grande responsabilidade para qualquer grupo teatral.

Escrito entre 1599 e 1601, o texto clássico ganha ares contemporâneos na mão da companhia sediada no Rio de Janeiro. "Escolhemos montar 'Hamlet' por ser uma peça extremamente atual. Olhando para ela, que é uma radiografia muito detalhada da humanidade, ficamos com a impressão de que o homem mudou bem pouco ao longo de sua história", aponta Paulo de Moraes, diretor da montagem. Para o encenador, a trama do príncipe dinamarquês - obcecado por vingar a morte do seu pai, o rei - encontra paralelos com a realidade do mundo atual.

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"Na essência, a dramaturgia trata da usurpação do poder e da destruição de uma ordem estabelecida. Estamos vendo isso hoje em dia, com o colapso de um sistema. A democracia vem perdendo o sentido e isso não é só no Brasil", comenta Paulo. Pontos expostos na peça de Shakespeare, como a corrupção que toma conta da corte real dinamarquesa, dialogam de maneira especial com o público.

"As comparações são muito latentes, mas sem ser de uma forma ilustrativa ou literal. A gente não precisa colocar um Trump em cena, por exemplo. Por si só, o texto já se comunica com os espectadores", defende. O texto foi traduzido por Maurício Arruda Mendonça.

   Hamlet mulher

Na versão da Armazém, o protagonista ganha vida no corpo de uma mulher. A atriz Patrícia Selonk, que está na companhia desde a sua formação, interpreta o príncipe. "Não tem como tratar como mais um trabalho. No começo, quando ficou estabelecido que eu seria o Hamlet, foi um susto. Como dar conta disso? Mas uma das coisas que me tranquilizou foi o fato de estar sendo feito dentro de um grupo, em que todos cooperaram com a construção do espetáculo", diz a artista.



Mergulhar na complexidade emocional do personagem tem sido uma experiência enriquecedora para a atriz, acostumada a viver diferentes papeis nos palcos. "O Hamlet se finge de louco para conseguir o que quer, mas aos poucos essa loucura fingida vai tomando conta dele. Encarar a violência desse personagem no meu corpo foi, talvez, o mais trabalhoso. Está sendo um processo muito intenso para mim. Depois de passar por Hamlet, foi bom perceber que dei um passo a mais como atriz", pontua.

Serviço

Espetáculo "Hamlet"
Sexta-feira (3) e sábado (4), às 20h, e no domingo (5), às 18h
Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3323