Conheça o Vogue: um estilo de dança para todos os corpos

Primeira edição do Festival Internacional Vogue Fever se encerra neste sábado (1º), com competição entre bailarinos, na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife

Trio Lipstick é formado por Tetê Moreira, Paula Zaidan e Raquel Parreira - Gustavo Gloria/Folha de Pernambuco

Inclusiva, democrática e empoderadora. Todos esses adjetivos costumam ser utilizados pelos praticantes do Vogue para se referirem à dança que, ao contrário do que muitos podem pensar, não foi inventada por Madonna. A Rainha do Pop teve sim um papel importante na sua popularização, ao lançar o clipe de uma música homônima em 1990, mas o estilo coreográfico já existia bem antes disso.

O nome vem mesmo da revista de moda mundialmente famosa, já que os passos e posições são inspirados nas poses que as modelos fazem nas passarelas e em ensaios fotográficos. No Recife, uma oportunidade de conhecer melhor o movimento cultural é acompanhar o encerramento da primeira edição local do Festival Internacional Vogue Fever, que ocorre neste sábado (1º), com uma competição de dançarinos, a partir das 19h, na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife.

O Vogue nasceu nos anos 1960, dentro das ballrooms - bailes frequentados por negros e latinos gays, drag queens e transexuais, em comunidades da periferia de Nova York, nos Estados Unidos. Esse contexto histórico é retratado no documentário "Paris is burning", lançado em 1991 e filmado ao longo da década de 1980, com direção de Jennie Livingston.

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"Enquanto o mundo lá fora tratava com opressão essas pessoas, nas 'balls' elas eram ovacionadas pelo que elas eram. Era aquele momento de celebrar a sua existência e esquecer todo o ódio e violência", explica Maria Teresa Moreira (Tetê). Ao lado de Paula Zaidan e Raquel Parreira, ela integra o trio mineiro Lipstick, que desde 2011 estuda a dança norte-americana, em Belo Horizonte.

Idealizadoras do festival, as três representam a vertente conhecida como Vogue Femme, baseado no corpo das mulheres transexuais, com movimentos considerados mais femininos. Não existe, no entanto, estereótipos ligados a gênero nessa dança. "O Vogue brinca muito com essa coisa binária. Ele faz graça com essa transição do que é masculino e o que é feminino", diz Tetê.

  

A palavra padrão não cabe no vocabulário de quem se dedica ao estilo. A ideia é, justamente, agregar a maior diversidade possível de corpos. Pensando nisso, na edição recifense do evento, o trio comandou pela primeira vez, na última quinta-feira, uma oficina voltada para pessoas com deficiências.

"O Vogue é uma dança para todo mundo, independentemente de quem você é ou de onde você vem. Ela abraça a todos, com as suas fortalezas e fraquezas também, porque o interessante nessa história é ser diferente de tudo, ter suas características únicas", defende Raquel.

No Recife

O bailarino e professor recifense Edson Vogue conheceu o estilo de dança na adolescência, assistindo ao icônico vídeo de Madonna. Mais tarde, já cursando licenciatura em dança na universidade, o artista passou a pesquisar e experimentar novas possibilidades dentro do gênero, incluindo a mistura com o frevo. Responsável por ministras oficinas e cursos na Cidade, ele acredita que uma cena local está surgindo.

 
"Estamos bem no início ainda. Antigamente, só eu dançava Vogue. Hoje, há algumas pessoas que conhecem e se interessam pelo assunto. Acredito que, a partir do festival, a tendência é isso crescer", aponta. Durante a final do Festival Internacional Vogue Fever, apelidada de Hellcife Ball, as batalhas terão direito a corpo de jurados e troféus para os vencedores. Além das categorias tradicionais ligadas à dança, foram criadas duas exclusivamente pernambucanas: Gayleroso x BarbieGay e Swingueira x Brega Funk.