"10 Segundos para Vencer" retrata Éder Jofre além do boxe
Filme, que tem estreia nacional agendada para esta quinta-feira, aborda carreira e relação entre pai e ícone do esporte
“10 Segundos para Vencer.” De imediato, a pergunta: “Seria este o filme sobre Éder Jofre?” A interrogação fazia sentido. Apesar de o nome Éder Jofre constar no hall da fama do boxe mundial, o Galinho de Ouro não tem o mesmo prestígio com o grande público brasileiro. Mesmo assim, insistia. Fazia maior sentido batizá-lo com o nome de seu personagem principal. Os amantes do esporte teriam uma imediata atenção e... enganei-me! A obra representa, sim, a essência da história contada pelas destacadas atuações de Daniel de Oliveira e Osmar Prado. O filme, que tem estreia nacional agendada para amanhã, não é apenas sobre a vida do brasileiro bicampeão mundial de boxe (1960 e 1973). Baseada em fatos reais, a ficção trata com precisão a conflituosa relação de amor entre pai e filho, e o trato que os uniu para a vitória.
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O cartel de Éder Jofre, atualmente com 82 anos, apresenta expressivos números. Foram 81 lutas, com 75 vitórias, sendo 52 por nocaute, além de quatro empates e apenas duas derrotas. Ambas por pontos, inclusive. Éder Jofre nunca passou pela situação de, caído após um golpe, ver um árbitro abrir contagem... os tais “dez segundos”. Em “10 Segundos para Vencer” um pacto é encenado pouco antes de uma luta clandestina na cadeia entre o ainda jovem Éder contra um preso, levado pelo seu pai. “Isso, de fato, acontecia”, interpelou Osmar Prado, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Gramado, pela interpretação do austero Kid Jofre. “Não há imagens, nem gravações dele. Tive de criar o personagem a partir das minhas percepções. Mas ter ouvido do próprio Éder que viu o pai na interpretação é maior do que qualquer Kikito”, afirmou.
O argentino "Kid Jofre", que já havia sido um respeitável pugilista, era adepto de treinamentos pouco ortodoxos na intenção de extrair o melhor de seu pupilo e filho. “Eu acho que Éder teria sido um artista plástico. Ele desenhava muito bem e pretendia estudar esta arte. Mas a vida o deu outro caminho. E, mesmo assim, ele foi o melhor”, contou Osmar Prado. De fato, o boxe pareceu um amor para Éder Jofre. Mas cabia a Kid o sentimento de paixão pelo esporte. “Assim como Éder, também tive conflitos com meu pai. Sou de uma época que não havia tanto glamour social em ser ator (Risos). Meu pai foi uma inspiração para este papel, que considero um dos mais importantes da minha carreira”, completou.
Apesar de viver um sonho em comum, Éder Jofre é apresentado na pele de Daniel de Oliveira com uma personalidade antagônica ao do seu mentor. Ao explicar a então namorada Cida (Keli Freitas) - avessa à violência -, que era boxeador, Éder dançou no ringue. “Ele é um apaixonado”, comenta Osmar. Sensibilizado pela situação do irmão Donga (Ravel Andrade), sem poder andar pelo tratamento de um câncer, os Jofres descem pelas ruas do Peruche, em São Paulo, em um carrinho de rolimã. “Acho linda a felicidade daquela cena”, completa Prado. Muito mais interessado em aproveitar a família do que preocupado com o boxe, Éder Jofre decide abandonar o esporte. “Aquela decisão de Éder machucou Kid Jofre. Tanto que ficaram algum tempo sem se falar”, disse.
Além de um roteiro atrativo, “10 Segundos para Vencer” aposta em uma fotografia fechada em expressões e detalhes. Tal artifício faz o filme não perder em ambientação (afinal, ele se passa nos anos 1960, basicamente). As cenas de lutas, por sinal, muito bem coreografadas, é outro ponto alto. Outro detalhe: o boxe funciona apenas como pano de fundo para a trama. Seria, então, o filme uma versão brasileira de Touro Indomável (1980)? A comparação levantada sugere um elogio ao filme dirigido por José Alvarenga Júnior. Mas, segundo Osmar Prado, essa comparação não cabe por um outro motivo: “Éder Jofre era e é amável”. Hoje, aos 82 anos, Jofre convive com a encefalopatia traumática crônica, uma doença cerebral degenerativa que afeta, principalmente, pessoas que receberam constantes pancadas na cabeça.