Crítica: Filme 'Meu anjo' extrapola o estereótipo da mãe má
Dirigido por Vanessa Filho, o drama francês 'Meu anjo' conta com a veterana Marion Cotillard e a jovem atriz Ayline Aksoy-Etaix, que estreia nos cinemas
Na história do cinema há mães que se destacam pela maldade, personagens que agem por uma medida ambígua de egoísmo e indiferença. Um caso extremo é Marlene (Marion Cotillard). Na primeira cena de "Meu anjo", filme que chega na quinta-feira (25) nos cinemas, ela chega em casa bêbada, de madrugada, depois de uma festa, acorda Elli (Ayline Aksoy-Etaix), sua filha, para que ela faça cafuné, cante uma música. O que parece uma cena de intimidade aos poucos se torna, através das ações de Marlene, uma trágica ironia.
O começo do filme mostra o casamento de Marlene. Durante a festa, seu marido a encontra beijando o garçom - o primeiro indício de que essa mulher não age pensando nas pessoas que a amam. O roteiro vai gradualmente incluindo mais cenas em que Marlene é uma vilã formidável, uma figura trágica para todos em volta, alguém movida apenas por suas próprias vontades. Chega ao ponto do exagero: a certa altura, ela conhece um homem em uma boate, coloca a filha num taxi e some por muitos dias.
Essa é a base do roteiro, que acumula situações em que Marlene é alguém que vai além do rótulo "péssima mãe". A maneira como a história progride em direção ao exagero, com a personagem falhando de forma grandiosa em todos os aspectos da maternidade, se torna cada vez mais incômoda. É algo que Marion Cotillard incorpora também em sua atuação, sempre com cara de surpresa ou choque, com alguma bebida em mãos; são opções que retiram do enredo seu potencial delicado: a maneira como o abandono repercute em Elli.
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O filme, que foi exibido na mostra Um certo olhar, no Festival de Cannes deste ano, é dirigido pela francesa Vanessa Filho, que enquadra quase todas as cenas em close, com a câmera chacoalhando - opção que não dá aos atores a chance de se destacar. Em um filme que trata dos delicados tumultos internos, essa opção parece dificultar o acesso aos personagens.
O título "Meu anjo" sugere uma tristeza delicada, uma melancolia sensível sobre a vida de Elli. É o primeiro filme da jovem atriz Ayline Aksoy-Etaix, que mesmo falando pouco consegue emocionar através de seus olhares, de seu silêncio. O título se refere ao mesmo tempo à maneira como sua mãe chama a garota, quando está sóbria e presente, e também às coisas que Elli nunca teve: família, carinho. Em meio a um drama excessivo e afetado, a personagem Elli é o ponto alto do filme.
Cotação: regular