Santa Cruz

Brasão: antigo símbolo da família coral

Ex-atacante do Santa Cruz relembra passagens curiosas, fama de "populista" e não esconde desejo de encerrar carreira no Tricolor

Brasão comemora gol marcado com a camisa do Santa - Marcos Pastich/Arquivo Folha

Uma mesma palavra pode ter significados diferentes dependendo de quem a diz. Na tradição medieval, por exemplo, “brasão” era um símbolo que identificava famílias ou nações. Agora pergunte o sentido dessa palavra para um torcedor do Santa Cruz. Provavelmente ouvirá uma correção: para ele, não é “o que” e sim “quem”. Um ex-centroavante coral de causos curiosos que herdou o apelido de um cachorro de estimação. Folclórico e, para alguns, “populista”, o jogador de 36 anos, atualmente sem clube, caprichou na frase. “Já passei por 28 equipes, mas sempre serei lembrado como Brasão do Santa”.

Antes de vestir a camisa do Santa Cruz, em 2010, Brasão se aventurou no futebol indiano. “Primeiro joguei pelo Fransa-Pax. O clube não era tão organizado. Faltavam até preparadores físicos. Como não sabia inglês, acabei assinando um papel lá que me fez ter contrato por cinco anos. Comecei bem, marcando muitos gols, mas o problema é que no quarto ano o clube faliu e precisei entrar na justiça para receber o resto do dinheiro. Por lá, atuei também no Salgaocar, que pagava direitinho. Mas o futebol ainda não estava desenvolvido como é agora”, citou o atleta, que já jogou até em estádio que não tinha privada no banheiro.

Saindo da Ásia, Brasão passou por Fluminense/BA, Atlético/PR e Atlético/GO, até acertar sua transferência para o Santa. A contragosto da família. “Arrumei uma briga quando disse que ia jogar lá. O sonho de todo mundo era que eu jogasse na Série A e eu estava saindo de um time que tinha acabado de subir (Dragão). Mas eu pesquisei e vi o tamanho do Santa. Tomei a melhor decisão da minha vida”.

No Tricolor, Brasão já chegou mostrando serviço, fazendo gol na estreia, contra o Sete de Setembro. Mas foi em um Clássico das Emoções em que o centroavante caiu de vez nas graças da torcida. “Nem acho que foi o meu melhor jogo pelo clube, mas foi especial porque marquei dois gols no Náutico. Os mais bonitos que já fiz (um de cobertura e outro deixando o goleiro Gustavo no chão). Como me chamavam na época de “Imperador do Arruda”, eu me empolguei e tirei a camisa na comemoração. Só esqueci que já tinha amarelo e terminei expulso”.

O discurso sempre efusivo ao defender o clube rendeu alguns apelidos. “Sei que me chamavam de marqueteiro, mas eu falava o que vinha no coração. Foi assim que decidi comprar alguns ingressos para um jogo e distribuir com os torcedores. Muitos falaram que fiz para aparecer, mas eu queria ajudar”, disse.

“Gostava tanto do Santa que recusei uma proposta milionária dos Emirados Árabes durante a Série D porque eu queria ficar até o final do ano. Quando fomos eliminados, um dirigente do Náutico me encontrou em um voo e ficou tentando me convencer a jogar lá, mas eu não quis e fui para Portugal. Depois eu enfrentei o Santa, em 2012, quando estava no Treze. Marquei um gol, mas respeitei a torcida. Fiz isso porque gosto do clube e não por marketing”.

A vitória por 3x2 diante do Botafogo, no Engenhão, pela Copa do Brasil, é a lembrança preferida de Brasão. “Perdemos a primeira por 1x0 no Arruda. Na volta, eu convenci Raimundo Queiroz (diretor de futebol) a aumentar o bicho da classificação. Ele não estava tão confiante, mas eu disse: ‘se a gente passar, você paga cinco mil para cada um?’ Ele aceitou”. O atacante, então, virou um motivador. “Eu dormi no mesmo quarto do Luiz Eduardo (zagueiro). Fiquei acordando ele a noite toda, dizendo: ‘cuidado com Loco Abreu’. No final deu certo. Quando encontramos Raimundo, ficamos brincando com ele e gritando: ‘queremos cinco mil (risos)’”, contou.

O último clube de Brasão foi o Almirante Barroso/SC. O jogador segue aprimorando a parte física e disse ter propostas do futebol paraibano e sergipano. Independente do destino, Brasão já definiu onde estará em janeiro. “Fui convidado para um casamento de um torcedor do Santa. Conheci ele aqui no Sul e nos aproximamos por conta da minha história aí”, explicou, não escondendo que gostaria de retornar ao estado não somente como convidado. “Sei que é difícil, mas queria voltar ao clube e ser campeão. Encerraria minha carreira com chave de ouro".

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