Professores brasileiros são os menos valorizados, diz pesquisa
Pesquisa internacional mostra o Brasil como o país que menos valoriza seus professores. Jovens não querem seguir a profissão
Rede estadual de ensino - Anderson Stevens
O Brasil é o país que menos valoriza seus professores, frente a outros 34 analisados pelo Índice Global de Status de Professores (GTSI), divulgado na última semana. Países como Peru, Chile e Argentina, da América do Sul, Gana e Egito, da África, e outros como China e Rússia, obtiveram resultados muito melhores. A pesquisa mostrou ainda que, quanto mais valor dado aos professores, melhor desempenho do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Em Pernambuco, os professores sentem a desvalorização medida pelos pesquisadores.
De acordo com o professor Paulo Rocha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), uma das consequências mais concretas dessa falta de valorização são os afastamentos por problemas de saúde relacionados ao trabalho. “Chega a 30% a quantidade de profissionais com síndrome de burnout, que é relacionado a um alto nível de estresse e à sensação de incapacidade de resolver o problema dos outros”, analisou.
Ele reclama que, pelos baixos salários, os professores fazem jornada dupla e chegam a ter 700 alunos. “O ideal é que cumpra uma quantidade de horas que não leve trabalho para casa e uma quantidade de alunos que lhe permita conhecer os alunos em suas potencialidades e dificuldades.” No cotidiano, as agressões verbais e físicas não são tão frequentes como se imagina, mas têm um grande impacto. “Dói muito mais quando um aluno deixa a escola.”
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De acordo com o GTSI, só 20% dos brasileiros incentivam os filhos a serem professores. A falta de incentivo não é recente porque, segundo Rocha, a juventude já não se interessa pelo magistério. “É um risco para o futuro”, preocupa-se.
Ele reclama que, pelos baixos salários, os professores fazem jornada dupla e chegam a ter 700 alunos. “O ideal é que cumpra uma quantidade de horas que não leve trabalho para casa e uma quantidade de alunos que lhe permita conhecer os alunos em suas potencialidades e dificuldades.” No cotidiano, as agressões verbais e físicas não são tão frequentes como se imagina, mas têm um grande impacto. “Dói muito mais quando um aluno deixa a escola.”
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Recompensa
Numa sala montada numa empresa de engenharia na Guabiraba, Zona Norte do Recife, uma professora é muito valorizada pelos alunos. A turma de Educação de Jovens Adultos (EJA) é formada por trabalhadores da Emlurb, que enfrentam a alfabetização depois do trabalho. Um dos aluno, André Nascimento, 46, se orgulhou: “Eu aprendi a escrever meu nome”. Agora, quer uma carteira de identidade nova, com a assinatura. Não quer mais usar a digital.
“Estão aprendendo porque querem. E me vêem como uma pessoa que pode ajudar. Assim criamos um vínculo afetivo diferente, porque eles têm sonhos definidos e querem se dedicar a eles. É uma pena que, por serem trabalhadores, muitas vezes alunos do EJA não consigam conciliar as atividades e tenham seus sonhos cancelados”, contou a professora da rede municipal do Recife, Janaína Miranda.
“Estão aprendendo porque querem. E me vêem como uma pessoa que pode ajudar. Assim criamos um vínculo afetivo diferente, porque eles têm sonhos definidos e querem se dedicar a eles. É uma pena que, por serem trabalhadores, muitas vezes alunos do EJA não consigam conciliar as atividades e tenham seus sonhos cancelados”, contou a professora da rede municipal do Recife, Janaína Miranda.
A trama
Para ambos os professores, a desvalorização do professor mostrada no GTSI não é um mero acaso, mas um projeto político. Para Janaína, a profissão é uma ameaça à estrutura do Estado, com uma pirâmide em que um setor muito pequeno se favorece de uma massa de manobra sem pensamento crítico. “É esse pensamento que pode estimular as pessoas a raciocinar, a ampliar as inteligências - que todos já temos. Então, descredenciam o professor e, consequentemente, sua força de atuação no pensar coletivo. Neutralizam a nossa fala”, analisou.
Rocha não só endossa o pensamento como politiza ainda mais a questão. “Sofremos um ataque profundo. Sendo criminalizados e responsabilizados por uma má educação. Pelo projeto Escola Sem Partido, dizem que doutrinamos os alunos. É um paradoxo, porque, se o fizéssemos, não estaríamos sendo vítimas dessa ideia”, argumenta. “O projeto, a reforma do Ensino Médio e a reforma trabalhista, estão ligados. O novo ensino foca em português e matemática e exclui o pensamento crítico. Querem alunos preparados só para isso, trabalho sem pensar. Quando nossa função principal é ensinar a refletir e ler a sociedade. Independentemente de a pessoa ser de direita ou de esquerda”, conclui o professor.
Rocha não só endossa o pensamento como politiza ainda mais a questão. “Sofremos um ataque profundo. Sendo criminalizados e responsabilizados por uma má educação. Pelo projeto Escola Sem Partido, dizem que doutrinamos os alunos. É um paradoxo, porque, se o fizéssemos, não estaríamos sendo vítimas dessa ideia”, argumenta. “O projeto, a reforma do Ensino Médio e a reforma trabalhista, estão ligados. O novo ensino foca em português e matemática e exclui o pensamento crítico. Querem alunos preparados só para isso, trabalho sem pensar. Quando nossa função principal é ensinar a refletir e ler a sociedade. Independentemente de a pessoa ser de direita ou de esquerda”, conclui o professor.