Presente em outros estados, ação de 'torcida única' sofre resistência
Medida foi implantada em algumas localidades do Brasil, a exemplo da Bahia, onde o Vitória tenta derrubar sanção
Ter apenas a torcida do clube mandante nos jogos é uma medida que já foi implantada em alguns estados do Brasil. Desde abril de 2016, os duelos envolvendo Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo têm apenas os torcedores da casa no estádio. Decisão tomada após a morte de um torcedor em um clássico entre o Verdão e o Timão. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a decisão provocou uma diminuição nos conflitos entre organizadas, caindo de 21 (2016) para 12 (2018). De acordo com o Ministério Público do estado, há 89 torcedores impedidos de frequentar estádios por determinação judicial.
Mesmo assim, as mortes não cessaram por completo no estado. No ano passado foram três casos. Em março, um corintiano foi espancado até a morte por santistas. Um mês depois, após a final do Campeonato Paulista, outro torcedor do Corinthians foi atropelado por um palmeirense e faleceu. Em Campinas/SP, onde existe determinação para jogos de torcida única para confrontos entre Guarani e Ponte Preta, um torcedor alvinegro foi baleado por bugrinos.
Em 2017, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou que os clássicos entre os quatro maiores da capital (Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo) contassem apenas com torcedores do time mandante. Decisão também motivada após uma tragédia: em fevereiro daquele ano, sete torcedores ficaram feridos e um morreu após confusão entre organizadas do Botafogo e do Flamengo. A proibição, porém, durou apenas um mês.
No Rio Grande do Sul, a ideia não saiu do papel. Em 2013, a Brigada Militar pediu torcida única em um jogo entre Grêmio e Internacional, mas o clássico contou com colorados e gremistas. Em 2018, a possibilidade foi novamente levantada e, mais uma vez, descartada. No ano passado, por determinação do Ministério Público da Bahia, os clássicos entre Vitória e Bahia passaram a ter torcida única. Desde então, o Leão tenta acabar com a medida.
O jogo da última terça, entre Botafogo/PB e Santa Cruz, pela Copa do Nordeste, também só contou com o público mandante. A medida foi tomada por conta da aliança que existe entre a torcida do clube paraibano e do Náutico.
Em julho do ano passado, o Santa Cruz descobriu momentos antes de a bola rolar para o jogo contra o ABC, no Frasqueirão, pela Série C, que a partida seria com torcida única. O presidente coral, Constantino Júnior, afirmou que a CBF não foi notificada. No fim, os tricolores foram obrigados a entrar sem a camisa do clube.
Segundo Maurício Murad, doutor em sociologia dos esportes e autor do livro “Para entender a violência no futebol”, adotar torcida única nos estádios não é eficaz. “Cerca de 90% dos conflitos acontecem fora do estádio. Aprovar isso seria assinar uma declaração de que o poder público não tem condições de cumprir uma de suas obrigações constitucionais: garantir a segurança pública”.
Pesquisa
De acordo com pesquisa publicada no ano passado pelo portal UOL, 79,3% dos jogadores brasileiros são contrários ao formato de torcida única nos estádios. Apenas 16% se mostraram favoráveis à ideia, enquanto 4,7% preferiram não opinar. Ao todo, foram ouvidos 106 atletas que disputaram a Série A 2018 pelos seguintes clubes: Atlético/MG, Botafogo, Ceará, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco.
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