Músicos do metrô levam arte e distração para passageiros do Recife
Por dia, cerca de 400 mil pessoas percorrem as linhas Centro e Sul do sistema ferroviário. Público significativo para quem quer ser ouvido e reconhecido.
São muitos os sons ouvidos por quem percorre as linhas do Metrô do Recife diariamente: o burburinho dos passageiros, os barulhos mecânicos dos trens, os avisos alardeados nas caixas de som, a algazarra dos vendedores ambulantes. Mas em meio a essa sinfonia de ruídos também é possível apreciar um pouco de arte. Diferentes ritmos vêm ocupando os vagões através de dezenas de músicos, que enxergam no transporte coletivo um espaço aberto para divulgar seus trabalhos e concretizar sonhos.
Para muitos desses artistas, o metrô é um meio de vida. É o caso da cantora e instrumentista Maysa Carla, de 21 anos, que passou a se apresentar para os passageiros depois que ficou desempregada. "Eu trabalhava com transporte alternativo, mas fiquei sem emprego. Há quatro anos, um amigo meu, que já tocava nos vagões, me encorajou a fazer o mesmo. É daqui que, até hoje, eu tiro o meu sustento", diz a musicista. Acompanhada de um violão, microfone e caixa de som, ela reproduz um repertório que vai do reggae ao sertanejo, passando por sucessos da MPB. Ao final das apresentações, pede sempre contribuições voluntárias aos espectadores.
Fazer música sobre os trilhos também é uma forma de financiar projetos artísticos. Os amigos Ramon Rodriguez e Danilo Araújo, ambos de 22 anos, começaram a trabalhar no metrô em 2017, com o objetivo de juntar dinheiro para investir na banda de rock deles, a Bifurcação. Ao lado de um terceiro companheiro, Adson Tavares, eles se apresentam nos vagões com o nome de Metro Squad. "Temos uma música autoral, que pretendemos gravar com a grana que conseguimos no metrô. Além disso, estamos alcançando uma visibilidade muito boa nas nossas redes sociais, que a gente sempre divulga", conta Ramon.
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Com 58 anos de idade e 46 de carreira, Gilvan Silva viu no ambiente dos trens uma chance de tocar seu estilo favorito de música. Evangélico, ele entoa canções gospel e aproveita o momento para transmitir mensagens de cunho religioso. "Antes eu tocava na noite, mas o mercado é muito difícil. Além disso, nos bares eu não tinha como cantar os louvores, que é o que eu realmente gosto", divide.
Por dia, o sistema metroviário no Grande Recife transporta cerca de 400 mil pessoas, nas linhas Centro e Sul. Um público significativo para quem quer ser ouvido e reconhecido. "O metrô abrange todo tipo de gente, que curte diferentes ritmos. Podemos divulgar o nosso trabalho de maneira massificada, mesmo fora da grande mídia ou da internet. Também abre oportunidades, porque acabamos recebendo convites dos passageiros para tocarmos em festas particulares", comenta o instrumentista Guilherme Teixeira, 26.
Engenheiro da computação, Guilherme costuma levar sua música aos usuários do transporte público de segunda-feira a sábado, após o expediente de trabalho, ao lado de mais dois músicos. Mesclando covers e canções autorais, o trio Vertigens tem no Manguebeat a principal inspiração das suas músicas. As letras de teor político e social, no entanto, nem sempre agradam todo mundo. "Na época das eleições, um policial à paisana não gostou de uma música que falava sobre segurança pública. Fomos retirados do vagão e passamos um bom tempo sem cantar esse tipo de música, com medo de sofrermos perseguição", relembra.
Como as apresentações musicais dentro dos vagões são proibidas pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), um dos problemas enfrentados pelos artistas é lidar com a fiscalização. "A gente não está ali para sujar ou vandalizar, mas sim passar uma mensagem e animar o dia de qualquer pessoa que saia de casa meio desanimado. Não tocamos nem tanto pelo dinheiro, mas pela alegria podemos transmitir", assegura Guilherme.