Incêndio atinge comunidade de Santa Luzia, no Recife

Três pessoas da mesma família ficaram feridas;

Bombeiros combatem incendio na comunidade Santa Luzia (1) - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Um incêndio atingiu a comunidade de Santa Luzia, no bairro da Torre, Zona Norte do Recife, na manhã desta segunda-feira (12). O local fica às margens do Rio Capibaribe. Duas viaturas do Samu estavam no local e três vítimas foram encaminhadas para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, uma delas com 40% do corpo queimado. Às 7h40 o comandante da operação do Corpo de Bombeiros confirmou que as chamas foram controladas.

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As três pessoas feridas são da mesma família e foram encaminhadas ao Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife. Karla Juliana Xavier da Silva, de 32 anos inalou fumaça e sofreu queimaduras leves nos braços, pernas e rosto. Segundo a assessoria de imprensa do HR, o caso dela é estável e ela assinou o termo de responsabilidade solicitando a alta médica e se comprometeu a voltar para uma segunda avaliação. Enquanto isso, sua filha de um ano e dois meses foi socorrida por também ter inalado fumaça, mas está estável e deve ter alta no início da tarde. Já o companheiro, Ivanildo da Silva Oliveira, 32, teve 40% do corpo queimado. De acordo com a assessoria do hospital, o caso dele é mais delicado, mas está passando por curativos e também segue estável.

De acordo com o corpo de Bombeiros, o incêndio foi considerado de grandes proporções e aproximadamente seis viaturas atuam no local. No momento, o rescaldo está sendo feito como explica o capitão do corpo de Bombeiros, Herivelton Bezerra: "O fogo segue controlado, só vamos deixar o local quando não houver mais riscos para a comunidade. Até as 7h da manhã já tinham sido utilizados 25 mil litros de água", afirma. O coronel Cássio Sinomar, da Defesa Civil do Recife, também foi ao local para avaliar os danos: "Precisamos ver quantas famílias foram vitimadas e saber se essas pessoas tem algum abrigo para onde ir e condições de alimentação. Vamos dar ajuda humanitária", afirma Cássio. 

Por volta das 8h, o calor das chamas ainda era intenso na área. Os moradores se concentravam sobre a ponte ao lado da comunidade para tentar ter uma dimensão do desastre. São dezenas de casas atingidas pelo fogo, que começou antes das 6h, uma delas foi a residência de Maria Auxiliadora: "perdemos tudo, não ficou nada. Consegui tirar alguns documentos, o bujão de gás e o ventilador, mas nem os remédios controlados consegui pegar. Não sei o que vou fazer, nem para onde vou", afirma.

Equipes do Exército foram enviadas ao local. A Secretária de Desenvolvimento e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita, foi ao local para ter dimensão do incêndio e ajudar as famílias:"Vamos fazer um levantamento prévio junto com a Defesa Civil e vamos dar toda a assistência as famílias. Pelo que percebi as chamas atingiram uma área diferente do último incêndio na comunidade", explica. 

Cadeiras e mesas foram colocadas no local pela Defesa Civil e o cadastramento está sendo realizado, mas a finalização do processo, que inclui o reconhecimento de onde ficavam as casas, deve durar em torno de uma semana: "aqueles que tiverem parentes serão abrigados por eles, quem não tiver, será encaminhado para o abrigo da prefeitura, na Travessa do Gusmão, no bairro de São José. A Secretaria também vai providenciar colchões e uma cesta básica para as famílias atingidas. "Nesse primeiro momento vamos fazer um atendimento emergencial para depois fazer o desdobramento dos encaminhamentos", explica Ana Rita.

Causas prováveis
Segundo alguns moradores, as chamas iniciaram quando uma vela que caiu sobre algum produto inflamável. Outras pessoas falaram que faltou energia na comunidade e um curto circuito pode ter causado o incêndio como Juliana Xavier da Silva, 32, uma das vítimas socorridas: "eu tenho certeza que foi um curto circuito. Não tem outra explicação. Quando me acordei já senti a quentura nos pés. A fumaça tava enorme, sufocando, era muita fumaça e a passagem para a rua estava tomada de fogo. Eu e meu marido corremos para tentar derrubar as paredes e pedir ajuda dos moradores. Foi uma sensação horrível. Eu nunca tive medo de morrer, mas dessa vez, com todo aquele fogo e sem ter por onde fugir, eu pensei que ia morrer", conta.

Este é o segundo incêndio registrado na comunidade este ano. Em fevereiro, cerca de 200 famílias ficaram desabrigadas, mas sem vítimas fatais.

Há apenas dois meses Hercílio Guedes, de 41 anos, tinha reconstruído a casa onde mora com a esposa e três filhos no local. Ele mora há seis anos na comunidade e tinha perdido tudo no incêndio anterior. "Da primeira vez foi um curto circuito. Dessa vez não sei o que houve. Estava dormindo quando me acordaram", conta. "O prefeito não tá fazendo nada pela gente. O que ele queria, conseguiu se reeleger", critica. 

Luiz Wellington Martins,31, pedreiro, também teve sua casa destruída pelo incêndio da outra vez: "na época, a Defesa Civil pegou meus documentos, mas até agora não recebi nenhum auxilio. Dessa vez, eu estava dormindo quando ouvi os gritos do povo 'olha o fogo, olha o fogo' e sai correndo. Agora a nossa preocupação é novamente com o auxilio moradia e o que vamos fazer", comenta.

A doméstica Helena Gimenez, de 43 anos, moradora do local, está preocupada. "Se for para ir ao Caic [Centro de Assistência à Criança e ao Adolescente] eles vão entregar quentinha, um colchão velho, uma cesta básica. Engana os bobos, né? Aí dá o nome e acabou-se. Diz que vai fazer auxílio moradia e nada. Igual aconteceu da outra vez", reclama.