Escola se torna trampolim para sucesso na ginástica

Fundada em 2012, Bello Salto toma a frente em trabalho de formação de atletas e se destaca em torneio nacional

Na Olímpiada do Rio de Janeiro, em 2016, a delegação brasileira de ginástica artística bateu o recorde de medalhas conquistadas em uma única edição, com duas de prata e uma de bronze. Por outro lado, quando olhamos para o cenário pernambucano, a modalidade segue distante dos holofotes de outros esportes olímpicos. A Escola Bello Salto é uma das responsáveis na tentativa de mudar o panorama local e já mostra resultados. Recentemente, a instituição levou dez meninas à Cidade Maravilhosa, para a disputa do Torneio Nacional, e subiu ao pódio mais alto duas vezes. Maria Luiza Freitas, de 14 anos e Valentina Andrade, de 10 anos, conquistaram ouro nas categorias juvenil e pré-infantil, respectivamente.

Responsáveis pela Bello Salto, as irmãs Clarissa e Vanessa Bello Costa foram ginastas profissionais e eram professoras em 2012, ano que decidiram unir a paixão pela modalidade e montar um negócio próprio. Funcionando no Clube Alemão, bairro do Parnamirim, o trabalho chamou a atenção, com 40 inscritas logo nos primeiros meses. Quando Pernambuco estava prestes a fazer dez anos sem entrar no Campeonato Brasileiro, a Escola Bello Salto carregou o Estado de volta a um dos maiores torneios nacionais.

Sem ajuda externa, o principal incentivo para continuar o projeto estava no amor pela ginástica. Enfrentar os obstáculos da falta de investimento já era esperado pelas irmãs. “Aqui a nossa estrutura não é adequada para a criança desenvolver as técnicas mais avançadas. Então a gente consegue desenvolver até certo ponto, até certa idade. Depois, se a criança quiser ser da seleção, ela precisa sair para outro local”, lamentou a professora. Única delegação pernambucana no Rio para o Torneio Nacional, além das conquistas individuais, a equipe trouxe para Recife o troféu de terceiro lugar pelo desempenho geral.

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Atualmente, cerca de 230 garotas frequentam as aulas, dos 4 aos 12 anos. “A partir dos quatro anos, a gente começa de uma forma lúdica introduzindo as crianças aos aparelhos da ginástica. Então é tudo adaptado, elas são muito pequenas e começam a aprender muito do básico. Aos sete elas são inseridas numa parte mais técnica, independente da possibilidade de se tornarem ginastas ou não”, explicou Clarissa. Embora a ideia central do projeto seja apresentar a ginástica para a criança, caso um potencial seja observado, os pais são procurados para ela ser direcionada ao foco mais competitivo. Sem dúvidas, não demorou para as famílias de Maria Luiza e Valentina serem procuradas.

Medalhistas de ouro no Torneio Nacional de Ginástica Artística, as duas admiram Flávia Saraiva, referência na nova geração brasileira. Clarissa classificou a concentração e foco das meninas como elemento determinante na posição alcançada por elas. “Elas treinam em uma dedicação enorme e não tinha como ser diferente ao conquistar um título desses. Realmente não dá pra chegar numa conquista dessa sem ter essa disciplina, então é algo que elas ganham com o tempo e vão levar para o resto da vida delas”, afirmou.

Valentina começou a praticar a modalidade em 2016, quando tinha oito anos. Através de uma amiga, conheceu a Escola Bello Salto e não saiu mais. “Fiquei feliz, não esperava mesmo.” A timidez da pequena ginasta sobre o título no Rio de Janeiro é mascarada depois de ser questionada quanto aos movimentos conhecidos por ela, ao enumerar as dezenas realizadas e colocadas em prática. Com o desejo de seguir na carreira, além do potencial, Valentina também tem a mentalidade de uma atleta: seu maior sonho é disputar uma Olímpiada.

Malu conheceu a ginástica um ano mais cedo. Quando procurou a Escola Bello Salto, não apresentava vagas naquele momento. A vontade de entrar na academia dirigida por Vanessa e Clarissa era tão grande que decidiu se inscrever no vôlei para ver as aulas na quadra ao lado. Quatro anos depois, atingiu o primeiro lugar em um dos maiores campeonatos da modalidade no Brasil. Os elogios ao trabalho das professoras mostram seu agradecimento pelo patamar que chegou. “Elas apoiam muito a gente, ajudam mesmo e acolhem todo mundo bem”, enalteceu. A admiração é tamanha que ela pretende seguir os mesmos passos e ser treinadora no futuro.

O que é desenvolvido na Escola Bello Salto vai além dos títulos em competições nacionais. Trazer uma renovação à ginástica pernambucana e, ao mesmo tempo, contribuir na formação das crianças dentro de um esporte é o que move os esforços de Clarissa e Vanessa. “As meninas precisam ter um domínio muito grande. Desde o início começamos a trabalhar a questão da consciência corporal, porque ela vai ser importantíssima mais pra frente. Então, a criança às vezes acaba se dando bem noutro esporte pela base da ginástica.” disse Clarissa. O sentimento, claro, não poderia ser diferente:.“Pra a gente é gratificante acompanhar esse processo, desde o momento que elas não conseguem fazer os movimentos, aí elas conseguem... é uma alegria muito grande”.