Filme 'Azougue Nazaré' resgata raízes em tom místico

O longa-metragem, dirigido por Tiago Melo, é a nova aposta do cinema pernambucano e traz uma atmosfera de mistério em torno do maracatu rural

"Azougue Nazaré" - Divulgação

Na imensidão verde de um canavial, caboclos de lança espreitam os inimigos, desaparecem num piscar de olhos e atacam. O maracatu rural e seus personagens estão no centro de "Azougue Nazaré", primeiro longa-metragem de ficção do pernambucano Tiago Melo. Depois de passar por diversos festivais nacionais e internacionais, o filme chega às salas de cinema de mais de 20 cidades brasileiras. A sessão de estreia no Recife ocorre no Cinema São Luiz, nesta quinta-feira (14), às 19h, com participação do diretor, parte do elenco e equipe. Logo após a exibição, será realizada uma festa de lançamento na rua da Aurora, aberta ao público e com apresentações de grupos de cultura popular.

A produção foi toda filmada em Nazaré da Mata, na Zona da Mata de Pernambuco, entre 2014 e 2016. Conhecida como a terra do maracatu rural, a cidade é a sede do Cambinda Brasileira, grupo de maracatu mais antigo em atividade no País. Laços afetivos e sanguíneos ligam o diretor do filme ao município, lugar de origem de sua avó materna. "Eu tinha que voltar, achar as minhas raízes e gravar algo lá. A forma como eu me envolvi com a manifestação cultural e as pessoas que participam foi muito intensa", comenta.

No longa, um mistério envolve um ritual praticado por um pai de santo e o aparecimento de caboclos de lança com poderes especiais. Em paralelo à trama sobrenatural, o filme acompanha personagens que têm suas vidas atreladas ao maracatu. Um deles é Catita (Valmir do Coco), que participa da brincadeira escondido da esposa, Darlene (Joana Gatis), evangélica fervorosa.

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O embate entre religiões também entra no caldeirão de temáticas abordadas pelo filme e é personificado através da figura do Pastor Barachinha (Mestre Barachinha). Antigo mestre de maracatu convertido à religião evangélica, ele tenta convencer os demais moradores da cidade a também abandonarem a prática. "A intolerância religiosa sempre foi um problema muito grave no Brasil, mas agora o discurso de ódio está mais forte. Não faço uma crítica à religião evangélica, mas à linha de pensamento de dominação de algumas igrejas neopentecostais", afirma.



A abordagem do diretor busca romper com estereótipos habitualmente atribuídos à cultura popular, colocando seus protagonistas como sujeitos conectados com o mundo atual. Em uma das cenas, por exemplo, os mestres trocam dividem seus versos improvidos via WhatsApp. "É muito bonito como o maracatu segue firme até hoje e evoluindo. Não é uma arte parada no tempo. As gerações novas estão entrando cada vez mais, levando a tecnologia junto com elas", aponta.