Só joguei pedras depois de ser ameaçado': rapper Oruam se posiciona
Cantor foi indiciado pela Polícia Civil por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça e dano
Na tarde desta terça-feira, o rapper Oruam escreveu uma carta à imprensa onde se posiciona sobre a confusão com policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que cercaram sua casa no Joá, Zona Oeste da cidade, nesta madrugada. O caso teve desdobramento com um mandado de prisão preventiva contra o artista. Os agentes estavam no local após descobrirem que um adolescente, acusado de atuar como segurança de um chefe do Comando Vermelho (CV), estava na residência.
Em nota, Oruam disse que se sentiu vítima de abuso de autoridade e que só atirou pedras na polícia depois que foi ameaçado com armas de fogo, incluindo fuzis. E que será capaz de apresentar provas por meio de fotos e vídeos gravados pelo celular. O músico questionou também o fato de a polícia ter entrado na casa dele por volta da meia-noite, fora dos horários de cumprimento de mandados judiciais, entre às 5 e 21h. Ainda acusou a polícia de preconceituosa. Segundo Oruam, os policiais também teriam rasgado e destruído pertences dele e da noiva.
''Apesar da invasão, nenhuma objeção ou suspeita foi encontrada, pois não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes'', escreveu o músico
A polícia, por sua vez, afirma que só entrou na casa após ter sido atacada com pedradas. Momentos antes, havia apreendido um adolescente apontado como segurança de Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos chefes do Comando Vermelho (CV) no Rio, que estaria na residência do artista. De acordo com a polícia, o jovem também é um dos fundadores da Equipe do Ódio, grupo de roubadores da facção. O adolescente conseguiu fugir de dentro da viatura durante a confusão.
Crítica ao secretário da Polícia Civil
Em outro trecho da nota, ele nega ligações com o tráfico e criticou o secretário da Polícia Civil Felipe Cury, por tê-lo acusado nesse sentido.
'''Com que base esse secretário afirma isso após tudo que fizeram na minha casa e não encontraram nada? A lei tem cor e só vale para preto, vocês não estão preparados para pretos no topo (...).
''Meu trabalho como músico vem de uma trajetória de muito esforço e dedicação. Meu dinheiro é obtido através da minha música, que muitas vezes é entre as mais ouvidas no Brasil, e não tenho qualquer relação com atividades ilícitas ou criminosas. Fui vítima de abuso policial''.
Por que foi determinada a prisão preventiva do rapper Oruam?
Segundo o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a prisão do cantor foi decretada pela prática dos crimes de resistência qualificada, desacato, dano, ameaça e lesão corporal.
"Os crimes teriam ocorrido no momento em que uma equipe policial tentava cumprir, na casa do cantor, no bairro do Joá, uma diligência de busca e apreensão de um adolescente, em razão da prática de atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e a crimes patrimoniais, expedida pela Vara da Infância e Juventude da Capital", diz a nota do TJRJ.
O mandado de prisão foi expedido pelo Plantão Judiciário nesta terça-feira.
“Analisando os autos, verifico que, no presente momento, mais adequado se faz a decretação da prisão preventiva (e não da prisão temporária), conforme sugerido pelo Ministério Público, conforme passo a expor. A prisão preventiva encontra respaldo nos artigos 311 a 313 do Código de Processo Penal e se faz pertinente para a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. E os requisitos se fazem presentes, de acordo com os elementos probatórios”, diz um trecho da decisão.
Quem é Oruam?
Oruam é filho de Marcinho VP, um dos chefes históricos do Comando Vermelho, preso desde 1996 e condenado por tráfico e homicídios. A relação com o pai, que já motivou declarações públicas e manifestações nos palcos, é parte central da imagem que o artista construiu. Em 2023, subiu ao palco do Lollapalooza usando uma camiseta com os dizeres “Liberdade para Marcinho VP”. A atitude provocou críticas, às quais ele respondeu dizendo se tratar de um “desabafo de um menor que cresceu sem o pai por perto”. Oruam tem tatuado no corpo também o nome de Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, padrinho do rapper.
Além das polêmicas, Oruam segue no topo do gênero que ajudou a popularizar entre o público jovem. É próximo de artistas como MC Daniel, Orochi, Chefin e MC Cabelinho, e não esconde o estilo de vida que escolheu levar. Diz ter gastado R$ 8 milhões em uma única noite em uma boate na Espanha, e ostenta nas redes um Porsche Carrera 911, um Audi TT RS e um gato da raça Savannah F1, avaliado em até R$ 120 mil. O animal, chamado Malandrex, é cuidado por sua namorada, Fernanda Valença, estudante de veterinária e influenciadora, com quem está há cinco anos.
Em fevereiro deste ano, Oruam foi preso em flagrante por abrigar, em sua casa, um foragido da Justiça. O cantor era alvo de buscas, mas os policiais encontraram em sua residência o traficante Yuri Pereira Gonçalves, que era procurado por envolvimento com organização criminosa. Com ele, foi apreendida uma pistola 9 mm com kit-rajada e munição. O rapper foi liberado horas depois.
Na semana anterior, ele já havia sido preso na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital, após dar um "cavalo de pau" na frente de um carro da Polícia Militar e parar virado para a contramão. Autuado em flagrante por direção perigosa, o rapper pagou uma fiança de R$ 60 mil e foi solto.
Mais recentemente, em junho, Oruam esteve envolvido em outro episódio que gerou polêmica. No dia da soltura do cantor Marlon Brendon Coelho Couto e Silva, o MC Poze do Rodo, ele subiu em um ônibus em meio a uma multidão em frente ao Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.