GAZA

Chefe da ONU critica "falta de compaixão" pelos palestinos em Gaza

"As crianças dizem que querem ir para o paraíso porque, pelo menos, dizem, há comida lá", disse o secretário-geral António Guterres

Crianças e responsáveis aglomerados para receber comida na Faixa de Gaza - Eyad Baba/ AFP

O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou a comunidade internacional nesta sexta-feira (25) por ignorar o sofrimento dos palestinos que morrem de fome na Faixa de Gaza e denunciou uma "crise moral que desafia a consciência global".

"Não consigo explicar o nível de indiferença e inação que vemos em tantos atores na comunidade internacional: a falta de compaixão, a falta de verdade, a falta de humanidade", disse Guterres durante um discurso na assembleia da Anistia Internacional.

"As crianças dizem que querem ir para o paraíso porque, pelo menos, dizem, há comida lá", acrescentou o secretário-geral.

"Esta não é apenas uma crise humanitária. É uma crise moral que desafia a consciência global. Continuaremos a nos manifestar em todas as ocasiões. Mas palavras não alimentam crianças famintas", continuou.

"Nossa equipe heroica continua realizando o seu trabalho em condições inimagináveis. Muitos deles estão tão anestesiados e exaustos que dizem não se sentir nem mortos nem vivos", relatou.

Ele acrescentou: "Temos videochamadas com nossos próprios trabalhadores humanitários, que estão morrendo de fome diante de nossos olhos".

Guterres também denunciou a morte de "mais de 1.000 palestinos enquanto tentavam encontrar comida" desde 27 de maio, quando a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, começou a operar, substituindo o sistema tradicional até então administrado pela ONU.

"Precisamos de ação. Um cessar-fogo imediato e permanente. A libertação imediata e incondicional de todos os reféns. Acesso humanitário imediato e irrestrito", defendeu, assegurando que a ONU está pronta, em caso de cessar-fogo, para aumentar "radicalmente" suas operações humanitárias.

A guerra na Faixa de Gaza eclodiu após o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou uma campanha militar israelense no território palestino governado por esse movimento islamista.