FAMÍLIA

Entenda porque Michelle e Heloísa Bolsonaro foram citadas em relatório da PF

Investigação aponta que ambas foram utilizadas como 'artifícios' para ocultar origem e destino do dinheiro que financia Eduardo Bolsonaro nos EUA

Jair e Michelle Bolsonaro - Marcelo Camargo/Agência Brasil

As esposas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foram citadas no relatório da Polícia Federal (PF), divulgado nessa quarta-feira, que indiciou os políticos por coação no curso do processo e abolição violenta ao Estado Democrático de Direito. Michelle e Heloísa Bolsonaro, respectivamente, receberam de seus cônjuges repasses financeiros que, somados, chegam a R$ 2,2 milhões.

As operações indicam suspeitas de que ambas foram utilizadas como "artifícios para dissimular a origem e o destino" do dinheiro que financia as atividades de Eduardo nos Estados Unidos, conforme a PF. Elas não são investigadas pelas transações.

No relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a corporação aponta que, no dia 4 de junho deste ano, a ex-primeira-dama recebeu uma transferência bancária de Bolsonaro no valor de R$ 2 milhões. O repasse ocorreu um dia antes do ex-presidente prestar depoimento nas investigações sobre a atuação de Eduardo em favor de sanções americanas. Bolsonaro não deu justificativas sobre a operação.

Um dia depois, Heloísa recebeu R$ 150 mil de Eduardo em uma conta brasileira. Pouco antes, em 19 de maio, ela recebeu outros R$ 50 mil do marido. "(Heloísa) acompanha o parlamentar licenciado nos Estados Unidos, o que não justificaria a necessidade de repasse dos valores para a conta bancária no Brasil", diz o relatório.

As operações realizadas por Eduardo ocorreram logo após ele também receber R$ 2 milhões de seu pai para que pudesse se manter nos EUA. "Lá fora tudo é mais caro. Eu tenho dois netos, um de quatro e outro de um ano. Ele está lá fora, eu não quero que ele passe por dificuldade", disse o ex-mandatário à época.

De acordo com a PF, o deputado "utilizou a conta bancária de sua mulher como forma de escamotear os valores encaminhados por seu genitor, utilizando como conta de passagem, com a finalidade de evitar possíveis bloqueios em sua própria conta". Ainda segundo o relatório, o "mesmo 'modus operandi' foi utilizado por Jair".

"Verifica-se que os investigados JAIR BOLSONARO e EDUARDO BOLSONARO utilizaram da mesma estratégia de repasse de valores para suas respectivas companheiras, usando de artifício idêntico, no mesmo período de tempo, em clara demonstração de liame subjetivo para alcance do resultado criminoso pretendido", diz outro trecho. "(As transações) corroboram que os investigados se utilizaram de diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita", completa.

Em julho, Eduardo chegou a criticar um possível bloqueio das contas bancárias de sua esposa, que ficaram inacessíveis. "Minha esposa, Heloísa, que não é política e nem milita nesta área, teve suas contas bancárias bloqueadas sem qualquer justificativa legal. Trata-se provavelmente de mais um ato arbitrário ordenado por Alexandre de Moraes", especulou.

Indiciamento
Jair e Eduardo Bolsonaro foram indiciados pela PF, nesta quarta-feira, por suspeita de articularem sanções do governo de Donald Trump contra ministros da Corte em meio ao julgamento do ex-presidente na ação penal que apura a trama golpista. O inquérito foi aberto em maio, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

A PGR apontou indícios de crimes como obstrução de Justiça e tentativa de abolição do Estado democrático de direito. Com o indiciamento da PF, a PGR vai analisar se há elementos suficientes para apresentar uma denúncia contra eles. Somando os dois tipos penais, a pena pode chegar a 12 anos.

Eduardo está morando nos EUA e tem se articulado junto ao governo norte-americano com o objetivo de apontar que o ex-presidente é alvo de uma perseguição política e pressionar as autoridades brasileiras. Além do "tarifaço" contra produtos brasileiros, usando dentre as justificativas o processo que tramita no Supremo contra Bolsonaro, Trump aplicou sanções contra ministros da Corte, incluindo a sanção de Moraes pela lei Magnitsky.