Educação de jovens e adultos eleva empregabilidade em 7%, indica estudo
Programa complementar para quem não concluiu ensino básico na idade certa também eleva renda em 4,5%, mostra pesquisa feita pela Fundação Roberto Marinho em parceria com o Itaú
Uma nova pesquisa indica que pessoas beneficiadas por programas de educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil têm uma melhora de 7% na empregabilidade e de 4,5% na renda. Os números são o destaque de um estudo realizado pela Fundação Roberto Marinho e em parceria com o Itaú Educação e Trabalho, divulgado nesta quarta-feira (4).
O levantamento se baseou em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O objetivo foi avaliar o impacto econômico e trabalhista do ensino especial voltado a pessoas que não conseguiram completar o ensino básico até os 18 anos de idade.
A melhora na situação de trabalho foi identificada para o período de um ano, dentro de um recorte etário de pessoas dos 19 a 29 anos. O impacto é ainda maior para quem faz EJA antes dos 25 anos. Nesse grupo a taxa de emprego formal aumenta em 9,6%, enquanto a renda mensal aumenta em 7,5%, quando comparadas a pessoas sem ensino básico.
Os dados mostram que, entre as pessoas acompanhadas em períodos de um ano com periodicidade bimestral, o índice de formalização subiu de 42,3% para 49,4% para quem fez EJA. Essa melhora foi identificada considerando indivíduos em diferentes períodos, entre 2014 e 2022.
Segundo os realizadores do trabalho, os números mostram a importância de o poder público investir em programas de EJA, também porque o público alvo dessa modalidade de ensino ainda é enorme no Brasil. O país tem 66,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais fora da escola sem concluir a educação básica. Segundo o Censo Demográfico de 2022, 11,4 milhões delas são analfabetas.
Alcance em baixa
Apesar disso, o alcance da EJA diminuiu no país nas últimas duas décadas. No ano passado, o Brasil teve apenas 2,4 milhões de matrículas, contra 4,9 milhões realizadas em 2008. O número de cidades que ofertam vagas EJA também caiu, e hoje cerca de um quinto dos municípios não tem salas de aula na modalidade. O problema ocorre principalmente em áreas rurais, justamente aquelas que concentram mais populações excluídas da educação básica.
O perfil dos matriculados mostra que a maior parte da população beneficiada pertence a grupos mais vulneráveis da sociedade. Dentre todas as matrículas, 77% são de pessoas negras, 52% são mulheres e 80% ganham menos de 1 salário mínimo.
Avanço econômico
Na opinião Diogo Jamra, gerente de Monitoramento, Avaliação, Articulação e Advocacy do Itaú Educação e Trabalho, além do avanço econômico que a EJA proporciona aos participantes, é preciso levar em conta o benefício humano que essa modalidade de ensino proporciona às pessoas.
— Concluir a educação básica, com os ensinos fundamental e médio, é algo que dá um sentimento de pertencimento e de cidadania à pessoa. A pessoa se descobre enquanto sujeito e se insere no mundo e na sociedade brasileira de outra forma — afirma. — A EJA é uma modalidade fundamental para o Brasil, e na constituição está previsto que todos os brasileiros têm direito a concluir a educação básica. Mas nós temos uma sociedade marcada por uma extrema desigualdade social onde a gente não conseguiu, enquanto país, garantir os direitos constitucionais para todos.
Para Rosalina Soares, superintendente de Conhecimento da Fundação Roberto Marinho, o Brasil carece agora de políticas públicas consistentes e contínuas, em todas as esferas de governo, para garantir que a modalidade cumpra plenamente seu papel. A cobrança sobre o poder público, porém, precisa ser ampliada, porque muitas vezes a própria população que se beneficiaria da EJA não tem estímulo para demandá-la.
— As pessoas que não concluíram a educação na idade considerada própria assimilam esse olhar que a sociedade tem para elas e elas começam a se 'autodemitir' da vida, começam a acreditar nessa narrativa do 'isso não é para mim' — explica. — Elas pensam: 'se eu não estudei até agora, se eu não aprendi até agora, eu não vou conseguir'. Então, isso também faz com que as pessoas não demandem a modalidade.
Para oferecer mais ferramentas a formuladores de políticas em estados, municípios e União, o estudo investigou também os fatores que influenciam o público alvo na probabilidade de matrícula, evasão e conclusão do curso de EJA.
A alta taxa de evasão é um desafio grande, porque muitos gestores públicos a usam como justificativa para cortar investimentos em EJA, apontam os especialistas autores do estudo.
A pesquisa também analisou o perfil dos inscritos no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e quais participantes têm maior probabilidade de obter a certificação.
Considerando apenas os candidatos que compareceram às provas (a abstenção foi de 58%), a taxa de aprovação ficou em 46% em 2023. Ou seja, menos da metade das pessoas que realizam o exame conseguem obter o diploma.
A professora Marinete Pinto Loureiro, que leciona na escola de EJA da Fundação Roberto Marinho no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, afirma que precisa fazer um trabalho de busca ativa por alunos para garantir que os estudantes de sua unidade tenham presença e bom desempenho. A evasão é muito comum, principalmente entre aqueles que precisam trabalhar e são sustento de suas famílias.
— Eu tenho alunos de 17 até 60 anos, e vejo que às vezes eles ficam meio desanimados, mas eu vou até a casa, e falo: 'Eu vim te buscar. O que está acontecendo? Por que você não foi? E eles vão — conta a docente.
Ela própria egressa de um curso de EJA e lecionando aos 60 anos, ela conta que conseguiu completar seus estudos após ter estímulo da família para a qual trabalhava como empregada doméstica.
— A oportunidade me veio nove anos atrás, somente — diz. — Eu falo para os meus alunos que eles têm que conseguir. Eu consegui. Por que eles não vão conseguir?