Impacto social

Dia da Solidariedade: entenda os benefícios de praticar o bem

Dia Internacional da Solidariedade, instituído pela ONU, é celebrado neste sábado (20). Folha de Pernambuco explica como atuar em projetos sociais pode desenvolver autoestima e confiança

Dia Internacional da Solidariedade é celebrado neste sábado (20) - Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

A versão digital do dicionário Michaelis coloca entre as definições da palavra solidariedade a "ligação recíproca entre duas ou mais coisas ou pessoas, que são dependentes entre si". Esse sentimento tão humano e profundo, caracterizado pela empatia e ação, tem uma data especial neste sábado (20), quando é celebrado o Dia Internacional da Solidariedade Humana.

A data, que foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005, tem como objetivo chamar a atenção para a importância de adotar medidas coletivas de combate à pobreza ao redor do planeta.

É importante destacar que esses projetos solidários não mudam apenas a realidade das pessoas que são beneficiadas diretamente. A Folha de Pernambuco traz exemplos de pessoas que criaram ações ou instituições e tiveram as próprias vidas transformadas com a prática da solidariedade.

Impacto positivo
De acordo com a psicóloga clínica, Adriana Barros, o ser humano tem necessidades emocionais importantes como a conexão e o pertencimento. Isso está envolvido numa ideia de que não é possível ser autossuficiente, uma vez que todos precisam uns dos outros.

Neste cenário, o desenvolvimento de ações de solidariedade reforça o sentimento de empatia, que é a habilidade de se colocar e tentar entender a emoção do outro.

"A solidariedade vai trazer para o ser humano essa sensação de estar pertencendo a um propósito. A gente precisa desse propósito para se conectar. Quando a gente faz algo pelo outro, nos sentimos em paz", destacou a especialista com abordagem em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia do Esquema (TE).

A psicóloga reforça que fazer o bem aos outros pode impactar positivamente diversos aspectos da própria vida. Com a participação em projetos sociais, a pessoa tem um ganho na autoestima ao se sentir capaz de realizar as ações. 

“Na hora que eu me sinto fortalecido para ajudar alguém, eu estou fortalecendo essa sensação do meu senso de competência. Então, essa participação traz bem-estar, porque a gente sente que está em dia também com esse lado”, disse. 

Apesar dos benefícios com o desenvolvimento de ações solidárias, a psicóloga Adriana Barros evidencia que não é possível resolver os problemas pessoais focando na resolução do problema do outro.

"Porém, quando eu percebo que é possível fazer, eu começo a gerar atitude. Se eu saio daquele estado letárgico, alimentando tristeza, resolvo gerar comportamento e fazer algo para alguém, eu posso depois voltar para pensar ‘se eu consegui fazer pelo outro, também é importante que eu faça por mim’", completou.

"A solidariedade vai trazer para o ser humano essa sensação de estar pertencendo a um propósito", destacou a psicóloga Adriana Barros.

Exemplo de ações 
Pároco da Igreja Madre de Deus, na área central do Recife, o padre Damião Silva usa sua influência há 11 anos para realizar a campanha solidária “Natal Sertanejo”. O projeto promove a doação de alimentos para organizar cestas básicas que são destinadas a famílias em situação de vulnerabilidade dos sertões de Pernambuco e da Paraíba.

Neste ano, foram arrecadadas mais de 100 toneladas de alimentos. A campanha conta com o apoio de voluntários, lideranças locais e paróquias, garantindo a entrega nos municípios de Bodocó, Exu, Timorante e Cedro (Pernambuco), além de Coremas, na Paraíba. 

"A motivação nasceu do descontentamento diante da fome real vivida por tantas famílias do sertão, especialmente no período do Natal, quando o discurso de fraternidade contrasta com a dura realidade da escassez. Como sacerdote, sempre entendi que a fé precisa se traduzir em gestos concretos", explicou o padre.

Segundo o pároco da Igreja Madre de Deus, a solidariedade transformou profundamente sua vida e a maneira de enxergar o mundo. Frei Damião Silva ressalta que pessoas com capacidade, influência ou recursos devem se envolver em projetos solidários. 

"Toda habilidade pode e deve ser colocada a serviço do bem comum. Quando alguém se envolve, seja idealizando ou sendo voluntário, não apenas ajuda quem recebe, mas também transforma a sociedade e a si mesmo. A solidariedade gera consciência social, promove justiça e constrói uma cultura do cuidado”.

Padre Damião Silva valoriza ações solidárias. Foto: Júnior Soares/ArquivoFolha de Pernambuco.

Já o Aria Social, fundado e presidido pela bailarina Cecília Brennand, tem impacto ao longo do ano combinando arte com transformação social. O projeto teve início nos anos 1990 como uma escola de dança e arte, mas se tornou, em 2004, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).

Atualmente, mais de 500 crianças, a partir dos seis anos de idade, recebem aulas de dança, língua portuguesa, música, teatro e palavras. Além disso, as crianças passam pela formação artística. O espaço oferece ensinamentos de fios de crochê, tramas de macramê e tecelagens em jornal para mulheres através do Projeto Casa de Maria. 

"Nós usamos a arte como meio para a transformação humana. Temos esse poder de autoconhecimento e a gente lapida os talentos, porque eles sempre estão presentes. Além disso, estimulamos o estudo para ver o que eles querem para a vida deles", afirmou Cecília Brennand.

A fundadora do Aria Social valoriza que o projeto é necessário por conta da desigualdade na sociedade. "Vemos o potencial que nossos alunos têm. Só é questão de dar oportunidade, porque eles voam".

Cecília Brennand uniu a paixão pela arte com o desejo de transformar vidas. Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco 

Fundador e CEO da Rede Muda Mundo (RMM), Fábio Silva tem uma trajetória de mais de dez anos desenvolvendo projetos de impacto. A atuação do empreendedor social começou em 2011, quando ocorreram as enchentes em Barreiros e Palmares, na Mata Sul de Pernambuco. 

De um início voltado ao assistencialismo em situações emergenciais, Fábio Silva conseguiu desenvolver ações estruturantes ao longo dos anos com a Casa Zero, Porto Social, Transforma Brasil, Novo Jeito e Fábrica do Bem. 

Fábio Silva, fundador e CEO da Rede Muda Mundo, desenvolve projetos de capacitação. Foto: Caio Alencastro/Divulgação.

De acordo com o empreendedor social, o primeiro impulso que aparece para quem decide atuar no ramo da solidariedade é interno. 

"Eu acredito que quem se envolve com a pauta da solidariedade e da generosidade estava sentindo algo dentro de si. Uma falta. Estava gastando toda sua energia num problema muito grande ou no exterior, até que, num belo dia, esbarrou com uma causa e se tornou um estilo de vida", relembrou.

Com vivência na área, Fábio observa que a atuação do voluntariado muda o estilo de vida de uma pessoa. Ele faz uma autoavaliação de que evoluiu em todas as áreas da vida. 

“O voluntariado mudou meu estilo de viver, de comprar, de consumir, até de criar minhas duas filhas. Eu sou um pai e um marido melhor por conta que eu passei a ter uma pauta de justiça, que não é só minha. É uma pauta coletiva. Também percebo que isso me deu habilidades de liderança na escassez, porque o que a gente faz não tem tanto recurso disponível. Me melhorou como profissional, como cidadão, melhorou ainda mais quando eu vejo as pessoas sendo inspiradas por aquilo que a gente faz”, relevou.