Anti-heroína da HQ "Nimona" questiona o papel do vilão e dos rótulos

História começa quando conhecemos o notório Lorde Ballister Coração-Negro, um vilão preocupado com o bem do povo

Nimona - Reprodução

Nimona é baixinha, gordinha, com parte do cabelo ruivo e rosado raspado. Quer dizer, na maior parte do tempo. Outras vezes é um dragão, um tubarão ou até um rato — gosta de exibir seus poderes de metamorfose. É teimosa, valente e não aceita ser tratada como criança. Desafia o ordinário e as convenções sociais: é uma anti-heroína fascinante, cheia de um espírito jovem e independente. Ela é a personagem principal da divertida história em quadrinhos que leva seu nome como título. Escrita e desenhada pela norte-americana Noelle Stevenson, “Nimona” conta com publicação nacional pela editora Intrínseca.

A história começa quando conhecemos o notório Lorde Ballister Coração-Negro, um vilão preocupado com o bem do povo e que evita, a todo custo, exercer o mal. Sua vida de fazer o papel de vilão contra seu arqui-inimigo e ex-companheiro, Sir Ambrosius Ouropelvis, segue como sempre foi até a chegada de Nimona, sua nova assistente, uma metamorfa espertinha com um passado misterioso e ansiosa para fazer confusão. Juntos, Ballister e Nimona começam, aos poucos, a entender os esquemas maléficos por trás da poderosa Instituição, corporação que supervisiona o reino.

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O interessante de “Nimona” é que a HQ desafia as regras de forma irreverente e subversiva. Afinal, como indaga a própria personagem, “ser vilão não é justamente ir contra as regras?”. E tanto “Nimona” quanto Nimona, sem aspas, fazem isso: é uma narrativa sobre quem decide seu lugar no mundo; sobre ser mais do que o rótulo imposto sobre sua cabeça. Coração-Negro não deseja ser um vilão (é tanto que claramente não o é), mas essa lhe foi a designação dada por um poder maior.

É só quando conhece uma garota travessa disposta a reverter toda a ordem do mundo que o pseudo-vilão percebe que talvez haja algo além daquela narrativa pré-definida. E é um caminho de mão-dupla: a metamorfa aprende, com seu novo chefe, que não está sozinha, que nem todas as pessoas querem prendê-la como um monstro e realizar testes em seu corpo. Os dois são uma equipe leal um ao outro.

É difícil imaginar “Nimona” sem ser HQ, justamente porque a força da história está não só na narrativa, mas em seus desenhos. Noelle, a autora, faz um excelente trabalho explorando os personagens e dividindo os quadrinhos de forma que a leitura visual seja fácil e, ao mesmo tempo, interessante. Ela brinca com o real e o irreal de forma divertida, e os desenhos se entrelaçam com os diálogos sarcásticos, espertos e divertidos. É uma leitura leve e cheia de significados.