Crítica: Série nacional '3%', da Netflix, falha em sua missão

Segunda temporada da série, já disponível na plataforma de streaming, deixa a desejar ao não explorar questão dos episódios anteriores

Joana (Vaneza Oliveira) é uma dos jovens que batalham por seu próprio lugar - Divulgação/Netflix

Não é mais surpresa para ninguém como "3%", a primeira série brasileira da plataforma de streaming Netflix, ganhou o mundo. Como é de praxe, o sucesso da primeira temporada levou à renovação da série, que se viu alvo do tradicional “ame ou odeie” entre os brasileiros. Opiniões à parte, aqueles que continuam curiosos para saber mais sobre a distopia nacional podem conferir a segunda leva, com dez episódios inéditos, já disponíveis na própria Netflix.

A base da série “3%” é o Processo, seleção em que jovens batalham para conquistar seu lugar no utópico Maralto, um completo oposto da realidade pobre e miserável que presenciam no Continente. Depois de uma temporada toda focada no Processo, na qual conhecemos personagens como Michele (Bianca Comparato), Joana (Vaneza Oliveira), Fernando (Michel Gomes) e Rafael (Rodolfo Valente), a segunda parte da série tinha uma promessa clara: explorar mais o Maralto, lugar visto apenas superficialmente, e a sociedade fictícia no geral.

“3%” falha nessa missão. Se antes a história tinha um foco, agora os roteiristas parecem presos ao que já passou: a narrativa acaba não escolhendo um rumo e bate nas mesmas teclas da temporada passada. Chega, inclusive, ao extremo de trazer personagens que foram dados como mortos. E aí nem os velhos, nem os novos personagens secundários se salvam: são escritos superficialmente e tornados desinteressantes.

Leia também:
'La Casa de Papel' é a série de língua não inglesa mais vista da história da Netflix
Steven Spielberg produzirá série para a Amazon
Adaptação da série 'Riverdale' resulta em enredo soturno


Alucinações e lembranças são recursos recorrentes na temporada da série, o que confunde a linha narrativa e contribui para a impressão da história não andar. Elementos como a devoção da população ao Casal Fundador, a fé que colocam no Processo e como vivem culturalmente no Continente ou no Maralto, que se mostram cheios de nuances e possibilidades de exploração, não são desenvolvidos. Isso impede que a produção se aprofunde e crie um universo palpável e autêntico.

Ao fim da temporada, quando a história parece de fato engrenar, é destaque a interação entre os personagens Fernando, Rafael, Joana e Michele. Apesar de a última ser a mais morna, o grupo possui uma química interessante que floresce nas horas finais. Destaque também para o “Trisal” Fundador, composto pelas globais Fernanda Vasconcellos e Maria Flor, ao lado de Silvio Guindane, que compõem um background provocativo para a construção do Maralto e a degradação do Continente.

Estética

Diferenças na produção da série são latentes: a fotografia, bastante criticada na primeira temporada, é agora mais uniforme e agradável. Figurinos e efeitos especiais também foram aprimorados na medida do possível, principalmente quando se trata da tecnologia apresentada pelo Maralto. A estética visual procurou diferenciar, também, o Maralto e o Continente com cores mais vibrantes para o primeiro e aspectos mais terrosos para o segundo. Escolha acertada que aposta na intuitiva diferença entre os dois locais.