Carroceiros: Prefeitura do Recife fará novo cadastro ainda este ano
Circulação de veículos de tração animal na cidade será proibida a partir de 31 de janeiro de 2026
Um novo cadastro de carroceiros que atuam nas ruas do Recife será aberto pela prefeitura da cidade ainda este ano.
"Fizemos um primeiro cadastramento em junho e reabriremos outro cadastro ainda este ano", afirmou o secretário de Planejamento e Gestão do município, Jorge Vieira.
Segundo o secretário, o cadastro tem como objetivo identificar e apoiar os carroceiros no processo de transição de ocupação que vão fazer.
"Cada cavalo é microchipado para identificação e as carroças são adesivadas", completou. O plano da prefeitura prevê pagamento de indenização de R$ 1,2 mil por cada cavalo e carroça entregues.
Em 31 de janeiro de 2026, a circulação de veículos de tração animal no Recife será totalmente proibida. É o que estabelece a lei municipal número 17.918/2013.
Em reação à proibição, carroceiros realizaram diversos protestos no Recife e em Olinda na segunda-feira (18). Eles bloquearam avenidas, atearam fogo em objetos e protestaram contra a lei.
O Programa Gradual de Retirada de Animais de Veículos de Tração Animal da Prefeitura do Recife inclui:
- Pagamento de indenização de R$ 1,2 mil por cada cavalo e cada carroça;
- Acesso a uma rede de qualificação profissional e apoio ao empreendedorismo por meio do CredPop;
- Encaminhamento e assistência a vagas de emprego pelo GO Recife;
- Disponibilização de vagas para compor a equipe de limpeza urbana da Emlurb;
- Disponibilização de veículo alternativo.
"O Recife não comporta esse transporte. Não é bom para os cavalos. Não é bom para a mobilidade. A gente entende que o mundo de hoje não tem mais lugar para esse tipo de transporte, mas entendemos também que, ao retirá-los das ruas, a gente está retirando também a ocupação de algumas famílias, o meio de vida de algumas pessoas. Por isso, criamos o plano integrado", explicou o secretário Jorge Vieira.
Carroceiros dizem que lei é "injusta"
Liderança dos carroceiros, Marcos Batista, conhecido como Neno, diz que a categoria cobra a revisão da lei, alegando que é "injusta".
"A gente pediu [aos vereadores do Recife, em reunião na segunda-feira] para que faça uma ponte com a prefeitura e que seja revista essa lei. É uma lei totalmente inconstitucional, uma lei injusta. Tanto com a gente quanto com os animais. O que é que vai acontecer? Quem vai sofrer com isso? Os carroceiros? Mas os animais também", reclamou Neno.
"Tem cavalo aqui que se tomarem da gente eles vão morrer. Pode tratar, pode dar o melhor trato do mundo, mas tem cavalo aqui que se tirar da mão da gente ele vai morrer, por falta do dono", completou.
A categoria, inclusive, não descartou a organização de novos protestos como os da segunda-feira.
Vereadores: projeto em tramitação
Em resposta, após receber a comissão de carroceiros, o presidente da Câmara do Recife, o vereador Romerinho Jatobá, disse que carroceiros levaram para discussão sugestões e reivindicações diferentes do que apresenta o projeto, que é a proibição da circulação.
"A gente vai tentar intermediar da maneira que pode, para ver se apresenta alguma sugestão que possa melhorar um pouco o projeto. Mas hoje a gente entende que há uma dificuldade muito grande porque o que eles querem é completamente diferente do que o projeto apresenta", pontuou o presidente da Câmara, dizendo que se colocou à disposição para intermediar uma conversa com o Poder Executivo.
De acordo com a Câmara, o projeto para pagamentos de indenizações aos proprietários dos veículos e de animais está em fase de emendas e tramita em quatro comissões: Legislação e Justiça; Acessibilidade e Mobilidade Urbana; Finanças e Orçamento; e Saúde.
Causa animal critica: "Futuro não tem espaço para carroças"
Representantes da causa animal no Recife repudiaram os protestos. Eles afirmaram que os manifestantes "causaram transtornos à população e expuseram animais ao sofrimento nas ruas da cidade". Também reclamaram da falta de disposição dos líderes da categoria em buscar soluções reais para os trabalhadores e em respeitar os animais.
"Enquanto em outros estados houve colaboração para garantir uma transição digna, no Recife optaram pela desinformação, pela criação de conflitos e pela insistência em manter uma prática marcada pelo sofrimento animal e pelo atraso urbano, sem sequer considerar as alternativas apontadas pela Prefeitura do Recife ou apontar outras em benefício dos próprios carroceiros".
Além do repúdio, o movimento ainda pediu a responsabilização e prisão dos líderes da categoria.
"Repudiamos qualquer ato que prejudique a população recifense, atrapalhe o trânsito e submeta cavalos e outros animais à exaustão, fumaça e violência, e apelamos, mais uma vez, ao governo do estado, que coopere com o restabelecimento da ordem, através de suas forças policiais e a responsabilização e prisão dos líderes da categoria, que incitam repetidamente a onda de vandalismo e ataques aos animais e aos recifenses"
"Recife já fez sua escolha: o futuro não tem espaço para carroças, e isto é inegociável", afirmaram os representantes.