CHUVAS EM PERNAMBUCO

Está chovendo mais em Pernambuco? Saiba explicação da Apac para índices acima da média

Agosto teve várias cidades do estado com volumes de chuva acima da média climatológica. Em setembro, índices também já foram superados em alguns municípios

Segundo a Apac, está mesmo chovendo mais em Pernambuco - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

O calendário se aproxima do fim da primeira metade de setembro e do começo da primavera, mas ainda é preciso esperar um pouco mais para tirar o guarda-chuva da bolsa, embora o período conhecido como quadra chuvosa, a época do ano com maior concentração de precipitação na Região Metropolitana do Recife (RMR), Zona da Mata e Agreste, tenha se encerrado em julho.

E o que se ouve falar nas ruas é comprovado com dados da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac): choveu mais no estado nas últimas semanas. 

Algumas cidades registraram volumes significativamente acima da média climatológica. O aumento nas chuvas foi observado em agosto em vários municípios de todas as regiões pernambucanas. O começo de setembro também tem índices maiores. 

De acordo com o meteorologista da Apac Romilson Ferreira, o aumento nas chuvas, que tem chamado atenção, está relacionado à ocorrência de resquícios de frente fria no estado, especialmente no interior, e à intensidade e direção dos ventos.

"Tivemos, entre agosto e setembro, resquícios da passagem de frentes frias, que não chegam aqui assim, mas deixam resquícios e instabilidades na atmosfera. Isso aconteceu em agosto e agora no começo de setembro ainda teve uma chuva significativa. Os ventos estão um pouco mais intensos, ventos úmidos principalmente. Os ventos estão mais predominantemente de sudeste e favorecendo a chuva, principalmente entre a Mata Sul, Agreste Meridional e uma parte do Sertão", explicou o meteorologista, dizendo, ainda, que as chuvas estão constantes, apesar de pouco volumosas.

Na terça-feira passada (2), por exemplo, a Apac chegou a registrar uma rajada de vento de 52 km/h na estação Aeroporto, na Zona Sul do Recife, bem acima da média de 12 km/h de setembro. Em Olinda, a agência anotou 42 km/h na estação Espaço Ciência. 

Romilson também explica que a presença de canais de umidade na região contribuíram para as chuvas. Esse fenômeno meteorológico costuma favorecer a formação de nuvens e chuvas intensas e persistentes e levou a Apac a emitir alguns alertas no mês passado e neste.

"Estamos tendo mais chuvas persistentes, que duram dois ou três dias, do que volumes altos de chuvas", acrescentou Romilson Ferreira, que também afirmou que a Apac esperava ao menos chuvas dentro da média no estado no mês de agosto.

Sobre uma possível relação dessas chuvas acima da média com as mudanças climáticas, o meteorologista afirmou que é prematuro cravar qualquer ligação com o aquecimento global, pois o comportamento das chuvas é muito sazonal e dinâmico, dependendo de condições de grande escala como o oceano e a atmosfera.

Chuvas acima da média em agosto
Em agosto, várias cidades da Região Metropolitana do Recife registraram volumes de chuvas maiores do que os esperados para o mês, segundo a média climatológica. 

Igarassu, por exemplo, apresentou um desvio de 177%. Para o mês eram esperados 131,1 mm, mas choveu 363,1 mm, o maior acumulado na região. O índice foi registrado na estação convencional da Apac. 

Em Abreu e Lima choveu 142% do volume esperado para agosto. A média climatológica indicava 139 mm, e a cidade registrou 336 mm na estação convencional da Apac.

Em São Lourenço da Mata, a Apac contabilizou 124,2% a mais do que o esperado. Na cidade choveu 229,6 mm na estação Corpo de Bombeiros, enquanto a média apontava 102,4 mm.

Outras cidades da Região Metropolitana também observaram mais chuvas do que o esperado, como Araçoiaba (182,7 mm de chuvas ante 88,8 mm da média, desvio de 105,7%) e o Cabo de Santo Agostinho (333 mm de chuvas ante 165,5 mm de média, desvio de 101,2%). 

Em Olinda, na estação de Jardim Fragoso, a Apac contabilizou 315,77 mm de chuva, desvio de 103,3% em relação à média de 155,3 mm.

No Recife, o maior desvio foi observado na estação Nova Descoberta, na Zona Norte, com 42,2% a mais de chuvas. A média indicava 166,4 mm, e a medição alcançou 236,7 mm.

A média climatológica é o cálculo feito para identificar como o clima se comporta em determinado período de tempo. No caso das médias mensais de chuva, por exemplo, a Apac usa dados dos últimos 30 anos para chegar ao valor dito como médio. 


Na Zona da Mata pernambucana, também houve registro de mais chuvas em diversas cidades. Em Barreiros, a estação com maior acumulado foi a instalada no Hospital Municipal: 468,7 mm, 152,8% a mais do que os 185,4 mm esperados.

Em Tamandaré foi observado o maior desvio, de 172,4%. Na cidade, a Apac contabilizou na estação convencional um acumulado de 388,2 mm, enquanto eram esperados 142,5 mm.

Diversas cidades do Agreste fecharam agosto com muito mais chuva do que o esperado. Em Bonito, a estação Mata da Chuva alcançou 425,1% de desvio: choveu 546,1 mm, mas a média era de 104 mm.

Em Santa Cruz do Capibaribe, o desvio chegou a 376,66%: de 25,6 mm esperados para 122 mm registrados. Em Tupanatinga, 263,6% de desvio: de 50,5 mm de média climatológica para 183,6 mm acumulados em agosto.

Em Carnaíba, no Sertão, eram esperados apenas 2,2 mm em agosto, mas choveu 39,7 mm, desvio de 1.704,5% — proporcionalmente, o maior de todo o estado.

Em Brejinho, o acumulado de 104,1 mm superou em 622,9% os 14,4 mm esperados.  

Confira todos os índices registrados pela Apac em agosto:

Setembro começa mais chuvoso em algumas cidades
Nos primeiros oito dias de setembro, as médias de chuvas, segundo a normal climatológica, já foram superadas em algumas cidades do estado.

É o caso, por exemplo, de Araçoiaba (10,2%), Ipojuca (13%) e São Lourenço da Mata (32,1%), na RMR. Na Zona da Mata, de Belém de Maria (15,3%) e Vitória de Santo Antão (10,6%). E no Agreste, de Bonito (164,2%) e Buíque (119,1%).

>> Veja aqui os índices de setembro atualizados com dados até dia 8

Informe da Apac para o trimestre setembro-outubro-novembro de 2025 indica previsão de acumulado de chuva de normal a abaixo da normal climatológica em todo o estado. O trimestre é considerado um período seco pela agência, com baixos valores de precipitação, temperaturas elevadas e umidades relativa do ar muito baixas, principalmente nas regiões do Sertão e Agreste.

Em setembro, especificamente, são esperados, em média, 100,4 mm na RMR, 60,2 mm na Zona da Mata, 33,0 mm no Agreste e 7,1 mm no Sertão. 

De acordo com a Apac, modelos climáticos indicam aquecimento do Oceano Atlântico na região tropical sul, na costa do Nordeste. 

"A tendência é que a partir de setembro a gente tenha realmente a redução de chuvas e que volte a ficar um pouco mais seco, mas, pelo menos até agora na primeira quizena, a gente deve continuar ainda com alguma chuvinha significativa", completou Romilson Ferreira.

Enquanto isso, é importante manter o guarda-chuva na bolsa. "Pelo menos umas duas semanas, para realmente ter mais sol", finalizou o meteorologista.