Cida Pedrosa relança o livro de poemas sobre o universo feminino "As filhas de Lilith"
Nova edição será autografada nesta terça-feira (18), com recital no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães
Não é fácil encontrar uma edição de "As filhas de Lilith". O livro de Cida Pedrosa, lançado originalmente em 2009, tornou-se objeto raro. "Esgotou no primeiro ano. Teve uma tiragem de 1,5 mil exemplares, vendeu tudo em menos de um ano. Foi muito rápido, virou uma lenda. Todo mundo queria", lembra a poeta pernambucana. "Outro dia, vi um exemplar da primeira edição por R$ 500 na Estante Virtual. Então existia uma carência do livro. Aí pensei em reeditar", diz Cida.
A segunda edição do livro, que assim como a primeira tem ilustrações de Tereza Costa Rêgo e design de Jaíne Cintra, será lançada nesta quarta-feira (19), no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam), a partir das 18h.
Na ocasião, está programado um recital com Mariane Bigio, Renata Santana, Silvana Menezes e Susana Morais, além da exibição em DVD do projeto "Olhares de Lilith", coordenado pelas cineastas Tuca Siqueira e Alice Gouveia, com 26 curtas-metragens feitos por 25 realizadoras a partir dos poemas de Cida.
Gênero, sexo e identidade
O livro é composto por 26 poemas, um para cada letra do alfabeto, cada um protagonizado por uma mulher, de A a Z. Nos textos, Cida explora questões de gênero, sexo, identidade, dramas da intimidade, políticas emocionais do cotidiano. "Tenho personalidade libertária. Desde menina tenho a necessidade de liberdade", explica Cida. "Acho que a opressão para nós mulheres é grande demais. Muias coisas ainda nos oprimem. Por mais que a gente lute, está lá a opressão patriarcal e de classe", opina.
Os poemas nasceram de percepções sobre injustiças cotidianas. "Dez anos atrás existia o crime de adultério. Se você ficasse com outro homem era um crime e você perdia o filho", diz Cida.
"Meu primeiro texto foi sobre masturbação, quando tinha 15 ou 16 anos, e isso já estava lá, já me incomodava, desde sempre. Nasci no interior, com pai machista e mãe machista. O livro continua incomodando, e é uma tristeza, porque se essas questões femininas já tivessem sido resolvidas, 'Lilith' seria um livro obsoleto, mas não é", ressalta.
Homenagens
Entre as 26 personagens, estão três mulheres baseadas em personalidades reais. "Um dos poemas era muito forte, sobre o corte do clitóris de mulheres. A minha personagem Khady fala sobre isso. Mas eu não conseguia escrever. Essa coisa de 'fecha as pernas', 'não assuma sua sexualidade', isso me incomodava muito. São temas universais. Khady é uma personagem que existe, foi uma modelo que denunciou o corte do clitóris das mulheres da Etiópia. O poema é uma homenagem para ela", revela.
Outras homenagens reais são a Juanita, uma das mães da Praça de Maio - mulheres que se reúnem na Praça de Maio, em Buenos Aires, querendo informações sobre seus filhos, desaparecidos durante a ditadura militar -, e Sihem.
"Ela foi a primeira ou segunda mulher bomba. Nem na morte somos tratadas igual aos homens. Os homens que fazem isso têm 40 virgens esperando quando morrem. Quando a mulher morre, não é esperada por ninguém", argumenta. "O resto dos personagens são ficções, mas todas têm pedaços de mim", ressalta.
Cinema
Os poemas de Cida foram transformados imagens. "Tuca Siqueira e Alice Gouveia toparam apresentar o projeto no Funcultura e acabou passando", lembra Cida. "Era pouco dinheiro. A ideia inicial era elas mesmas fazerem e chamar apenas três ou quatro diretoras. Quando chamaram as outras, discutiram e convocaram mais. Disseram que só tinham R$ 2 mil para cada, mas a mulherada topou, e tem coisas lindas", diz a autora.
A adaptação ressalta o potencial político e emocional das palavras da autora. "Me sinto uma sortuda, agraciada pelos deuses. As cineastas se debruçaram para fazer filmes e alguns são muito melhores do que os poemas. 'Eliza', de Alice, é um poema, uma porrada", opina. "Esse projeto serviu de mapeamento para o cinema feminino em Pernambuco. Quando dei o livro para elas, deixou de ser meu, pedi para elas fazerem o que quisessem", ressalta.
Serviço
Lançamento de "As filhas de Lilith"
Edições Claranan, 72 páginas, R$ 35
Quando: Nesta quarta-feira (19), às 18h
Onde: Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (rua da Aurora, 265, Boa Vista)

