Ministério da Saúde adota nova estratégia de combate à hepatite A após aumento da transmissão sexual
Pasta vai reforçar vacinação especialmente entre usuários da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicamento usado como prevenção ao HIV
Uma análise dos surtos de hepatite A no país nos últimos anos fez com que o Ministério da Saúde passasse a adotar uma nova estratégia para combater a doença. A pasta decidiu ampliar a vacinação entre homens adultos e associar a aplicação das doses à retirada da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) em unidades de saúde. O medicamento é associado à prevenção do HIV.
O motivo é que, segundo a pasta, houve uma mudança no perfil de transmissão da hepatite A, que passou a ser relacionada a práticas sexuais que incluem o contato com a boca e com o ânus. Além disso, os casos têm sido concentrados em pessoas acima de 20 anos, especialmente entre homens.
Em 2023, dos 2.080 casos registrados, 1.877 foram em pessoas dessa faixa etária, dos quais 69,5% dos infectados eram homens. Em 2024, o Ministério da Saúde identificou novo surto em Curitiba, com 315 casos, resultando em 5 óbitos.
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Há, ainda, registros de surtos em 2017, na cidade de São Paulo, com 786 diagnósticos, dos quais 41% com evidência de transmissão associado a práticas sexuais, e duas mortes confirmadas. No ano seguinte, em 2018, forma mais de 500 casos registrados, dos quais 36% tinham relação com a prática sexual. Naquele ano, três pessoas morreram em decorrência da doença.
Nas três circunstâncias o perfil mais atingido tinha características semelhantes, com registros principalmente no sexo masculino, com idade entre 18 e 39 anos e afetando pessoas que se autodeclararam homens que fazem sexo com homens. Os três surtos foram controlados com ajuda de ações específicas de vacinação.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressalta que os surtos entre adultos têm um impacto significativo na gravidade da doença. Diante desse cenário, a decisão da pasta foi intensificar a vacinação entre os adultos.
— Na medida em que se começa a ter quadros de hepatite A em adultos, com quadros mais graves, isso significa internações duradouras, possibilidade de necessidade de transplantes, de cuidados intensivos na UTI. Então, colocar a vacina para esse público busca não só proteger, mas evitar os casos graves e trazer um custo-benefício para o SUS.
A meta da pasta é vacinar 80% de todos os usuários da PrEP, que totalizam mais de 120 mil pessoas hoje no Brasil. A imunização será feita em duas doses, com intervalo de seis meses. A primeira dose é suficiente para controlar os surtos e a segunda para garantir uma proteção mais duradoura.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) identifica relatos de aumento no número de casos relacionados a práticas sexuais desde 2016, mesmo em países com baixa endemicidade da doença. A recomendação do organismo internacional é usar a vacinação como estratégia de prevenção.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, afirma considerar estratégico vacinar usuário da PrEP pelo fato de, em geral, ser um público mais vulnerável pela prática sexual sem proteção.
— É claro que isso não diz respeito a 100% da população que faz sexo anal nem a todos os usuários da PrEP, mas no geral é uma população que sabidamente é mais vulnerável, com maior exposição. Se tem risco de se contaminar com HIV, tem o mesmo risco de se contaminar com Hepatite A — disse ele.
O médico destaca ainda que a característica de transmissão da doença — fecal oral — justifica o aumento de casos transmitidos sexualmente.
Vacinação de crianças
Em 2014, o Ministério da Saúde incluiu no SUS a vacinação contra hepatite A para crianças, resultando em uma queda expressiva no número de casos: em 2013 foram 6.261 casos, passando para 437 em 2021 considerando todas as faixas etárias. Em 2023, os números de casos voltaram a subir em razão da exposição de adultos à doença.
Atualmente, a dose única contra a hepatite A faz parte do calendário infantil no SUS com indicação para ser aplicada aos 15 meses de idade, podendo ocorrer entre os 12 meses até os 5 anos incompletos.
— Antes, a maior parte dos casos acontecia na idade infantil envolvendo hábitos de higiene, saneamento básico, o contato escolar e eles acabavam tendo o maior risco. A partir do momento que se protege essa população, houve a concentração importante entre os adultos — destaca Padilha.
O que é a hepatite A?
As hepatites virais são infecções que atingem o fígado causadas pelos vírus A, B, C, D e E. No Brasil, a grande maioria dos casos é associada aos tipos A, B e C.
Quais são os sintomas da hepatite A?
Segundo o Ministério da Saúde, as contaminações costumam ser silenciosas, mas quando se manifestam causam cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras. Em casos mais graves, pode demandar um transplante do órgão e, quando não tratada, a hepatite vira um fator de risco para desenvolvimento de câncer de fígado e cirrose.
Como a hepatite A é transmitida?
No caso da hepatite A, a transmissão ocorre por via fecal-oral (contato de fezes com a boca). Por isso, tem alta relação com as condições de saneamento básico, qualidade da água e higiene pessoal e de alimentos. O vírus também pode ser disseminado em relações sexuais por meio do sexo anal, que propicia o contato do ânus com a boca.
Quem pode se vacinar contra a hepatite A?
Atualmente, a dose única faz parte do calendário infantil com indicação para ser aplicada aos 15 meses de idade, podendo ocorrer entre os 12 meses até os 5 anos incompletos. Nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), determinados adultos considerados de maior risco para doença grave também podem receber a vacina, que é administrada no esquema de 2 doses, com intervalo mínimo de 6 meses entre elas.

