Sáb, 06 de Dezembro

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Vamos fazer uma canjica?

Canjica e comidas de milho no São JoãoCanjica e comidas de milho no São João - Greg

Canjica é, de todas as receitas juninas, aquela que mais gosto. Uma das mais trabalhosas, também. Só para lembrar, a canjica nordestina (a ela me refiro, claro) é, no Sul, conhecida por curau. Vem de acanjic (em tupi “grão cozido”), que escravos melhoraram com o acréscimo de leite de coco, sal, açúcar, manteiga. Com os portugueses, aprenderam os escravos a decorar o prato com desenhos de canela. Da mesma maneira que decoravam o arroz-doce. Dita canjica, para os do sul, é o que no Nordeste conhecemos por Mungunzá – servido, na tradição religiosa africana, às pessoas que compareciam aos velórios. Uma espécie de sopa doce que aqui passou a ser feita com milho branco, cozido em água e leite de coco, temperado com açúcar, erva- doce, canela ou cravo.

Mas voltemos à receita da tal canjica. Antes de tudo, é necessário tempo (muito) e paciência (muita). Tudo começa com a escolha certa do milho. Não pode ser muito verde, nem muito maduro – que isso interferirá na consistência final. Escolha 20 espigas. Retire casca e cabelos (estigmas), também. Guarde esse cabelo pra fazer chá – posto ser excelente diurético. Separe os caroços do sabugo usando faca bem amolada. Mas, atenção, não corte nem muito perto do sabugo (que isso dará à sua canjica um gosto de sabão), nem muito longe. Separe os grãos e reserve.

Escolha seis cocos secos. Deles, extraia o “leite de coco grosso” e o “leite de coco fino”. Para o leite grosso – quebre o coco ao meio. Escorra a água. Com a ponta de uma faca, solte o  coco da casca. Descasque os pedaços de coco, retirando sua pele grossa e escura. Rale o coco. Coloque a polpa ralada no liquidificador, com bem pouca água. Triture, peneire e coe. Para o leite fino – coloque no liquidificador, com bem pouca água, o bagaço do coco (já anteriormente usado para retirar o leite de coco grosso). Triture, peneire e coe. Reserve.

Coloque, no liquidificador, os grãos de milho e o leite de coco fino. Misture bem. Coe, em peneira fina, quatro vezes. Leve essa mistura ao fogo brando, com sal e açúcar. A quantidade do sal e do açúcar dependerá do gosto de cada um. Mexa sem parar. Vá aos poucos juntando o leite de coco grosso. Quando ferver, não precisa mais ficar mexendo o tempo todo. Só de vez em quando. Mas não tire o olho da panela. Se por acaso, encaroçar a mistura, coloque no liquidificador com mais leite de coco e volte ao fogo. Deixe cozinhar, até a superfície começar a engelhar. Retire do fogo e junte duas colheres de sopa de manteiga. Coloque em uma travessa e polvilhe com canela.

Nas mesas de São João outras receitas muito especiais – angu, cuscuz, mungunzá, pamonha, pé-de-moleque, bolo de milho, de fubá, de mandioca, cocada, tapioca, bom-bocado, arroz doce, grude, milho cozido e milho assado Pratos, todos, sempre muito trabalhosos, demorados de fazer. E que, por isso, acabam sendo preparados com antecedência. Para ninguém perder a festa, claro. Sem esquecer que a bebida oficial dessa festa é o quentão – cachaça, açúcar caramelizado, canela, casca de limão, cravo, gengibre. Servida quente, em canequinhas de barro. A todos, pois, desejo um bom e saboroso São João!

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