Ter, 16 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Será que a oportunidade perdida foi só adiada?

As expectativas sobre o resultado recente da inflação podem mudar o ritmo da política monetária

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Arthur de Souza/Arquivo Folha de Pernambuco

Dias atrás, aqui na coluna, tratei no texto um breve comentário sobre "quando a realidade frustra a intenção". Desenvolvi a escrita porque entendi que aquele momento, dado por uma razoável estabilidade na economia, poderia ter sido validado, para se arriscar numa redução de meio ponto percentual na taxa de juros. Como alguns analistas também previam, uma redução discreta traria mais ânimo para o mercado.

O fato foi que prevaleceu aquele velho padrão de conservadorismo, embora a taxa fosse mantida estável nos 15% e a ata resultante mais branda no diagnóstico. Por conta desse contexto, insinuei que a autoridade de dirigente do Banco Central, por mais tímida que seja na adesão monetarista, parece ser sempre contagiada pela cultura institucional, de se agir com rigor, diante da missão de guardiã da moeda.

Passado tal decisão, a divulgação recente do IPCA de outubro consagrou, para os otimistas de plantão como eu, o que já se esperava. Afetada pela queda nas contas de luz e na estabilidade nos preços dos alimentos, a aferição mostrou uma taxa mensal de 0,09%. Foi o melhor resultado do mês de outubro, desde 1998. Assim, garantida pelos dados do IBGE, a inflação atingiu, no acumulado do ano, a taxa de 3,73%.  Considerados os últimos 12 meses, o índice ficou em 4,68%. Com isso, a projeção para o fechamento do ano foi refeita agora para uma taxa de 4,46%, abaixo da tolerância da meta oficial. 

Ao se agregar esse performance uma expectativa de crescimento do PIB acima dos 2% e estando o mercado cambial e a bolsa submetidos a um período de poucas ameaças, o resultado final é de uma situação estável, pelo olhar da macroeconomia. Mas, dirão os mais conservadores, que a política fiscal segue ameaçadora, razão para justificar a manutenção do controle monetário,.

Acontece que, por mais que a política fiscal ainda se ponha como entrave para influir na redução dos juros, o quadro das contas públicas não vislumbra um futuro desastroso, como argumentam alguns dos críticos. Particularmente, reconheço o peso da vigilância perene sobre o deficit. Mas, numa sintonia contrária, percebo que há consistência técnica, no que prega o Ministro Haddad. Daí, apoio-me em 3 pressupostos.

No primeiro, é fato que houve uma herança cruel do deficit que acompanhou a largada da política econômica do governo, em 2023. Agregado ao que já estava contabilizado pelo OGU elaborado em 2022, o segundo argumento é mera consequência, pois grande parte desses gastos extras não exercerá mais pressão orçamentária, pela superação dos seus prazos, a partir de 2026. Por último, vale referenciar uma pesquisa recente da FGV, na qual foi evidenciado que o volume de gastos públicos que se origina dos governos estaduais e municipais, teve um crescimento bem maior que o ocorrido na alçada federal. Isto pode não ser determinante para o controle fiscal. No entanto, extrai-se daí um efeito psicológico favorável, por apontar para o fato de que o governo federal tem-se empenhado para controlar despesas, apesar da urgência das políticas sociais.

Enfim, descrita essa realidade, será que na reunião de dezembro o COPOM iniciará sua intenção de desacelerar, nos movimentos que elevam a taxa de juros? Talvez,  a oportunidade seja agora, o que me faz entender que a decisão passada foi apenas adiada. Uma utopia realista capaz de garantir a expectativa de que a taxa de juros, em 2026, tenha como teto algo como 12%. A conferir.

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