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Um Ponto de vista do Marco Zero

COP 30. A delicadeza da floresta

A floresta é um bem material. E imaterial. Cujo valor é incalculável

Floresta AmazônicaFloresta Amazônica - Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

 “Na floresta, a ecologia somos nós, os humanos”.

               Davi Kopenawa, em A Queda do Céu

 A Amazônia abrange 9 países. E 50 milhões de habitantes. Surpreende pela diversidade biológica, culinária e cultural. São mais de 100 etnias indígenas. E imenso potencial de recursos minerais. E medicinais. Conheci Belém, e a floresta, há uma década. Somente tive ideia real do que a floresta representa, depois que lá estive pessoalmente. Penetramos de barco no planeta verde. Na altura da área chamada Altem do Chão. É uma experiência inesquecível. E pedagógica.

A COP é a conferência das partes signatárias da Conferência do Clima de Paris. Em 1992. Isto é, reunião promovida pela ONU para debater as mudanças climáticas. Esta é a questão mais sensível submetida à deliberação das nações no século XXI. Porque significa risco de sobrevivência (ou desaparecimento) de milhões de pessoas. Expostas aos perigos de alterações bruscas de calor e frio. Enchentes e furacões. Como, agora, em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. Cidade de 15 mil habitantes. Destruída por um tornado.

A COP brasileira, que seria COP 25, deveria ter sido realizada em 2019. Em Salvador. Não o foi por decisão do então presidente, Jair Bolsonaro. Que a proibiu. Esta foi uma das subtrações sentidas pelo país durante o período de seu governo. Por aí se tira a controvérsia que cerca a maior floresta tropical do mundo. Um tesouro. E a ignorância que ainda veste os interesses econômicos localizados na região.

Não será por outra razão que o atual presidente dos Estados Unidos retirou seu país do Acordo de Paris. E não vem à COP 30. A transição energética envolve discussões profundas. E implica interesses produtivos, públicos e privados, de elevado valor. Por exemplo: a extração de petróleo na margem equatorial do rio Amazonas.

É uma questão que põe o governo brasileiro no vértice de contradição difícil de contornar. Porque, de um lado, a operação na área é de risco. Com custos para a ecologia e a população das áreas próximas. A extração se dará a 500 quilômetros de Belém. De outro lado, as reservas previstas estão dimensionadas para colocar o Brasil como quinto maior produtor mundial de petróleo. Corresponde a cinco bacias. Equivalente ao volume do pré-sal. Não é pouco. Não apenas quanto à commodity, em si. Mas quanto ao que representa estrategicamente para a economia do país.

A floresta é um bem material. E imaterial. Cujo valor é incalculável. Porque tem uma dimensão produtiva. E é uma expressão moral, ambiental. Local e universal. Significa dizer que somos condôminos daquele patrimônio. Mas somos também responsáveis por sua integridade. Sua conservação. E seu futuro. Basta lembrar que, lá, existem rios voadores. Grandes correntes de ar carregadas de umidade vindas da Amazônia. Que contribuem para o equilíbrio climático do continente. Pelo transporte de vapor d’água. Provocando chuva.

A chance de realizar a COP 30 em Belém é valiosa. Porque permite que as pessoas conheçam o que sabem existir apenas por ouvir dizer. E a mentalidade cosmopolita, elitista, não foge ao vezo. Alega o conforto de acomodação de luxo, no eixo, para continuar desconhecendo o Brasil. E, aí, nasce o neocolonialismo. Interno. Até a fronteira insana do pensar a divisão do país. E é, aí, que surge a oportunidade de criar o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia. Inspirado no Vale do Silício. Compreendendo a geração conjunta de tecnologias adaptadas e saberes tradicionais.

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