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Crítica: 'Você nunca esteve realmente aqui' traz homem em crise

No enredo, Joe (Phoenix) é um veterano de guerra que resgata jovens sequestradas. Dirigido por Lynne Ramsay, 'Você nunca esteve realmente aqui' venceu prêmios em Cannes

Cena do filme 'Você nunca esteve realmente aqui', de Lynne RamsayCena do filme 'Você nunca esteve realmente aqui', de Lynne Ramsay - Foto: Divulgação

O filme "Você nunca esteve realmente aqui" estreia em Pernambuco ainda repercutindo o prestígio de Cannes: recebeu, no festival francês, os prêmios de melhor roteiro (escrito por Lynne Ramsay, que também é a diretora) e melhor ator (Joaquin Phoenix).

A história é sobre Joe (Phoenix), um veterano de guerra que traz as marcas da violência em seu corpo e nas suas lembranças. Ele trabalha como uma espécie de caçador de recompensas, recuperando jovens vítimas de sequestro. Quando volta de um serviço bem sucedido, ele é contratado por um senador, que teve sua filha sequestrada como escrava sexual. "Me disseram que você é brutal", diz o político. "Eu posso ser", responde Joe. "Eu quero que você os machuque", diz o senador.

É através desses pequenos diálogos que recebemos informações, quase como peças de um quebra-cabeça. Nas sequências seguintes, Joe compra um martelo, fita adesiva e começa a estudar o local onde as garotas estão presas, um prédio luxuoso no centro da cidade. A invasão de Joe é brutal, um sentimento intensificado pela direção de Ramsey, que recorre a um certo estilo de filme de terror de forma eficaz e poderosa. Os eventos seguintes mudam completamente os rumos da vida de Joe, forçando o homem a encarar as suas dores passadas.

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Desde seu primeiro longa-metragem, o interessante e pouco visto "O lixo e o sonho" (1999), a cineasta escocesa Lynne Ramsay parece interessada em um tipo de narrativa que embora apresente em cena uma grande carga de emoção sua força parece ocupar as entranhas das imagens, o lado secreto de seus personagens. Neste novo filme, não temos acesso aos detalhes da biografia de Joe: apenas relâmpagos de memória, lembranças que explodem e no clarão de poucos segundos sugerem traumas.

   Traumas de guerra

A montagem privilegia esses rompantes que duram poucos segundos; há assombros de violência doméstica, pai abusivo, mãe fragilizada e protetora, fugas de um garoto que sem entender o horror em volta recorre a estratégias de preservação. São cenas sem grandes explicações que reaparecem como feridas ainda abertas na vida cotidiana de Joe. Além dessas memórias familiares, o homem também carrega traumas de guerra: corpos estirados no chão, vestígios de uma violência chocante que ainda repercute nos dias de hoje.

A curta duração (1h20) e a pequena quantidade de diálogos sugerem que é na pequena quantidade de informações que reside a força de "Você nunca esteve realmente aqui". É um filme que opera mais na mente do espectador, se expandindo em diferentes significados. Mérito não apenas da direção de Lynne, mas também da interpretação de Phoenix como um homem destruído pelos eventos que moldaram sua vida.

Cotação: bom


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