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'Curral Grande' retrata a realidade dos campos de concentração do Ceará

Espetáculo teatral do Coletivo Ponto Zero, com direção do pernambucano Eduardo Machado, 'Curral Grande' cumpre temporada na Caixa Cultural, a partir desta quinta-feira (13)

Cena do espetáculo teatral 'Curral Grande'Cena do espetáculo teatral 'Curral Grande' - Foto: Marília Cabral/Divulgação

Milhares de famílias forçadas a viver em campos de concentração, em condições sub-humanas: amontoadas e sempre vigiadas por soldados. A descrição nos remete à Alemanha nazista, mas também pode ser usada para explicar o que ocorreu em pleno sertão do Ceará, no século 20. Construir os tais acampamentos foi a estratégia adotada por autoridades da época para evitar que os flagelados da seca migrassem em massa para a capital.

Esse terrível pedaço da história brasileira é contado no espetáculo "Curral grande", do Coletivo Ponto Zero, que chega ao Recife para uma temporada na Caixa Cultural. As apresentações começam nesta quinta-feira (13) e seguem até 22 de setembro; às quintas e sextas-feiras, às 20h, e sábados, às 18h e às 20h.

O primeiro campo de concentração cearense foi construído em Fortaleza, durante a grande seca de 1915, quando instalações como essas ainda não eram associadas às atrocidades cometidas por Adolf Hitler em território europeu. O local é mencionado em "O Quinze", clássico romance da escritora Rachel de Queiroz, publicado em 1930, que retrata o sofrimento dos sertanejos nesse período. A situação piorou em 1932, quando o temor de que os retirantes invadissem a capital fez com que o número de acampamentos chegasse a sete.

A montagem teatral "Curral grande" tem como foco essa segunda fase, bem mais radical, quando estima-se que mais 73 mil pessoas foram aprisionadas nos campos. Dirigida pelo pernambucano Eduardo Machado, a peça é baseada na obra do pesquisador e dramaturgo cearense Marcos Barbosa.

"O que mais me chama atenção no texto é a necessidade de lançar luz sobre um tema que é desconhecido pela maioria da população brasileira, mas que é urgente. O próprio autor costuma dizer que a pretensão não é fazer com que essas histórias não se repitam, mas mostrar que elas continuam acontecendo de outras maneiras", aponta o diretor.

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Dividida em oito cenas independentes, porém correlacionadas, a trama mostra os fatos a partir de diferentes pontos de vista. Quatro atores - Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Carlos Darzé e Lucas Lacerda - se revezam em mais de 40 personagens. "Nenhum dos personagens aparece nas narrativas históricas tidas como oficiais. Temos, por exemplo, uma cena que se passa na antessala da interventoria do Ceará. O interventor e os médicos são citados, mas quem aparece na cena são dois funcionários públicos que tomam conta do cafezinho que será servido na reunião", adianta.

Colaboração

Natural de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, o diretor Eduardo Machado conheceu a peça durante a sua graduação em direção teatral na Universidade Federal da Bahia (UFBA). "Eu e os atores do Coletivo Ponto Zero fomos colegas de faculdade. Entramos em contato com essa dramaturgia - que era de autoria de um professor nosso, Marcos Barbosa - durante um dos módulos do curso. Montei a primeira versão como um exercício cênico de avaliação, só com metade das cenas e para o público da própria escola de teatro", conta o encenador, que hoje vive no Mato Grosso.

Em 2013, veio a proposta de transformar o trabalho em um espetáculo profissional. Ainda no início do seu mestrado em Salvador, Eduardo foi procurado pela turma de colegas que, à essa altura, estavam vivendo no Rio de Janeiro e havia fundado uma companhia teatral.

Por conta da distância física entre os envolvidos no projeto, o processo de montagem acabou acontecendo entre uma cidade e outra. "Foi uma configuração diferente do convencional. A gente conversava, na maioria das vezes, por chamada de vídeo. Acabou dando certo por termos uma relação muito colaborativa com o diretor", afirma o ator Lucas Lacerda.

Serviço

Espetáculo "Curral grande"
Desta quinta-feira (13) a 22 de setembro; quintas e sextas-feiras, às 20h, e sábados, às 18h e às 20h
Na Caixa Cultural (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Informações: (81) 3425-1915

 

 

 

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