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Humor, drama e afeto no cinema do coreano Sang-soo Hong

"Na Praia à Noite Sozinha" entra em cartaz no Cinema do Museu

Cena do filme "Na praia sozinha à noite"Cena do filme "Na praia sozinha à noite" - Foto: Divulgação

É fácil descobrir a autoria nos filmes do diretor coreano Sang-soo Hong. Em geral, seus personagens são pessoas inconformadas, trabalham com cinema, são atores, diretores ou produtores que enfrentam algum tipo de dificuldade emocional.

Há uma grande quantidade de conversas, diálogos cuja simplicidade e longa duração parecem indicar uma naturalidade cotidiana que não parece ser exatamente convencional - e talvez seja esta a estranha beleza de sua narrativa.

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Estreia no Cinema do Museu (Casa Forte) "Na Praia à Noite Sozinha", filme que chega com as características que apontam para a autoria de Hong, mas dessa vez sem o mesmo brilho de longas anteriores, como "Mulher na praia" (2006) e "Hahaha" (2010).

No enredo, Young-hee (Min-hee Kim) é uma atriz que caminha sem rumo definido por uma cidade fria, tentando superar um romance que terminou mal - um diretor de cinema casado. Min-hee Kim é a grande força desse filme - seu carisma e sua expressividade renderam o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim deste ano.

Nesse processo de entender a falência de seu relacionamento, sua estratégia é conversar e andar, conversar e beber, conversar e comer com amigos.

É uma das marcas do cinema de Sang-soo Hong: longas cenas em que amigos estão em uma mesa de jantar ou restaurante, e, progressivamente mais bêbados, começam a revelar uma intimidade dolorida, um entendimento existencial estimulado pelo álcool e pela troca de experiências. Há humor, ironia e afeto, um processo bonito de ver.

Sang-soo Hong costuma ser comparado a diretores como o francês Éric Rohmer (1920-2010) e o norte-americano Woody Allen, pela conversa, pela preferência pelo humor e pelo diálogo, a maneira como situações do cotidiano são refeitas e engrandecidas pelo cinema, e neste filme essas características se encaixam.

Assim como Woody, Sang-soo é também um diretor prolífico, costuma assinar dois ou três filmes por ano. Este é um filme simpático e leve, até que em determinado momento os problemas são resolvidos com um toque de fantasia e beleza cativantes - também marcas do autor norte-americano.

A longa duração dos planos, como se na extensão das cenas houvesse a possibilidade de um pequeno milagre, uma grande descoberta ou epifania, é talvez a mais bela condição do cinema de Hong.

Se neste filme essa marca autoral parece atrelada a um certo esgotamento de ideias, ou talvez um uso excessivo de uma proposta de cinema, mesmo assim, o cineasta segue como uma das vozes mais interessantes do cinema contemporâneo asiático.

Cotação: bom


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