Livro traz olhar dos chargistas no centenário da Independência, em 1922
Com criações de J. Carlos, Storni, e K. Lixto, entre outros, lançamento relembra clima ufanismo e espírito crítico na imprensa
O centenário da Independência do Brasil, em 1922, coincidiu com um período de ouro da charge no país. O livro “A história do 1º centenário da Independência do Brasil (1822-1922) através da caricatura”, que Luciano Magno lança agora, traz o olhar de artistas como Raul Pederneiras, K. Lixto, Julião Machado, Storni, J. Carlos, Helios Seelinger e Luiz Peixoto sobre um momento em que o país se colocava no divã e debatia o que pretendia ser no futuro.
Esta talentosa geração de caricaturistas que se iniciou profissionalmente na imprensa do início do século XX retratou o furor patriótico que se instalava na sociedade, mas também capturou os descontentamentos da população. O ano agitado ainda teve Exposição Internacional do Centenário, no Rio, que representou uma afirmação da modernidade brasileira.
"As charges e os desenhos patrióticos publicados em 1922 estavam imbuídos do clima ufanista da época", diz Magno, autor de diversos livros sobre a história da charge no Brasil. "Éramos um país jovem, de espírito ainda jovial, e que estava se reinventando. Tudo era novo."
O ufanismo natural do período era pontuado por um certo espírito crítico. Quando não estavam exaltando nossas potencialidades como nação, os artistas cobravam aceleração das obras e lamentavam a difícil situação econômica e social.
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"O custo de vida ou carestia de vida, a crise de habitações, o déficit orçamentário, e críticas a empresa concessionária responsável pelos serviços de bondes, eletricidade e linhas telefônicas no Rio, no início do século XX, eram frequentes", explica o autor, que para o novo livro reuniu uma série de desenhos publicados por veículos como O Malho, Careta e D. Quixote. "Os protestos, na imprensa, eram constantes, mostrando que muitos problemas do país são recorrentes, tanto no ano do centenário de 1922, quanto até hoje, cem anos depois."
Difícil estabelecer um paralelo entre 1922 e 2022 (lembrando que, tecnicamente, o bicentenário vai até 7 de setembro de 2023). Os governos federais que lideraram as respectivas datas tiveram orientações “diametralmente diferentes”, diz Magno. Outra diferença é que o ano de 1922 foi marcado por outros grandes eventos. Além da Exposição Internacional, que se inspirou nas célebres exposições universais e mudou a fisionomia do Rio, o país viveu a Semana de Arte Moderna, a primeira transmissão de rádio, a fundação do Museu Histórico Nacional e o crescimento da luta feminista.
Magno lembra que, nas décadas de 1910 e 1920, muitas questões envolvendo “o que era o Brasil” estavam sendo debatidas.
"Os caricaturistas também participaram na criação e representação dessa brasilidade", diz o autor. "O grande poder de comunicação da charge conquistava leitores fora das elites intelectuais."

