Mostra de Daniel Santiago no Mamam é aberta a sonhos
Artista propõe a seus convidados se deleitarem em camas e se conectarem a novas experiências em exposição que começa nesta terça-feira (20)
A realidade é a que vivemos de olhos abertos, no dia a dia, ou a que presenciamos nos sonhos? O poeta americano Ezra Pound disse, certa vez, que a vida de verdade acontece mesmo quando sonhamos. O artista Daniel Santiago, 78 anos, apaixonado por literatura, lembrou-se dessa afirmação e logo resolveu transformá-la em arte. Assim nasceu a obra "Um Sonho de Ezra Pound", mola propulsora da exposição "Daniel Santiago em dois tempos", que será inaugurada nesta terça-feira (20), às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam).
O tal sonho de Pound começou em 2015, quando Daniel pensou em dispor 20 camas de solteiro em uma sala onde pessoas pudessem dormir com ele no mesmo ambiente. Essa obra será um happening, que ocorrerá na abertura da mostra, junto a convidados devidamente trajados de pijama, como o professor Jomard Muniz de Britto, o jornalista Celso Marconi, a galerista Lúcia Santos, e os artistas José Paulo, Maurício Castro e Christina Machado.
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"Um happening é diferente de uma performance. Nela, o artista traça o roteiro prévio; no happening, o espetáculo é criado e o público começar a destroçar tudo. É uma exposição estranha", resume Daniel, avisando que a proposta é de fato dormir, mas não a noite toda.
"Quem sair daqui se sonhar não viu nada; mas dormir de verdade não é arte. Se quiser dormir mesmo, vá dormir em casa", completa. O happening será filmado e transmitido durante o período em que a mostra ficar em cartaz. E até será possível ao público dormir a noite inteira, caso queiram, em outros dias da mostra, mediante assinatura de termo de responsabilidade e agendamento prévio. Mas no horário normal de visitação, nada impede um cochilo rápido.
E olha que o espaço é convidativo. Há colchões macios, máscara para dormir, travesseiro e roupa de cama estampada com carimbos em linóleo criados pelo artista Carlito Person, que optou por uma diagramação característica do século 19. "Criei dez figuras diferentes que possuem três olhos: super despertos, insones e dormindo", conta Carlitos, que se inspirou tanto no dormir quanto na insônia e no pesadelo. Os kits de roupa de cama poderão ser adquiridos pelo público.
Serão exibidos ainda dez filmes poéticos, com referências musicais e homenagem a artistas a quem Santiago possui admiração, além de capas de livros do tempo em que ele foi designer gráfico da Prefeitura do Recife, entre 1984 e 2000. Pois é, ele nunca viveu de arte. Ainda mais a impalpável performance ou happening que sempre o atraiu, mas não ao mercado.
Em outra sala, a curadora da mostra, Joana D'Arc, traz uma seleção de obras da carreira de Santiago. "Parto da produção dos anos 1960, quando ele era aluno da Escola de Belas Artes, passando pela tradição gráfica dos cartazes e capas de livros e registros fotográficos. Houve uma metamorfose da aquarela, xilogravura, pintura para o arquivo digital. Atualmente, Daniel usa muito o Facebook", explica Joana, que usou o lambe-lambe para mostrar essas 20 peças selecionadas.
"Ele propõe um universo atípico dentro de uma vida protocolar que a gente tem", define a curadora. Entre os cartazes, percebemos o quanto o artista encara a vida com humor, mesmo quando faz crítica política.
Serviço:
"Daniel Santiago em dois tempos"
Nesta terça-feira (20), às 19h
Mamam (rua da Aurora, 265, Boa Vista)
Visitação: Até 13 de agosto, de terça a sexta, das 12h às 18h; sábados e domingos, das 13h às 17h
Informações: (81) 3355-6871

