BNDES anuncia R$ 10 bi para comprar participações acionárias de empresas até o fim do ano
Decisão representa guinada na política para a carteira de participações
A BNDESPar, empresa de participações societárias do BNDES, fará um investimento de R$ 10 bilhões, até o fim do ano, em ações de empresas, tanto diretamente quanto via fundos, informou nesta segunda-feira o banco de fomento. Segundo o BNDES, a decisão vem após “quase dez anos” sem investimentos diretos em participações acionárias.
Os aportes do banco de fomento para comprar fatias de empresas abertas estão no rol de polêmicas envolvendo o BNDES nas gestões anteriores do PT. Parte da política que ficou conhecida como “campeões nacionais” — a estratégia de reforçar o apoio de grandes companhias privadas para permitir que competissem internacionalmente — foi levada a cabo com participações acionárias.
Leia também
• Em um ano, BNDES aprovou crédito de R$ 1 bilhão para IA
• BNDES e Finep selecionam 56 projetos para minerais estratégicos
• BNDES repassará primeiros recursos do Fundo Rio Doce em julho
Um dos casos mais conhecidos foi o da empresa de alimentos JBS. Após uma série de aportes bilionários, o BNDES acabou com fatia relevante do capital da companhia. As operações chegaram a entrar da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal, mas as investigações eximiram os técnicos do banco de fomento de participação em eventuais irregularidades.
Vendas de ações da JBS
Hoje, o BNDES ainda tem 18% do capital da JBS — entre abril e maio, após vendas bilionárias, a participação caiu de 20,8% para 18,18%. E, apesar das polêmicas, uma fonte que acompanhou as operações, que, entre meados de março e meados de maio, o BNDES ganhou de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões com o investimento na participação acionária na JBS.
Com as polêmicas e a decisão, nos governo Michel Temer e Jair Bolsonaro, de reduzir o peso do BNDES na economia, a BNDESPar vinha vendendo suas participações acionárias. A saída total do capital da mineradora Vale, que acabaria por reduzir o poder de influência da União na companhia, e uma oferta de pouco mais de R$ 20 bilhões em papéis da Petrobras, em fevereiro de 2020, foram marcos dessa estratégia.
“Após quase dez anos sem realizar novos investimentos diretos em renda variável e de um longo período focado em desinvestimentos maciços e desmobilização da carteira, fruto das gestões anteriores, o governo do presidente Lula retoma a missão da BNDESPar de desenvolver o país com o fortalecimento do mercado de capitais”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, segundo uma nota divulgada pelo banco.
Participações diretas ou via fundos
Conforme o comunicado, os R$ 10 bilhões anunciados nesta segunda-feira serão divididos em dois. Metade irá para aportes diretos no capital de empresas. Os R$ 5 bilhões estarão “disponíveis para empresas que solicitem recursos até dezembro deste ano”. Os R$ 5 bilhões restantes serão aplicados “via fundo de investimentos”.
Nos dois formatos, o foco são “companhias com projetos e iniciativas voltadas à transição ecológica, descarbonização e inovação”. “A prioridade integra a nova Estratégia de Investimentos em Renda Variável da BNDESPar, aprovada pelo Conselho de Administração no ano passado”, diz o comunicado do BNDES.

