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IOF

Câmara aprova parte de medidas da MP do IOF com impacto estimado em R$ 20 bi

Texto relatado por Juscelino Filho (União-MA) recria ações de controle de gastos, como mudanças no Pé-de-Meia

O texto incorpora medidas fiscais originalmente previstas na medida provisória (MP) alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)O texto incorpora medidas fiscais originalmente previstas na medida provisória (MP) alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira o texto-base do projeto que permite a atualização patrimonial de bens móveis e imóveis. O texto incorpora medidas fiscais originalmente previstas na medida provisória (MP) alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que perdeu validade neste mês.

O texto, relatado pelo deputado Juscelino Filho (União Brasil-MA), foi ajustado de última hora após pedido do governo e segue agora para o Senado. Foram 275 votos favoráveis e 133 contrários.

A proposta cria o Regime Especial de Atualização e Regularização Patrimonial (Rearp), que permite a atualização do valor de bens adquiridos com recursos de origem lícita e a regularização de ativos não declarados ou declarados com erro ou omissão. A expectativa é que a medida gere arrecadação extra e ajude na recomposição fiscal do governo. Durante a votação, o relator defendeu que a proposta fazia "justiça tributária".

— Estamos tratando de uma medida que faz justiça tributária e faz controle de gastos do governo para mantermos programas importantes como o Pé-de-Meia.

Além do Rearp, Juscelino incluiu no projeto parte das iniciativas da MP do IOF, que tratavam de controle de gastos e aumento de receita, com impacto estimado em R$ 20 bilhões. A manobra, vista pela oposição como a inserção de jabutis, gerou reações no plenário — e chamou atenção o fato de o PSOL ter orientado voto contrário no mesmo dia em que o partido ganhou seu segundo ministério no governo, com a posse de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência.

Parlamentares da sigla criticaram a inclusão do programa Pé-de-Meia entre as medidas do projeto, argumentando que a mudança, apresentada como ampliação de investimentos, implicaria cortes no orçamento da educação.

— O Pé-de-Meia é um bom programa, mas ele foi apresentado como uma medida a mais e não parte do orçamento. O resultado prático é corte — afirmou Tarcísio Motta (PSOL-RJ).

A insatisfação uniu siglas ideologicamente opostas. PL e Novo aderiram às críticas, sustentando que o texto foi usado para ressuscitar trechos da MP 1.303, que havia perdido validade.

— O projeto é bom, mas colocaram a MP 1.303 de carona. É uma artimanha que nos pressiona — disse Gilson Marques (Novo-SC), que havia relatado a proposta na CCJ.

Entre os dispositivos aprovados estão:

Restrição a compensações tributárias (medida com a qual o governo espera arrecadar R$ 10 bilhões no ano que vem);

Ajustes no seguro-defeso, como necessidade de registro biométrico e exigência de que o pescador comprova domicílio na região onde está o período defeso;

Inclusão do programa Pé-de-Meia no piso constitucional da Educação e retirada do teto de R$ 20 bilhões para os aportes da União;

Redução do prazo do auxílio-doença concedido por análise documental (Atestmed);

Limitação da compensação previdenciária entre regimes ao valor previsto na lei orçamentária.

Um ponto de atrito levantado pelos parlamentares foi o seguro-defeso. Hildo Rocha (MDB-MA) afirmou que o dispositivo restringe o acesso ao benefício pago a pescadores.

— Julgo fundamental o projeto, mas não concordo com o seguro-defeso. Sei que temos que combater as fraudes, mas da forma como está aqui acredito que poucos vão conseguir receber. Obriga que o pescador tenha nota fiscal do produto — pontuou Hildo Rocha (MDB-MA).

O relator também manteve duas medidas de menor impacto fiscal, relativas à tributação de empréstimos de ações e títulos e ao regramento para contabilizar perdas com hedge internacional na base de cálculo da CSLL.

Recuo sobre FGTS
Na reta final das negociações, Juscelino retirou do parecer o trecho que tratava da antecipação do saque-aniversário do FGTS, após reunião entre o presidente da Câmara, Hugo Motta, e o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. A Fazenda se opunha à inclusão do dispositivo, que anulava decisão recente do Conselho Curador do fundo ao limitar as operações de crédito com base no FGTS.

O ajuste foi considerado essencial para destravar a votação e preservar o entendimento com o Ministério da Fazenda, que vinha pressionando para que a proposta fosse votada ainda nesta semana.

Novas alíquotas e prazos
Em relação ao conteúdo original, o texto ampliou a alíquota do Imposto de Renda sobre a atualização de bens de 3% para 4% no caso de pessoas físicas. Para pessoas jurídicas, a cobrança será de 4,8% de IRPJ e 3,2% de CSLL. O relator também autorizou a atualização de bens localizados no exterior.

Na modalidade de regularização, houve aumento da multa, que passou de 15% para 100% sobre o imposto devido. O prazo de adesão foi reduzido de 210 para 90 dias, e o parcelamento dos tributos caiu de 36 para 24 meses.

Além disso, o período mínimo de manutenção dos bens atualizados foi encurtado: cinco anos para imóveis e dois anos para os demais.

O governo trabalhava para votar o projeto nesta quarta-feira, de olho na retomada das discussões do Orçamento de 2026. A aprovação é vista como um alívio após a caducidade da MP do IOF, que havia ficado travada por falta de consenso.

Nos bastidores, interlocutores da Fazenda afirmam que o texto aprovado garante o essencial para recompor receitas e oferece uma “solução segura” para preservar o conteúdo fiscal da MP sem reabrir frentes de conflito político.

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