Ter, 16 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Sucroenergético

Deputados debatem crise do setor sucroenergético

Marcada para o dia 1º de dezembro, audiência na Comissão de Agricultura da Alepe vai discutir queda do preço da cana e impactos do tarifaço dos EUA

Foto: Roberto Soares/Alepe

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) realiza no dia 1º de dezembro, às 9h30, uma audiência pública para discutir a crise que atinge a cadeia produtiva da cana-de-açúcar no estado. Produtores relatam perda superior a 33% no preço da matéria-prima, reflexo da desvalorização internacional do açúcar e do recente aumento tarifário dos Estados Unidos sobre o produto brasileiro. 

A reunião ocorre a pedido da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) e do Sindicato dos Cultivadores de Cana- de-Açúcar de Pernambuco (Sindicape), com apoio do deputado Antônio Moraes (PP), e deve produzir encaminhamento formal ao governo estadual e ao Congresso.

Quadro
Para o presidente da AFCP, Alexandre Andrade Lima, o cenário ultrapassa oscilações normais do setor e revela um ponto de ruptura: “O tarifaço foi apenas uma parte da ponta desse iceberg e afetou bastante o setor — tanto as usinas quanto os produtores de cana.”

A queda recente do preço da tonelada é central no diagnóstico. Alexandre Andrade afirma que com o preço do açúcar no mercado internacional não tão baixo, produtores enfrentam restrições severas. “Poucos vão conseguir honrar seus pagamentos, porque a conta não fecha. O produtor não terá condições mínimas de adubar sua cana-de-açúcar”, destacou. No ano passado, o preço da cana chegou a R$ 175 por tonelada, para este mês a AFCP projeta um valor de R$ 134,31 por tonelada, equivalente ao patamar negociado pela última vez em 2021. Segundo Lima, o nível atual “inviabiliza o cultivo”.

Auxílio
Diante da deterioração, o setor concentra esforços em uma articulação no Congresso para incluir um auxílio emergencial no âmbito da Medida Provisória (MP) nº 1.309, de 13 de agosto de 2025, que institui o Plano Brasil Soberano. O objetivo desta MP é apoiar os exportadores brasileiros afetados pelo aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos, criando medidas emergenciais e linhas de crédito específicas para esses setores.

“Nós apresentamos uma emenda à MP prevendo um pagamento, uma subvenção de R$ 12 por tonelada para os produtores de cana do Nordeste, para que consigam sobreviver até a próxima safra, porque a situação é desesperadora”, disse o presidente. 

A AFCP e as entidades nordestinas, segundo Lima, mantêm interlocução com o relator da MP, senador Fernando Farias (MDB-AL), com o presidente da comissão mista, deputado Cezinha (PSD-SP), e com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB): “Contamos com o apoio irrestrito do presidente da Câmara, que tem nos dado todo o suporte.”

Nordeste
Para o consultor empresarial Gregório Maranhão, o que se observa não é apenas mais um ciclo de baixa, mas a maior crise em duas décadas. Ele sublinha que a vulnerabilidade é mais intensa no Nordeste. Nesse contexto, Gregório destaca o papel da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), como instrumento de coordenação regional.

“Nós estamos tentando construir, através dessa entidade, representando os estados canavieiros do Nordeste, um movimento para afirmar que qualquer recurso que o estado venha a colocar à disposição do setor, no ambiente de emergência, não é um favor que está fazendo ao setor — é um investimento no próprio estado”, destacou. Segundo Gregório, que é um dos fundadores da Unida, a entidade representa mais de 20 mil produtores distribuídos por cerca de 200 municípios canavieiros.

Expectativa
O setor espera que o encontro, no dia 1° de dezembro, produza um documento formal endereçado ao governo de Pernambuco e aos relatores das proposições federais. “Estamos aguardando ansiosamente a instalação dessa audiência pública. Ela vai nos permitir sair da Assembleia com uma correspondência dirigida ao governo do estado, recomendando a adoção de medidas de caráter emergencial”, afirma Gregório.

Veja também

Newsletter