Economia e mesa farta na ceia de Natal
De acordo com a ABRAS, itens do jantar natalino este ano devem custar, juntos, em média R$ 351,80 no Nordeste
Com a chegada de dezembro, quem pretende receber os amigos e familiares para a ceia de Natal já precisa começar a pesquisar os preços dos itens que vão compor a mesa do jantar. A antecipação das pesquisas do valor de cada produto faz diferença já que, neste ano, a cesta típica da festividade deve alcançar uma média de R$ 351,80 no Nordeste, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Na lista de compras não pode faltar itens como aves natalinas, azeite, caixa de bombom, espumante, lombo, panetone, pernil, peru, sidra e tender. De acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em 2025 a ceia estará 4,5% mais cara para os consumidores em relação ao ano passado. As altas nos preços foram puxadas pelo quilo de peru (13,62%), azeitona (12,53%), e caixa de bombom (10,81%).
Nesse cenário, a procura por alimentos que substituam outros com preços mais elevados acaba sendo uma saída para quem não quer pesar o bolso para oferecer um bom jantar.
Para a professora do curso de Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Hortência Albuquerque, esse movimento é natural e acaba sendo previsível, considerando o aumento da inflação. “A inflação nesse período é esperada. Temos um aumento expressivo da demanda por produtos específicos da ceia, além da pressão sobre itens importados, como bacalhau, azeite e frutas secas”, explicou a especialista.
Produtos
Ela acrescenta que esse movimento acontece como uma reação do mercado à alta demanda de alguns produtos, para administrar a escassez. Nesse contexto de preços elevados, o ponto mais sensível no orçamento do Natal são as proteínas. Carnes bovinas, aves especiais, como chester e peru, e algumas espécies de peixe podem representar entre 40% e 50% do valor total da ceia, segundo a professora.
Hortência afirmou que criativa e planejamento podem ser a chave. Foto: Felipe Araújo/Divulgação. Pensando em driblar os preços altos, é fundamental definir o orçamento antes mesmo de montar o cardápio.
“A família precisa perceber qual é a sua realidade financeira. Muitas vezes, o problema não é falta de dinheiro, mas falta de planejamento. Quando a pessoa não define limites, acaba comprometendo o futuro, especialmente ao usar cartão de crédito de forma inadequada”, alertou.
A especialista aponta que alguns itens tradicionais da ceia devem ficar mais caros neste Natal. As carnes especiais tendem a sofrer aumentos pela alta demanda sazonal. Já o bacalhau, por ser um produto importado, também deve pesar mais no bolso, já que os preços são diretamente influenciados pela variação do câmbio. O mesmo acontece com as frutas secas importadas, que acabam encarecidas pela valorização do dólar.
Há um destaque também para o azeite de oliva que permanece em patamar elevado há meses, reflexo de problemas climáticos que afetaram a produção e reduziram a oferta no mercado internacional.
Substituições
Mesmo com a alta dos preços, com criatividade e planejamento, algumas substituições podem manter uma ceia saborosa mesmo com um custo menor. Entre as substituições possíveis, o bacalhau pode dar lugar ao filé de merluza, que oferece sabor semelhante por um preço muito mais baixo, segundo Hortência.
Já em relação as frutas importadas há também uma alternativa.
“O consumidor pode trocar as frutas importadas pelas nacionais, que, de preferência, estejam na estação. A manga e o abacaxi, por exemplo, são frutas muito boas para fazer várias preparações doces e salgadas”, aconselhou.
No lugar das nozes, é possível optar por amendoim ou castanha de caju, mantendo textura e crocância. Ela também dá dicas para aqueles que não dispensam o vinho na mesa de natal. Essas pessoas podem trocar os importados por rótulos nacionais, como, por exemplo, os produzidos no Vale do São Francisco, região conhecida pela produção da bebida com características tropicais, como frutados e aromáticos, e oferece uma ampla variedade de estilos, de espumantes frescos a tintos encorpados, com qualidade e pelo bom custo-benefício.
A composição da ceia, para ser barata, precisa ser pensada com antecedência. Foto: Canva. Direito
Além da substituição como estratégia para economizar, o Procon Pernambuco atenta para os direitos do consumidor. Para conscientizar o cidadão na hora das compras, o órgão realiza anualmente um levantamento para aferir a diferença entre os estabelecimentos, que deve sair semanas antes do natal.
Secretário do Procon Pernambuco, Anselmo Araújo reforça que a principal recomendação continua sendo a pesquisa de preços - e o quanto antes. “É importante que o consumidor se adiante para começar a comparar valores. Muitas vezes, o mesmo produto, da mesma marca, apresenta preços bastante diferentes de um estabelecimento para outro”, esclareceu.
Ele explica que a variação de preços não é exclusiva da temporada natalina, mas tende a se acentuar no período devido ao aumento da circulação de dinheiro por conta do pagamento do 13º salário e ao crescimento natural da demanda. “O Natal sempre apresenta uma variação de preços muito grande. As empresas vendem mais e buscam essa clientela de forma mais ostensiva”, afirmou. De acordo com o secretário, não há um padrão fixo de aumentos para os itens típicos da ceia, já que diversos fatores interferem nos valores, principalmente o câmbio.
Organização
A professora lembra que muitas famílias desejam montar uma mesa mais elaborada sem ter se planejado, independentemente de comprar os alimentos prontos ou preferir o preparo em casa. “É importante andar financeiramente de acordo com a nossa realidade. Se queremos uma ceia diferente, precisamos primeiro trabalhar para modificar essa realidade”, afirmou.
Hortência alerta que definir previamente quanto se pode gastar é essencial para evitar problemas futuros. “Se eu tenho disponível X reais para a minha ceia, é com esse valor que devo trabalhar. Se não formos realistas, vamos comprometer sempre o futuro”, explicou.
A professora lembra que o acúmulo de despesas no cartão de crédito pode resultar em um início de ano apertado, justamente quando chegam férias, impostos e outras contas típicas de janeiro. “Era para você estar mais tranquilo, mas acaba pagando parcelas do que consumiu no fim do ano. Isso não é interessante.”
O Indicador de Inadimplência realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) registrou que no início deste ano quatro em cada dez brasileiros adultos (40,17%) estavam negativados em janeiro de 2025, sendo 68,83 milhões de consumidores. Para evitar dívidas no início de 2026, Hortência Albuquerque reforça que o cartão de crédito deve ser visto apenas como meio de pagamento, não como extensão do orçamento.

