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Em meio a discussões com EUA para reduzir tarifas, Embraer mira novos negócios com a China

Em relatório sobre o mercado chinês, empresa vê potencial para novas rotas em cidades em desenvolvimento econômico

Avião da Embraer, fabricante brasileira de aeronaves.Avião da Embraer, fabricante brasileira de aeronaves. - Foto: Ricardo Beccari/Embraer

Em meio a uma cruzada para zerar a tarifa de 10% imposta pelo governo dos Estados Unidos a seus produtos (os 40% adicionais da alíquota já foram reduzidos), a fabricante de aviões brasileira Embraer também está mirando novas oportunidades de negócios com a China.

Num seminário para companhias aéreas, realizado ontem na cidade chinesa de Huizhou, sobre as perspectivas de crescimento da aviação naquele país, a Embraer divulgou um relatório mostrando que o volume de passageiros transportados este ano já ultrapassou os níveis pré-pandemia, chegando a 780 milhões de pessoas — com potencial para atingir 1,5 bilhão de viajantes anuais até 2035.

O documento — chamado de China Market Report: “Um Novo Rumo para a Rentabilidade no Mercado de Aviação da China”, mostra que a Embraer vê oportunidades para seus jatos de corredor único em pelo menos 900 cidades chinesas "mal servidas" e onde operam aeronaves maiores, mas com poucos voos (muitas vezes um por dia).

Nesses municípios, que passam por um forte processo de urbanização e desenvolvimento econômico, o tráfego de passageiros cresce mais do que em rotas saturadas. Com isso, a empresa acredita que há oportunidade de realizar mais voos nessas localidades com aviões menores.

"Alinhar a capacidade e a conectividade com esses mercados emergentes pode desbloquear um potencial significativo no chamado "Oceano Azul", rotas ainda pouco exploradas, para jatos de curta distância (regionais)", diz o documento.

Algumas dessas rotas, diz a Embraer no relatório, muitas vezes passam despercebidas pelas grandes companhias aéreas. Mas podem ser lucrativas com operações enxutas e implantação de frota mais ágil. Como exemplos, a Embraer cita rotas ligando as cidades de Xiamen–Zhanjiang ou Quanzhou–Baotou, que têm ligações econômicas importantes, mas poucas opções de transporte.

“Vemos um forte potencial na China para aeronaves narrowbody menores e mais atualizadas para aumentar a eficiência operacional e a conectividade. As companhias aéreas locais podem impulsionar sua rentabilidade ao explorar a demanda crescente para operação em uma malha mais ampla de cidades chinesas”, afirmou em nota Rodrigo Silva e Souza, vice-presidente de Marketing da Embraer Aviação Comercial.

Paradoxo do mercado chinês
O relatório, entretanto, também aponta um paradoxo no mercado chinês de aviação: embora as companhias aéreas estejam transportando mais pessoas na China, elas estão lutando para se manter "no azul".

Portanto, diz o documento, ter escala não é sinônimo de lucro. As principais rotas estão saturadas, com muitas companhias, e também aumentou a competição com trens de alta velocidade, o que explica margens mais apertadas para o setor.

Índia também está na mira
Na Ásia, a China não é o único alvo de novos negócios da Embraer. Em outubro passado, a fabricante de aviões brasileira abriu um escritório em Nova Délhi, na Índia, para expandir sua presença e negócios no país. Essa nova frente na Ásia inclui ainda uma parceria com o Grupo Mahindra relacionada em relação à aeronave multi-missão C-390 Millennium.

O escritório reforça o interesse da empresa em fechar um negócio bilionário com a venda de até 80 cargueiros C-390 para a Força Aérea Indiana. A Embraer já tem presença há mais de duas décadas no mercado indiano, com aeronaves comerciais da família E-jets e de defesa.

Outra novidade é que a Embraer passou a apresentar seu A-29 Super Tucano, avião de ataque leve e treinamento avançado, como uma ferramenta anti-drone de baixo custo e alta eficiência. O anúncio foi feito na Dubai Air Show, uma feira do setor. Isso abre novas oportunidades de negócios para a aeronave, especialmente na Europa, onde drones têm sido utilizados por exemplo no conflito entre Rússia e Ucrânia.

Mercado americano ainda é o mais importante
Mas a Embraer mantém os 'olhos' no mercado americano, o mais importante para a empresa, que está por lá há 45 anos e mantém uma unidade com três mil funcionários, além de US$ 3 bilhões em ativos.

Os EUA representam 45% de mercado de seus jatos comerciais e 70% dos jatos executivos da Embraer, que continua negociando um acordo para zerar as tarifas sobre seus produtos, assim como aconteceu com o Reuino Unido.

Para chegar a esse objetivo, além das negociações entre os dois governo, a fabricante de aviões lançou mão de um robusto pacote de investimentos em solo americano de mais de US$ 1 bilhão. Pelo menos US$ 500 milhões seriam aplicados para montar o KC-390 no país, caso o avião seja escolhido pela Força Aérea americana.

Outros US$ 500 milhões vão ser injetados nos próximos cinco anos para ampliar sua fábrica em Melbourne, na Flórida, onde são fabricados os modelos Phenom e Legacy.

— Levantamos com cuidado toda a contribuição que podemos dar aos EUA: empregos, não só na Embraer, mas dos fornecedores, incluímos investimentos, a importância dos nossos aviões na aviação regional daquele país. Levamos para as pessoas certas terem essa visibilidade. É um caso econômico muito robusto — disse em recente entrevista o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, que lembrou que a empresa tem um potencial de negócios de US$ 21 bilhões, até 2030, com empresas americanas.

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