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TENSÃO COMERCIAL

EUA 'não permitirá' influência da China no canal do Panamá

O porta-voz chinês disse que funcionários estadunidenses de alto escalão "atacaram maliciosamente a China, difamando e minando a cooperação" entre o país asiático e Panamá

Um navio cargueiro de gás navega pelas Eclusas de Miraflores, no Canal do Panamá, na Cidade do PanamáUm navio cargueiro de gás navega pelas Eclusas de Miraflores, no Canal do Panamá, na Cidade do Panamá - Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

O governo de Donald Trump "não permitirá" que a China "coloque em perigo" a operação do canal do Panamá, advertiu o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, durante uma visita à capital panamenha, comentários que Pequim considerou "maliciosos".

O chefe do Pentágono é o segundo alto funcionário americano a visitar o Panamá desde que Trump assumiu o poder em janeiro e prometeu "recuperar" a via interoceânica estratégica construída pelos Estados Unidos, sob o argumento de que está sob influência da China.

"Hoje o canal do Panamá enfrenta novas ameaças. Os Estados Unidos não permitirão que a China comunista nem qualquer outro país coloquem em perigo a operação nem a integridade do canal", disse Hegseth na terça-feira em um discurso em uma base naval, na entrada da via pelo Pacífico.

Trump inclusive não descartou o uso da força para retomar o controle da rota por onde passa cerca de 5% do comércio marítimo mundial, entregue ao Panamá pelos Estados Unidos em 1999, em virtude de tratados bilaterais.

Pequim reagiu nesta quarta-feira (9). O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse que funcionários americanos de alto escalão "atacaram maliciosamente a China, difamando e minando a cooperação entre China e Panamá".
 

As críticas de Hegseth "expõem mais uma vez a natureza intimidadora dos Estados Unidos", disse.

O chefe do Pentágono se reuniu com o presidente panamenho, José Raúl Mulino, e um comunicado conjunto foi divulgado após o encontro.

"Hegseth reconheceu a liderança e a soberania irrenunciável do Panamá sobre o canal" e áreas adjacentes, segundo o texto.

O secretário de Defesa americano assegurou que ambos os países reforçarão a cooperação para manter "o canal seguro" e afastá-lo da "influência" chinesa.

"Quero ser muito claro. A China não construiu este canal, não opera este canal. E a China não utilizará este canal como arma", afirmou.

Em reiteradas ocasiões, Mulino negou a interferência de Pequim na operação da rota, mas o secretário de Defesa norte-americano insistiu em que "empresas chinesas continuam tendo controle sobre a infraestrutura crítica na zona do canal".

"Isso dá à China a possibilidade de realizar atividades de vigilância" e "faz com que Panamá e Estados Unidos estejam menos seguros", acrescentou.


'Trump, tire suas mãos do Panamá'
O chefe do Pentágono visitou as eclusas do canal acompanhado pelo administrador do Canal, Ricaurte Vásquez, uma base naval em Colón (Caribe) e, na quarta-feira, participará de uma conferência de segurança com funcionários de governos centro-americanos.

Washington considera uma "ameaça" à segurança nacional e regional o fato de a empresa Hutchison Holdings, de Hong Kong, operar os portos de Balboa (Pacífico) e Cristóbal (Atlântico), em ambas as entradas do canal.

Na segunda-feira, pouco antes da chegada de Hegseth, a Controladoria do Panamá divulgou o resultado de uma auditoria segundo a qual a subsidiária da empresa chinesa descumpriu o contrato e, entre várias irregularidades, não entregou ao país cerca de 1,2 bilhão de dólares (R$ 7,12 bilhões) que lhe correspondem pela concessão portuária.

Em meio às tensões, a Hutchison anunciou em 4 de março que venderia seus portos no Panamá para um consórcio americano. Mas o negócio não foi fechado na data prevista devido a uma investigação em andamento dos reguladores chineses.

Essa transação foi considerada por Trump como parte do processo para "recuperar" o canal.

A viagem de Hegseth ao Panamá segue a realizada em fevereiro pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que pediu ao governo do Panamá medidas concretas para reduzir a presença da China no país.

Durante essa visita, Mulino anunciou que não renovaria o acordo comercial e econômico conhecido como a Faixa e a Rota, projeto emblemático do governo de Xi Jinping, assinado em 2017 pelo Panamá.

O chefe do Pentágono elogiou na terça-feira a decisão de Mulino: "É um reflexo de quão bem o seu governo entende a ameaça que a China representa."

Cerca de 200 pessoas, convocadas por sindicatos e organizações de esquerda, protestaram no centro da cidade contra a visita do funcionário americano.

Os manifestantes agitaram bandeiras panamenhas e queimaram a dos Estados Unidos. Um dos cartazes que carregavam dizia: "Trump, tire suas mãos do Panamá."

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