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Economia

Lira turca se recupera e dólar recua para R$ 3,87

Das 31 principais divisas do mundo, 15 ganharam força sobre o real. A lira turca avançou 8,94%, após cair mais de 8% no pregão anterior

DólarDólar - Foto: Agência Brasil

Após bater R$ 3,93 na segunda-feira (13), o dólar fechou em baixa ante o real nesta terça (14), em um movimento de acomodação em sintonia com o exterior após dois dias turbulentos devido à crise cambial na Turquia.

O dólar comercial recuou 0,79%, cotado a R$ 3,867. Das 31 principais divisas do mundo, 15 ganharam força sobre o real. A lira turca avançou 8,94%, após cair mais de 8% no pregão anterior.​

A Bolsa brasileira, que conseguiu se segurar em alta na segunda, subiu 1,43%, a 78.602 pontos. Além da trégua no exterior, o índice ganha na correção da semana passada, marcada por perdas, e com resultados corporativos fortes.

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O movimento de correção pelo qual passaram países emergentes e Wall Street nesta terça não foi observado na Europa, onde investidores continuaram preocupados, ainda que em menor grau, com a exposição de instituições financeiras à lira turca.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones, principal índice de Nova York, subiu 0,45%, enquanto o S&P 500 avançou 0,64%. Entre os europeus, no entanto, os maiores mercados operaram no vermelho. A Bolsa britânica recuou 0,40%, e a francês caiu 0,16%. A Bolsa da Alemanha ficou estável.

Bancos europeus são os maiores financiadores do governo e de empresas turcas, que têm uma dívida em dólar considerada elevada. Conforme a lira turca perde força, o temor é que fique mais difícil para elas honrarem suas obrigações junto às instituições.

O Banco Central Europeu (BCE) já demonstrou receio, principalmente em relação aos bancos BBVA, UniCredit e BNP Paribas. O ministro das Finanças turco, Berat Albayrak, tentou acalmar os mercados informando que realizará uma teleconferência com investidores dos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio na quinta-feira (16), a primeira desde que assumiu o cargo há quase dois meses.

Albayrak disse que a Turquia protegerá a lira e espera que a moeda se fortaleça. Afirmou ainda que continuará a tomar medidas dentro das regras do livre mercado e que agirá para diminuir os riscos cambiais às empresas. A declaração de outros membros do governo turco, no entanto, ameaça reverter o quadro de trégua. O ministro do Meio Ambiente e Urbanização, Murat Kurum, disse que a Turquia não vai utilizar produtos americanos para construções.

Mais cedo, o próprio presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o país boicotará produtos eletrônicos dos Estados Unidos, em mais um capítulo na disputa com Washington que contribuiu para provocar quedas recordes da lira. A moeda entrou em queda livre devido a preocupações com a direção da política monetária de Erdogan, e o agravamento das relações do país com os Estados Unidos.

Na véspera, o banco central turco anunciou ações para tentar aumentar a liquidez no mercado, mas elas não foram suficientes para conter a queda da lira, e o que investidores esperavam mesmo era uma elevação nas taxas de juros -como a promovida pela Argentina.

Hoje, analistas avaliam que as medidas trazem algum alívio. "A injeção de liquidez do BC turco para recuperar a estabilidade do sistema financeiro e a decisão da bolsa de Istambul de proibir vendas a descoberto geraram uma trégua. Mas os efeitos aparentam ser apenas marginal [...] A inflação gira acima de 15% e a alta dos juros parece inevitável. No extremo, o controle de capital no país pode ocorrer", escreveu a Guide Investimentos em relatório.

Também na segunda, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, se reuniu com o embaixador da Turquia nos EUA para discutir a detenção do pastor americano Andrew Brunson, conforme informou a Casa Branca.

Brunson, que vive na Turquia há mais de duas décadas, enfrenta julgamento no país por acusações de terrorismo e está em prisão domiciliar, impedido de viajar. Em retaliação à situação, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na sexta-feira (10) que dobraria as tarifas sobre o aço e alumínio importados da Turquia.

Mercado Brasileiro
Antes da crise turca atingir o mercado brasileiro, os gestores de fundos estavam mais otimistas em relação às perspectivas para Bolsa e real no fim do ano. A percepção está refletida em pesquisa do Bank of America Merrill Lynch realizada entre 3 e 9 de agosto, um dia antes da piora das turbulências na Turquia, feita entre 39 especialistas com cerca de US$ 136 bilhões de ativos sob gestão.

O levantamento mostra que 46% dos gestores viam o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, acima de 85 mil pontos no fim do ano. Em julho, 23% achavam o mesmo. Já 72% viam o dólar cotado abaixo de R$ 3,80 no final do ano, contra 49% em julho.

O otimismo tem relação com o cenário eleitoral, embora as eleições ainda sejam consideradas pelos gestores o maior risco ao mercado brasileiro. Para 36%, há mais de 50% de chances de vitória de um candidato de centro-direita na eleição, ante 14% em julho. Além disso, 75% confiam que a reforma da Previdência seja aprovada em 2019.

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