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Saúde para todos: o equilíbrio entre corpo e mente

Em meio às rotinas exaustivas do dia a dia, cuidar da saúde torna-se um desafio para todas as idades. E uma vida saudável começa com bons hábitos desde a infância

A prática de exercícios físicos é importante em todas as fases da vidaA prática de exercícios físicos é importante em todas as fases da vida - Foto: Freepik

As transformações físicas, psicológicas e de comportamento ocorrem ao longo da vida em cada faixa etária. Porém, é necessário que as mudanças estejam alinhadas com qualidade de vida e, para isso, a saúde e o bem-estar precisam ser buscados no dia a dia. Segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. 

Para a maioria da população, cuidar da saúde torna-se um desafio, devido às rotinas exaustivas, visto que ter uma vida saudável permeia vários aspectos, como manter um equilíbrio entre corpo e mente, alimentação adequada, prática regular de atividade física, sono de qualidade, boas relações sociais e exames de rotina em dia. 

Segundo especialistas, o ideal é que os cuidados com a saúde comecem ainda na infância e continuem nas demais fases da vida. 

“O conceito de saúde da OMS é lindo, mas, na prática, a grande maioria da população não consegue seguir à risca todas as orientações para ter uma vida saudável. O papel do médico é orientar de forma individualizada cada paciente frente a sua realidade, mostrando que pequenas mudanças já trazem resultados”, afirma a médica clínica Danielle Saldanha. 

Ainda de acordo com a médica, que também atua na geriatria e em cuidados paliativos, ter bem-estar em todas as idades é caracterizado como sentir-se bem no dia a dia e ter as necessidades atendidas independentemente da fase da vida.

“É importante ter apoio familiar, uma vida equilibrada entre saúde, trabalho e relações e no envelhecimento, principalmente, a manutenção da autonomia, da autoestima e da sensação de propósito”, destaca.

Exercícios
Na infância, adolescência, na fase adulta e na velhice, é importante a prática de exercícios físicos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a atividade física favorece a prevenção e o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardíacas, diabetes, câncer e depressão. A OMS recomenda a prática regular de atividades físicas por ao menos 150 minutos por semana. 

Segundo o profissional de educação física Leco Extremo, como é conhecido Américo José, na faculdade é ensinada uma disciplina chamada “crescimento e desenvolvimento humano”, que aborda o exercício como um fator importante na evolução motora das crianças. 

“Uma criança que é ativa fisicamente tende a ter uma melhor coordenação motora pela exposição de estar sempre correndo, pulando e ultrapassando obstáculos. Isso faz com que a tomada de decisões dela seja mais rápida e que o corpo possa acompanhar as ordens. Com isso, desenvolve com mais qualidade habilidades novas, não só físicas, mas em aspectos cognitivos também, gerando, inclusive, mais autonomia”, diz.

Na adolescência, com o início da puberdade, o jovem amadurece os aspectos físico, social e psicológico, reitera Leco. “Se estes aspectos não forem estimulados quando mais jovens, esses adolescentes podem ter dificuldades.” 

Já na idade adulta, caso a pessoa não tenha tido nenhum contato com atividades físicas, a iniciação torna-se mais difícil, porém ainda possível e necessária.

“É importante se movimentar em qualquer atividade para que haja a maior contenção de danos possível para a velhice. Nela, é necessário ter uma boa base de força para que se faça atividades tidas como básicas, como ir ao mercado sozinho, retomar o equilíbrio para não cair, sentar e levantar sem dificuldades, brincar com os netos e seguir vivendo com a maior autonomia possível”, explica Leco. 

Como as atividades físicas, a alimentação também é um componente fundamental para ter mais energia e saúde no dia a dia. A nutricionista Keyla Torres aponta que a alimentação tem um papel crucial para atingir o bem-estar. 

“É através de uma boa alimentação que obtemos nutrientes que são peças-chave para uma vida saudável, além de prevenir doenças crônicas, como diabetes, pressão alta e problemas de colesterol”, comenta. 

Keyla reforça ainda que, além do papel da nutrição, a comida está presente nas relações sociais, culturais e emocionais. “Através da comida, podemos celebrar, interagimos e conhecemos culturas. Ter uma dieta equilibrada te permite aproveitar todos os momentos de forma leve e saudável.”

Cérebro
Adotar um estilo de vida saudável também interfere na saúde cerebral. Segundo o neurologista Eduardo Aquino, a saúde do cérebro é uma consequência dos hábitos e estilo de vida que o indivíduo tem ao longo da vida. 

“Nós sabemos que os bons hábitos de vida, ou seja, a prática de exercício físico, uma dieta equilibrada com pouco consumo de sal, de gordura, tentar manter-se equilibrada do ponto de vista emocional são pré-requisitos importantes para você manter a atividade cerebral e a saúde do cérebro.” 

As medidas também previnem doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, além do Acidente Vascular Cerebral (AVC). A prevenção também é importante para o controle de outros problemas, como a enxaqueca. 

Infância
Os hábitos adquiridos durante a infância vão determinar o surgimento ou não de problemas na idade adulta. Nos primeiros seis meses de vida, o Ministério da Saúde recomenda que o bebê se alimente apenas de leite materno, sem necessidade de sucos, chás, água e outros alimentos. É o primeiro e mais completo alimento oferecido na infância.

A amamentação é sugerida até os dois anos de idade ou mais. Após os seis meses, a indicação é que seja complementada com outros alimentos. 

“Após os seis meses, inicia-se o processo de introdução alimentar, onde é de extrema importância apresentar uma variedade de alimentos como frutas, verduras, legumes, leguminosas, carboidratos de boa qualidade para fornecer vitaminas, minerais e nutrientes essenciais para o desenvolvimento”, evidencia Keyla Torres. 

Na infância, também é importante a prática de atividade física, e a diminuição do uso de telas. O neurologista Eduardo Aquino salienta que na atividade física não há só o ganho físico, mas emocional e psíquico, em termos de motricidade e interação psicossocial. 

“Também é importante tentar diminuir o uso de recursos tecnológicos para que a criança tenha um amadurecimento cerebral mais saudável e consiga fazer as brincadeiras de infância que vão realmente estimular o desenvolvimento cognitivo e o uso das telas e dos recursos tecnológicos com supervisão.”

Neurologista Eduardo Aquino. Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Na adolescência, a preponderância dos hormônios vai determinar os comportamentos e moldar as personalidades. O chamado “banho dos hormônios” determina alterações cerebrais significativas que vão marcar o indivíduo para o resto da vida. 

“A plasticidade do neurônio, que é a célula cerebral, existe durante toda a vida do indivíduo, mas ela é máxima na infância. Eventos traumáticos e experiências vividas na adolescência, e nos ambientes familiar, escolar e social, vão determinar e marcar a vida desse indivíduo para sempre”, enfatiza o neurologista. 

Adultos 
Na idade adulta, o cérebro passa por outras mudanças. Nesta fase, é necessário lidar com outras demandas, como a entrada no mercado de trabalho, a conclusão do curso superior ou técnico e a decisão da profissão. Para um bem-estar na vida adulta, a atividade física, comer saudável e ter um suporte emocional seguem sendo prioridades.

“São os três pilares importantes para que a gente mantenha a saúde cerebral e emocional. A saúde emocional está muito relacionada com a saúde cerebral. Sabemos que ansiedade e depressão sem tratamento não são só um problema de ficar mais triste, de ficar mais ansioso. O cérebro sofre, perde célula e adoece”, pontua Eduardo Aquino. 

A nutricionista Keyla Torres alerta que, com a rotina corrida, muitas pessoas costumam não conseguir priorizar a alimentação.

“Práticas como pular refeições, principalmente o café da manhã, comer por impulso, consumir ultraprocessados e alimentos industrializados, não se hidratar corretamente costumam acontecer, podendo acarretar em prejuízos à saúde a longo prazo”, menciona. 

Nutricionista Keyla Torres. Foto: Isabella Carneiro/Divulgação

Velhice 
A fase da velhice é pautada por todos os hábitos adquiridos durante a vida. Com um envelhecimento ativo, é possível ter uma vida saudável, autonomia e qualidade de vida para realizar as tarefas diárias. 

Segundo a Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica (Abrafito), algumas medidas podem ser realizadas para um maior bem-estar nos idosos: atividade física regular; alimentação saudável; adaptações nos ambientes domésticos; vida social ativa e apoio emocional; acompanhamento médico regular e uso correto dos medicamentos; manutenção do peso; atenção com a postura; sono de qualidade; evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool; fisioterapia e reabilitação.  

“Ter a base alimentar voltada para alimentos in natura e minimamente processados, consumir diariamente porções de frutas, verduras e legumes é o primeiro passo para prevenção de doenças. Associar a alimentação à prática de atividade física, exposição ao sol com cautela e cuidados com o sono e saúde mental são essenciais para prevenção dessas doenças”, aponta Keyla Torres. 

A médica Danielle Saldanha afirma que, quando se fala de prevenção na terceira idade, é essencial atenção às vacinas e controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, evitando, assim, o desenvolvimento de problemas secundários a elas. 

“É importante prevenir sarcopenia (perda progressiva de massa e força muscular) para prevenir quedas e risco de perda da autonomia. Outro ponto-chave que merece atenção é a saúde mental: combater o isolamento social e estimular atividades que tragam prazer são tão importantes quanto os exames laboratoriais de rotina. Mente e corpo têm que caminhar juntos. Os excessos de uma vida desregrada, sem propósito, sem autocuidado poderão refletir uma velhice cheia de limitações.”

O profissional de educação física Leco Extremo destaca que o treinamento tradicional de força com musculação e calistenia (metodologia de treinamento de força com peso corporal) é a melhor ferramenta para combater diversas ressalvas articulares e problemas relacionados à sarcopenia e à dinapenia (perda de força em idosos). 

“A caminhada é muito importante sim, mas fazer força ainda vem em primeiro lugar. Um idoso forte é um idoso sem dores e, quem não tem dor, não toma tanto remédio e, consequentemente, consegue lidar melhor com seu metabolismo”, afirma.

Autonomia
A professora aposentada Rosângela de Góes, de 71 anos, encontrou no exercício físico um caminho para ter mais autonomia no dia a dia e diminuir as dores articulares. Atualmente, Rosângela pratica pilates e realiza caminhadas. Ela também faz alongamentos, mobilidade e treino de força, com acompanhamento de Leco. 

A professora aposentada Rosângela de Góes se exercita com acompanhamento do profissional de educação física Leco Extremo. Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Com os treinamentos, a artrose nos joelhos da professora aposentada se estabilizou, permitindo que ela faça atividades diárias sozinha. Ela também tem tratado as dores na coluna. 

Algumas metas foram estabelecidas por Rosângela, como aprender a nadar e andar de bicicleta. A idosa reitera que gosta de desafios e de aprender coisas novas. Com isso, ela vem se reinventando a cada dia e estabelecendo metas para a vida. 

“Eu comecei a trabalhar muito cedo, com 17 anos, e a minha vida era trabalhar e estudar. Antigamente não era muito valorizada a atividade física. Agora que está sendo valorizada. Quando eu era mais nova, era só trabalhar. Os médicos não passavam atividade física, era só remédio. É engraçado que o ortopedista disse que eu tinha que fazer treino de força, porque estava com fraqueza muscular. Depois de tudo isso foi que eu reconheci o quanto está sendo importante a atividade física”, relata. 

Para ela, a atividade física é de extrema importância, principalmente para que a pessoa idosa adquira força muscular.
 
“Quando eu dava aula, eu tinha fraqueza. Uma vez levei uma queda quando estava indo para a parada de ônibus. Hoje em dia eu consigo subir um degrau sem ajuda. Eu subo tranquilamente, e isso não acontecia comigo, já é um avanço. O idoso precisa demais fazer exercícios físicos.”

Aliado aos exercícios, a professora aposentada também investe em outras atividades que promovem bem-estar físico e mental. 

“Eu vou à nutricionista e também fui para o endocrinologista, porque eu sou pré-diabética. Eu tenho que estar sempre no controle da alimentação e da medicação. Eu gosto muito de costurar, parei por conta da dor na coluna, mas eu ainda quero voltar, se Deus quiser. Eu também faço crochê e tenho um grupo. Nós saímos, e nos divertimos. Toda sexta-feira a gente tem esse encontro. E onde eu fazia academia, sempre fazemos reuniões de passeios. Adoro viajar. Não viajo mais porque eu não tenho condições”, pontua Rosângela. 

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