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FERROVIA

Conexões Transnordestina mobiliza setores avícola e automotivo em Belo Jardim

Belo Jardim recebeu 4º Conexões Transnordestina, debatendo impactos da ferrovia no Agreste. Governo federal anunciou licitação de 73 km para outubro. Setor avícola espera redução de 60% no frete com trecho Salgueiro-Suape

Mobilização pela retomada das obras da Transnordestina em Pernambuco marca evento em Belo Jardim.Mobilização pela retomada das obras da Transnordestina em Pernambuco marca evento em Belo Jardim. - Foto: Márcio Didier/ME

A quarta edição do Conexões Transnordestina – A Ferrovia que Mudará Pernambuco discutiu o impacto que a ferrovia vai ter no Agreste e a importância do debate provocado pela iniciativa sobre o traçado Salgueiro-Suape para que o empreendimento seja o mais competitivo possível. O evento contou com a participação de políticos, empresários, técnicos e representantes da academia em Belo Jardim nesta quinta-feira (25). Na quarta-feira (24), os ministros Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e Renan Filho (Transportes) anunciaram o edital de licitação das obras de um trecho de 73 km a ser lançado no final de outubro.

O superintendente da Sudene, Francisco Alexandre, afirmou que o debate gerado pelo evento “com a indústria, comércio e serviços” é importante. “E a gente observa que esses agentes, eles são importantes do ponto de vista de influenciar, de pedir e, às vezes, até de pressionar para que a ferrovia continue”, comentou ele, se referindo ao trecho Salgueiro-Suape que está com as obras paralisadas desde 2016.

“Não só para Belo Jardim, é São Bento do Una, Arcoverde, São Caetano, Cachoeirinha, entre outras. Toda essa região aqui vai ser beneficiada com a passagem do trecho Salgueiro-Suape”, comentou Francisco Alexandre, acrescentando que o governo federal está tomando as medidas para a retomada da obra.

Conexões Transnordestina seminário Belo Jardim

Representantes dos setores público e privado participaram de debate em Belo Jardim sobre a Transnordestina. Foto: Márcio Didier/ME

Belo Jardim foi a quarta cidade a receber o seminário, que conseguiu juntar diferentes lados políticos em defesa da retomada das obras do trecho Salgueiro-Suape. “Estamos colhendo os resultados efetivos do que vem sendo discutido aqui nos seminários. O resultado prático é que o governo federal começa a tomar medidas efetivas. Este é o quarto de uma série de sete. O governo de Pernambuco esteve presente em todos. E a gente vem defendendo aqui, como sempre defendeu, o avanço da Transnordestina no trecho Salgueiro–Suape, mas como uma estratégia maior de conexão do Porto de Suape até a região do Matopiba”, comentou o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti. O Matopiba é uma grande região produtora de grãos formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia

De acordo com Cavalcanti, o grupo de trabalho do qual o governo do Estado participa junto com o Ministério dos Transportes e com a Infra S.A. começa a produzir os primeiros resultados. “Agora, estamos na fase de orçamento. Ou seja, a obra está efetivamente se movendo e a gente tem uma perspectiva de, no curtíssimo prazo, começar a ver resultados reais”, contou.

secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti Conesões Transnordestina Belo Jardim

Secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti, defende conexão da Transnordestina com a região do Matopiba. Foto: Márcio Didier/ME

O trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina, segundo o secretário, “vai integrar de vez um dos melhores portos do País, – o de Suape –, com essa grande região produtiva. E, claro, puxar esse ramal até chegar na Norte-Sul. Essa é uma defesa que a gente tem feito de forma muito firme”. O secretário lembrou que Pernambuco é um grande produtor de proteína animal e que o trecho Salgueiro-Suape da ferrovia vai tornar todo este polo muito mais competitivo.

Também palestrante do evento, o vice-presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe) e presidente do Instituto Ovos Brasil, Edival Veras, afirmou que o trecho Salgueiro-Suape é importante para o setor porque traz uma expectativa de reduzir em 60% o preço do frete.

O setor avícola de Pernambuco traz o grão de uma distância média de 1.500 km de caminhão, o que deixa o setor com um custo de produção mais alto do que, por exemplo, São Paulo. “A avicultura de Pernambuco pode transportar 48 mil contêineres por ano. Há uma expectativa muito grande de retomada desta obra”, comentou o empresário. A avicultura de Pernambuco produz 14 milhões de ovos e 14 milhões de frangos por ano. Cerca de 75% dos custos do setor são os grãos.

 

Superintendente da Sudene, Francisco Alexandre Conexões Transnordestina Belo Jardim

Superintendente da Sudene, Francisco Alexandre, afirmou que é importante o debate gerado pelo evento com os representantes da indústria, comércio e serviços.

O impacto da Transnordestina na Baterias Moura

Instalada em Belo Jardim, a Baterias Moura produz 60% das baterias que estão nos veículos do Brasil e está a cerca de 4 mil quilômetros dos principais centros consumidores do País. “Primeiro, quero ressaltar a importância do Movimento Econômico vir escutar as empresas daqui do Agreste Central. A implantação do trecho Salgueiro-Suape vai ter um impacto fundamental no escoamento do nosso produto”, resumiu o diretor de Metalurgia e Compras da Baterias Moura, Flávio Bruno.

Na apresentação que fez no evento, o diretor afirmou que a ferrovia vai contribuir para reduzir os custos tanto do produto final como dos insumos. Somente para o leitor ter ideia, somente uma das três empresas de logística da Moura, a LAM, que tem sede em Suape, movimenta 72 mil toneladas de carga por ano.

Flávio Moura também citou que o transporte ferroviário pode reduzir a pegada de carbono da empresa como um todo se a ferrovia usar combustíveis limpos. A empresa compra grande quantidade de plástico e de metal para fabricar as baterias. A companhia emprega cerca de 4 mil pessoas em Belo Jardim.

Mediadora do debate, a jornalista e CEO do Movimento Econômico, Patrícia Raposo, reafirmou que o objetivo do seminário é mobilizar os pernambucanos em torno da retomada das obras do trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina. “Em cada cidade, entendemos mais o impacto que a Transnrodestina vai trazer. O evento faz uma pressão legitima e o Movimento Econômico está fazendo o seu papel de induzir o desenvolvimento econômico num momento que é muito importante discutir o traçado desta obra”, argumentou.

Melhorias no traçado

Um dos maiores especialistas em transporte em Pernambuco, o professor aposentado da UFPE e professor da Unicap, Maurício Pina, durante o evento, lembrou que o projeto antigo trecho Salgueiro-Suape previa o uso da bitola métrica e que esta não é a mais adequada para o tipo de carga a ser transportada por Suape, que é uma carga diversa.

Ele defendeu que deveria ser usada a bitola mista, para que a ferrovia transportasse vários tipos de carga de forma competitiva. Ainda de acordo com ele, tem um trecho do traçado Salgueiro-Suape que seria necessário uma terceira locomotiva para puxar os trens por causa da inclinação e rampas do traçado. “Isso tornaria a operação do trecho Salgueiro-Suape mais caro”, concluiu Maurício Pina.

No projeto original, a Ferrovia Transnordestina começava na cidade de Eliseu Martins, no Piauí, seguia até a cidade pernambucana de Salgueiro, depois se dividindo em dois trechos: o Missão Velha-Porto de Pecém, todo no Ceará, e o Salgueiro-Porto de Suape, em Pernambuco. O trecho cearense teve as obras retomadas em 2023 e dever ter uma primeira etapa concluída em 2027.

As obras da Transnordestina começaram em 2006. O trecho pernambucano está com as obras paralisadas desde 2016. Atualmente, a Infra S.A., empresa do governo federal, realiza estudos do projeto básico e executivo desta parte da ferrovia. 

O seminário de Belo Jardim foi o quarto da série Conexões Transnordestina, que percorre o Estado discutindo os impactos regionais da ferrovia. O primeiro ocorreu em Salgueiro, em julho, seguido por encontros em Araripina e Petrolina, em agosto. As próximas edições acontecerão em outubro. Estão  previstos seminários em Caruaru e Recife, em novembro.

Promovido pelo Movimento Econômico, o Conexões Transnordestina tem o patrocínios da Sudene, Complexo Industrial Portuário de Suape e Grupo Moura. 

 

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