Após Quaest indicar fôlego na popularidade de Lula, Planalto reforça defesa da 'soberania'
Um grupo da base governista, porém, avalia que o tom do discurso pode afastar o centro do eleitorado potencial de Lula em 2026
Após a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (16), indicar um fôlego na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Palácio do Planalto vai reforçar a aposta no discurso crítico ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs um tarifaço ao país, e na defesa da “soberania”.
Depois de uma sequência de quedas na avaliação do governo, os dados indicam uma recuperação: a aprovação subiu de 40% para 43%, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 53%, em relação à medição anterior, de 4 de junho.
Nos bastidores, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) associam a mudança a dois episódios recentes que mobilizaram a base governista — a campanha pela taxação dos super-ricos e a reação ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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A avaliação entre ministros e articuladores é que a adoção de uma postura mais enfática nesses temas contribuiu para o desempenho registrado.
— O governo tem defendido um projeto de país com justiça tributária e melhor distribuição de renda. Tem defendido também a soberania nacional diante dos ataques tarifários, com serenidade e diálogo. Isso é forte e dialoga com os interesses da maioria do povo brasileiro. Esses temas garantiram a inflexão nas pesquisas — disse o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB).
A defesa de uma linha mais firme tem ganhado força no entorno de Lula, inclusive entre ministros de perfil moderado. O titular do Esporte, André Fufuca (PP), afirmou que “a virada começou”.
Para o advogado-geral da União, Jorge Messias, os dados refletem também a condução das recentes crises pelo presidente.
— A trajetória de Lula evidencia que o povo brasileiro confia em seu presidente como um capitão experiente, capaz de conduzir o país em meio a desafios intensos — afirmou.
Ressalvas
A melhora, no entanto, é vista com ressalvas por parte do núcleo político do Planalto. O receio é que o impacto das medidas anunciadas por Trump ainda venha a ser sentido, especialmente se as tarifas forem efetivamente implementadas.
Apesar de 72% dos entrevistados considerarem equivocada a decisão do presidente norte-americano, o governo teme os efeitos econômicos da medida.
Um grupo de parlamentares da base governista também avalia que o tom do discurso pode estreitar o eleitorado potencial de Lula em 2026, afastando o centro, por exemplo.
Nesta semana, foi criado um comitê interministerial para tratar do tarifaço, com participação de ministros da área econômica e representantes do Itamaraty. A orientação é manter o diálogo com o setor privado e com interlocutores internacionais, na tentativa de evitar a entrada em vigor do novo pacote tarifário.
Fora do governo, adversários minimizam o fôlego da recuperação.
— Pesquisa positiva ao governo, sim, mas será difícil manter — avaliou o presidente do PP, senador Ciro Nogueira.
O argumento de Nogueira é confrontado pelo líder do PT no Senado, Rogério Carvalho:
— Não se trata apenas de números, mas da esperança voltando, do povo sentindo que tem um governo do seu lado.

