A crônica esportiva precisa levar a sério os temas da sociedade moderna
Sempre encarei com respeito a crônica esportiva. Mais especificamente, aquela cujos profissionais se pautam pelo trato isento de questões delicadas, muitas vezes levadas na chacota por profissionais que parecem se dobrar ao ridículo. Nessa opção grotesca, agem com o espírito de torcedor. Até sentem que, igualar-se a ele, é um exercício natural, talvez por necessidade emocional de sê-lo de verdade. Ou talvez, criar uma empatia junto àquele nicho, por algum juízo próprio de conveniência.
Penso que agora os tempos são outros. Não me parece uma atitude profissional por a emoção não só à frente de uma razão qualquer. O mundo mudou e passou a exigir posturas que não se coadunam com atos desmentidos e até julgados por força competente maior. Nem muito menos, atitudes ou discursos que se apeguem aos escapismos convencionais, que só servem para ocultar os preconceitos mais estúpidos.
Para dar reforço a algo que vejo a tanto tempo na midia esportiva, tomo como referência dessa estupidez um comentário de certo cronista da Jovem Pan, assumidamente flamenguista. Após a divulgação do resultado do sorteio realizado para os confrontos e mandos de campo dos jogos das oitavas de finais da Copa do Brasil, o dito analista analisou os jogos do Sport contra o São Paulo, de um modo marcado pelo desdém odioso. Além de fazer graça de torcedor em assuntos sérios, ao expor pela face de um sarcasmo ridículo as conquistas de um clube com a dimensão centenária do Sport. Não só foi agressivo com os três milhões de torcedores do clube. Sutilmente, agrediu também o público que lhe dava audiência, por abusar daquele velho escapismo de se por no limbo da exclusão, quem tem menos renda e quem vem das áreas fora do eixo. E fez isso descredenciando os títulos nacionais pelo seu juízo irônico, que apagou a verdade dos fatos e ainda fez por desmerecer o que foi sentenciado por todos os tribunais de justiça possíveis. Até quando tolerar tanta arrogância agressiva e todo preconceito embutido no seu gesto?
Vou no âmago da questão e pergunto para ele, para a TV ou qualquer outro ente que assim se comporte. Qual a diferença dessa agressão e desse preconceito, com relação às questão de orientação sexual, gênero ou raça? Será que se atreveria hoje a fazer graça com algum possível comentário de uma colega mulher? Ou se fosse o caso de não gostar de alhuma reação incapaz de entender um gesto homoafetivo? Penso que não agiria assim. No entanto, as mesmas causas do futebol, quando exigem respeito às forças regionais negligenciadas, as viradas de mesa a favor dos clubes do eixo ou a partilha infeliz dos recursos, a chacota nervosa não se assume, inexiste. Será que a história de 87, se fosse contada pelo que o cronista chama de "clube grande" teria o mesmo tratamento? Enfim, criaram uma mentira midiática (tal e qual as redes sociais promovem hoje), que passa por cima de decisões judiciais, como se essas fossem iguais às idiotices propagadas. Cadê a justica para punir quem fala a mentira (no caso, quaisquer cronistas de má fé)? Insisto com a minha indignacao: qual a diferença para fazerem disso um desrespeito odioso contra o Sport?
Para esse cronista, qualquer outro que aja do mesmo modo, assim como, as redes difusores que não se incomodam com mentiras, penso que chegou a hora de medidas punitivas. Exatamente iguais à luta dos que vivem num país distanciado dos resgates das suas verdades históricas, dos valores de uma diversidade ímpar e de injustiças impregnadas com conivências. É preciso, enfim, por esse preconceito esportivo no pacote que remova essa dívida, caso a construção social do Brasil seja mesmo levada a sério.
Mas, aqui no particular, cabe meu desabafo final para alguns praticantes do idiotismo na crônica esportiva: respeitem a gloriosa história socioesportiva do Sport Club do Recife.
Economista, desportista e colunista
da Folha de Pernambuco
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