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Rio de Janeiro

Após 12 horas, abastecimento de água do Guandu segue paralisado

Com uma espuma fora da normalidade identificada pelos técnicos no fim da madrugada, a captação foi suspensa pela Cedae às 5h30 desta segunda-feira. Inea investiga contaminação criminosa

Edifício-sede da CedaeEdifício-sede da Cedae - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Após 12 horas, o abastecimento de água a partir da Estação de Tratamento (ETA) Guandu, que atende 12 milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, continua paralisado. A expectativa é de que a retomada seja realizada somente ao fim do dia se os níveis do contaminante continuarem caindo. Com uma espuma fora da normalidade identificada pelos técnicos no fim da madrugada, o sistema foi suspenso pela Cedae às 5h30 desta segunda-feira. O Instituto estadual do Ambiente (Inea) investiga se houve ação criminosa.

— Essa descarga que houve no sistema não é natural — pontua Philipe Campello, presidente do Inea, que cita 72 pontos de lançamentos de efluentes (resíduos) no Rio Guandu.

Segundo ele, no último ano, já foram feitas 19 vistorias no curso d'água, que estão sendo refeitas neste momento:

— Você tem um ponto de estresse para a todo a população, mas não deixa de ser um crime ambiental. Esse lançamento é criminoso e pode ter vindo tanto de plantas licenciadas (indústrias) ou por alguma operação difusa, quando algum cidadão porventura resolveu descarregar algum caminhão ou veículo com esse surfactante que estamos presenciando na água.

Segundo presidente do Inea, a investigação conta com apoio da Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (DPMA) e da Superintendência de Combate a Crimes Ambientais, vinculada à Secretaria estadual de Ambiente e Sustentabilidade. Nenhuma hipótese foi descartada, e a origem do contaminante ainda não foi identificada. Equipes estão, por exemplo, no Polo Industrial de Queimados, município da Baixada Fluminense.

A análise inicial da água aponta que um composto surfactante, presente em detergentes, foi detectado em uma concentração de 0,6 miligrama por litro, segundo o diretor Daniel Okumura, da Cedae.

— O surfactante não tem que estar presente numa água para consumo. O que ele pode ocasionar pra saúde humana, depende da concentração que está presente na água. A portaria de potabilidade exige que tenha o limite de 0,5 miligrama por litro, para não fazer mal à saúde — explica Okumura.

De acordo com a companhia, o material foi detectado a cerca de três quilômetros de distância da estação de tratamento, na barragem principal de captação.

'Algo excepcional', diz presidente da Cedae
Cinco horas após o fechamento do sistema de captação de água do Rio Guandu, uma entrevista coletiva foi concedida na Estação de Tratamento Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, com o presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon, Daniel Okumura e Philipe Campello.

Ballon calcula que pode levar até 10 horas até a normalização da captação de água, e que o fornecimento, após essa reestabilização, leve até 72 horas.

— Estamos lidando com algo excepcional, não foi deflagrada por uma ação da Cedae. É um crime ambiental. Considerando o efeito maior, a gente entende que não é o desejável continuar produzindo água em condições inadequadas. Para segurança da população, foi necessário (a interrupção da captação) — afirmou ele, que citou um cheiro de tíner junto à espuma presente no sistema Guandu.

A orientação é que quem tenha reservatório economize água, mas a companhia acredita que, com o mau tempo, o consumo seja menor, o que facilita a velocidade da retomada do abastecimento.

Os responsáveis pela Cedae acreditam que a vazão da água no Rio Guandu, sem ter captação, ajude a diminuir os níveis do surfactante. Daniel Okumura observa que a espuma, que estava muito presente no início do dia, está em “tendência de queda”.

De acordo com o presidente do Inea, além do lançamento de saindo produto na água, há um agravante: caso alguma indústria tenha tido algum vazamento, deveria ter informado ao órgão, como fez a Cedae no início da manhã. Isso, até o momento, não foi feito, segundo Campello.

Crime ambiental
Ao todo, são nove municípios afetados, com 11 milhões de pessoas atingidas pela paralisação do abastecimento. Além da capital, são outras 8 cidades da Baixada Fluminense: Nilópolis, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de Meriti, Itaguaí, Queimados e Mesquita.

Recebendo águas de três rios, o Poços, o Queimados e o Ipiranga, a captação da Estação do Guandu é de 43 mil litros por segundo. O feito faz com que a Cedae tenha um certificado do Guiness Book, o livro dos recordes, de maior estação de tratamento de água do mundo.

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