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EUROPA

Extrema-direita vence eleição na Holanda e amplia avanço de radicais na Europa

Partido pela Liberdade defende saída do país da União Europeia e denuncia "invasão islâmica" no Ocidente

Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade, comemora vitória apontada pela boca de urnaGeert Wilders, líder do Partido pela Liberdade, comemora vitória apontada pela boca de urna - Foto: John Thys/AFP

A Holanda passou por uma reviravolta política surpreendente, nessa quarta-feira (23), quando o Partido pela Liberdade (PVV), sigla de extrema-direita que fez campanha massiva utilizando a bandeira anti-imigração, foi o mais votado nas eleições legislativas nacionais, segundo pesquisas boca de urna divulgadas logo após o fim do pleito. A vitória do partido acende um alerta na União Europeia, que ainda aguarda a formação de governo para medir os impactos da votação para além das fronteiras de um de seus principais integrantes.

O Partido pela Liberdade, liderado pelo agitador político Geert Wilders, é conhecido por posições anti-Islã e anti-UE. De acordo com as projeções iniciais, a sigla deve conquistar entre 35 e 37 cadeiras no Parlamento, o maior bloco conquistado por um único partido no pleito, a frente da aliança de esquerda e do bloco de centro-direita VVD, que devem ter 25 e 24 assentos, respectivamente, segundo levantamento da IPSOS.

"O eleitor holandês falou" disse Wilders, em um discurso na noite de quarta-feira, reivindicando a vitória. "Os holandeses esperam que o povo possa recuperar seu país e que possamos garantir que o tsunami de solicitantes de asilo e imigração se reduza".

Se os resultados preliminares se mantiverem, a Holanda estará no limiar de um terreno político incerto, após 13 anos de gestão do primeiro-ministro Mark Rutte, um fiel da política holandesa e líder confiável dentro da União Europeia. Embora tenha ajudado a construir um lugar de destaque para o país no bloco, ao promover uma agenda econômica baseada no livre comércio e em regras comuns, Rutte não conseguiu evitar o colapso de seu Gabinete após fracassar em apresentar uma política migratória que pacificasse o país.

Em julho, o líder holandês anunciou que se afastaria permanentemente da vida política. Ele permanece no cargo apenas até o momento em que o novo governo seja formado.

Vitória nas urnas, governo em aberto
Ao comemorar o resultado conquistado nas urnas, Wilders afirmou que seu partido "não pode ser mais ignorado", e convocou os demais partidos políticos a se abrirem para negociar a formação de um Gabinete liderado pelo PVV. O cenário, contudo, não é dos mais simples.

Líderes dos três principais partidos do país declararam que não formariam parte de uma coalizão com o PVV. Apenas Novo Contrato Social, partido que deve obter 20 assentos segundo a pesquisa de boca de urna, sinalizou estar "disponível", mas seu líder, Pieter Omtzigt, antecipou que a negociação "não será fácil".

Para a formação do último governo, foi necessário o recorde de 271 dias. E, por enquanto, a incerteza é total.

Anti-UE e anti-imigração
Geert Wilders faz parte do cenário político holandês há décadas, construindo sua carreira sobre uma cruzada contra o que ele chama de "invasão islâmica" no Ocidente. Seus desentendimentos com a justiça, que o considerou culpado de insultar os marroquinos (a quem chamou de "escória"), e as ameaças de morte, que o fazem estar sob proteção policial desde 2004, não o desanimaram.

O líder radical já propôs a detenção e deportação de imigrantes ilegais e a devolução de solicitantes de asilo da Síria. Ele também se disse favorável a taxar as diferentes vestimentas muçulmanas para cobrir a cabeça e à proibição do Alcorão.

Embora a eleição, incluindo as críticas de seus rivais, tenha sido marcada por um debate forte relacionado ao tema da imigração, o candidato tentou suavizar sua imagem para agradar uma parcela maior do eleitorado, na linha de que o país teria problemas mais urgentes do que os solicitantes de asilo. Após votar em Haia, ele disse à imprensa que seria primeiro-ministro "para todos".

Cenário europeu
O Partido pela Liberdade segue uma linha de política externa de "Holanda em primeiro lugar", e tem um viés negativo quanto à integração europeia.

"A Holanda será mais dura e mais conservadora na Europa, inclusive em matéria de orçamentos e migração" disse Simon Otjes, professor assistente de política holandesa na Universidade de Leiden, em entrevista ao The New York Times.

No programa do partido, figura um referendo sobre o "Nexit", a saída da Holanda da UE. Também consta um "cessar-imediato" da ajuda ao desenvolvimento. Apesar disso, o professor disse que o tema não teve lugar de destaque na campanha, e classificou como improvável um avanço neste sentido, pela falta de apoio à medida no Parlamento.

Por outro lado, a vitória de Wilders prolonga uma série de avanços de partidos de extrema direita no norte da Europa, incluindo a Suécia, onde o governo agora depende dos votos parlamentares de um partido com raízes neonazistas, e a Finlândia, onde a direita ascendeu.

Pouco depois do resultado da boca de urna ser anunciado, o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, símbolo do que os analistas chamam de "democracia iliberal" comemorou os "ventos de mudança" na Holanda. No tabuleiro europeu, Bruxelas é, até o momento, um dos principais contestadores de Orbán.

 

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