Sáb, 06 de Dezembro

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Israel lança "ataques preventivos" contra o Irã; chefe da Guarda Revolucionária foi morto

Instalações nucleares e ligadas ao programa de mísseis foram atingidas em vários pontos do país; EUA não confirmam se apoiaram ação

Israel lança "ataques preventivos" contra o Irã; chefe da Guarda Revolucionária foi mortoIsrael lança "ataques preventivos" contra o Irã; chefe da Guarda Revolucionária foi morto - Foto: AFP PHOTO / UGC / IRAN TV

O governo israelense lançou o que chamou de "ataques preventivos" contra o Irã, em meio ao acirramento das tensões no Oriente Médio, e alertou sua população para o risco iminente de uma retaliação com "mísseis e drones" vindos do território iraniano.

Segundo Israel, o alvo da operação intitulada "Nação de Leões" é o programa nuclear do Irã, além de instalações ligadas ao programa de mísseis balísticos. A imprensa local afirma que os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária, além de cientistas nucleares, teriam sido mortos na noite desta quinta-feira.

 

"Dezenas de aeronaves da Força Aérea Israelense realizaram recentemente o ataque inicial, que incluiu ataques a dezenas de alvos militares, incluindo instalações nucleares em várias áreas do Irã” afirmou, em comunicado, o comando das Forças Armadas israelenses. “Por anos, o regime iraniano vem travando uma campanha direta e indireta de terror contra o Estado de Israel, financiando e direcionando atividades terroristas por meio de seus representantes em todo o Oriente Médio, enquanto avança para obter uma arma nuclear. O regime iraniano está à frente do eixo responsável por todos os ataques terroristas contra o Estado de Israel desde o início da guerra.”

Em pronunciamento, o premier israelense, Benjamin Netanyahu disse que um dos alvos era a "instalação de enriquecimento nuclear em Natanz", que foi alvo de ações de sabotagem atribuídas a Israel no passado, assim como os "principais cientistas nucleares iranianos". A imprensa iraniana diz que o local foi atingido "várias vezes", mas não revelou a extensão dos danos.

— Não podemos deixar essas ameaças para a próxima geração. Porque se não agirmos agora, não haverá outra geração. Se não agirmos agora, simplesmente não estaremos aqui — disse Netanyahu, afirmando que seu país está em um "momento decisivo" da História. — Internalizamos as lições da história. Quando um inimigo diz que pretende destruir você, acredite nele. Quando o inimigo desenvolve a capacidade de destruir você, detenha-o.

A imprensa iraniana afirmou que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Mohammad Bagheri, teria morrido na etapa inicial dos ataques, além de ao menos dois cientistas nucleares, Mohammad Mahdi Tehranchi e Fereydoon Abbasi. A TV estatal confirmou ainda a morte de parte dos metade dos integrantes da cúpula da Guarda Revolucionária, incluindo o comandante-chefe, Hossein Salami, que ocupava o posto desde 2019. Um golpe que analistas veem como elemento-chave para que a resposta iraniana use todas as forças à disposição do regime. A TV Nour News, ligada ao regime, afirma que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, está em um local seguro, mas um de seus assessores ficou gravemente ferido.

Segundo o porta-voz das Forças Armadas, Abolfazl Shekarchi, Israel e EUA receberão "um tapa com força", e que "um ataque de retaliação será definitivo, se Deus quiser”.

O premier ainda alertou que a operação continuará "pelo tempo que for necessário" e "até que a missão esteja concluída", alertando que o Irã ainda tem "capacidades significativas para causar danos", mas que Israel "está preparado para isso também". Enquanto as bombas caíam em várias cidades iranianas, Netanyahu disse aos civis do país que "não os odeia", e que eles "não são seus inimigos".

— Temos um inimigo comum: um regime tirânico que os atropela — disse Netanyahu.

Imagens da TV iraniana mostram imagens de várias explosões em Teerã, Esfahã, Arak e Kermanshah — cidades que abrigam parte do complexo industrial-militar iraniano —, e estragos em prédios residenciais em áreas urbanas, no que fontes citadas pelo New York Times acreditam ser resultado de ações contra cientistas nucleares, citadas por Netanyahu em seu discurso. A agência IRNA anunciou que "várias pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram martirizadas num complexo residencial em Teerã".

— O que posso ver são duas grandes chamas e fumaça saindo de duas bases militares no leste de Teerã — disse um morador de Teerã ao New York Times, acrescentando ter identificado ao menos dois caças da Força Aérea Israelense.

Os espaços aéreos de Irã e Israel foram fechados por tempo indeterminado.

Em entrevista à Rádio do Exército, um oficial israelense disse que “se este ataque inicial tiver sucesso, então o que fizemos com altos funcionários do Hezbollah ao longo de 10 dias fizemos com o Irã em 10 minutos", se referindo à ofensiva de Israel contra o Líbano, no ano passado, que eliminou praticamente toda a liderança do grupo xiita.

Na justificativa para o ataque, os militares israelenses afirmam que o Irã acumulou urânio suficiente para construir "várias bombas atômicas" em questão de dias, e que agiu contra uma "ameaça iminente".

"Hoje, o Irã está mais perto do que nunca de obter uma arma nuclear. Armas de destruição em massa nas mãos do regime iraniano representam uma ameaça existencial ao Estado de Israel e uma ameaça significativa ao mundo em geral. O Estado de Israel não permitirá que um regime cujo objetivo é destruir o Estado de Israel obtenha armas de destruição em massa", dizem as Forças Armadas de Israel.

Teerã nega ter planos para militarizar suas atividades nucleares, embora tenha demonstrado a capacidade de enriquecer urânio em níveis próximos ao necessário para construir uma ogiva nuclear. Contudo, especialistas questionam se o regime estaria pronto para construir uma arma funcional a curto prazo.

Em comunicado, o ministro da Defesa Israelense, Israel Katz, afirmou que “após o ataque preventivo do Estado de Israel contra o Irã, um ataque com mísseis e drones contra o Estado de Israel e sua população civil é esperado em um futuro imediato”. Na rede social X, as Forças Armadas emitiram novas ordens à população, também antecipando uma possível retaliação iraniana.

"Após uma avaliação da situação, foi decidido que a partir de hoje às 3h00 (horário local), haverá uma mudança imediata na política de defesa do Comando da Frente Interna. Como parte das mudanças, foi decidido mover todas as regiões do país de uma classificação de atividade completa para uma classificação de atividade necessária", diz a publicação. "As diretrizes incluem: proibição de atividades educacionais, reuniões e locais de trabalho, exceto para negócios essenciais. As diretrizes publicadas pelo Comando da Frente Interna por meio dos canais de distribuição oficiais devem continuar sendo seguidas. As diretrizes completas serão atualizadas no Portal Nacional de Emergência e no aplicativo do Comando da Frente Interna."

De acordo com a rede americana CNN, os EUA não participaram ou forneceram apoio para a ação israelense, e o governo do presidente Donald Trump está realizando uma reunião de Gabinete para avaliar os ataques. Mais cedo, o presidente afirmara na Casa Branca que Questionado sobre um possível ataque na quinta-feira, Trump disse que uma ação israelense contra o Irã "poderia muito bem acontecer", e trazia consigo os riscos de um "conflito em grande escala" no Oriente Médio.

Não está claro se Netanyahu, informou Trump com antecedência sobre a ação, como teria prometido, de acordo com integrantes do governo americano, tampouco se os EUA participarão da estratégia de defesa contra eventuais ataques iranianos, como aconteceu nos confrontos do ano passado, quando centenas de mísseis iranianos foram lançados contra Israel. De acordo com o site Axios, citando fontes do governo americano, o principal negociador da Casa Branca, Steve Witkoff, envolvido no diálogo com Teerã, alertou a parlamentares republicanos que uma retaliação a um ataque poderia causar "muitas vítimas", e questionou a capacidade do sistema de defesa aérea de Israel.

Desde o segundo semestre do ano passado, quando o chamado Eixo da Resistência, liderado pelo Irã, começou a se esfacelar após a derrocada do Hezbollah, no Líbano, o enfraquecimento do Hamas, em Gaza, e a queda de Bashar al-Assad na Síria, Netanyahu via o caminho para um ataque de grande porte contra o regime iraniano como cada vez mais possível.

Contudo, Trump parecia disposto, ao menos publicamente, a buscar a via diplomática. Ele retomou negociações com Teerã sobre um novo acordo relacionado às atividades nucleares iranianas, sete anos após o mesmo Trump rasgar um plano internacional que limitava essas mesmas atividades, mas queria termos mais duros do que o plano inicial. Um dos termos, que era visto como inaceitável por Teerã, era a exigência de que o país suspenda por completo suas atividades de enriquecimento.

Nesta quinta-feira, a aprovação de uma resolução na Agência Internacional de Energia Atômica, declarando que o Irã descumpriu suas obrigações relacionadas à não proliferação nuclear, foi recebida com críticas do regime em Teerã, e com a promessa de expansão das atividades nucleares, com a construção de uma terceira unidade de enriquecimento de urânio.

Uma nova rodada de negociações envolvendo representantes de Washington e do Irã está (ou estava) prevista para domingo, em Omã — nesta quinta-feira, Trump disse que estava "bem perto de um acordo", mas que um eventual ataque israelense "poderia ajudar, na verdade, mas também poderia prejudicar" os esforços.

A preparação para os ataques, que segundo fontes militares empregaram dezenas de aeronaves de combate, levou semanas, e ocorreu em paralelo à iniciativa diplomática americana, à qual Netanyahu se declarava contrário, reiterando que, em sua opinião, o Irã é uma "ameaça existencial" a Israel.

Apesar das declarações de Trump se dizendo contrário a uma guerra, os sinais de que um ataque era iminente ficaram ainda mais claros quando os EUA determinaram a saída de funcionários não essenciais de suas embaixadas e bases no Oriente Médio — na quarta-feira, o ministro da Defesa iraniano, Aziz Nasirzadeh, ameaçou atacar instalações americanas na região caso as negociações fracassassem e "um conflito fosse imposto" a seu país. Nesta sexta-feira, o presidente americano se reunirá com seu Conselho de Segurança Nacional para analisar o cenário.

“Nossa maior prioridade é proteger as forças americanas na região. Israel nos informou que acredita que essa ação é necessária para sua autodefesa”, afirmou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em comunicado na noite desta quinta-feira. “O presidente Trump e o governo tomaram todas as medidas necessárias para proteger nossas forças e permanecem em contato próximo com nossos parceiros regionais. Deixem-me ser claro: o Irã não deve ter como alvo interesses ou pessoal dos EUA."

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