A difícil arte de governar um país
Governar um país, dizem os manuais esquecidos nas gavetas do poder, é um ato de técnica, diálogo e responsabilidade. Mas o que vemos, por aqui e alhures, é algo mais próximo de um truque de ilusionismo: o coelho some; a cartola queima; e o público — sempre ele — sai devendo.
No Brasil, a fórmula tem sido repetir um ritual já conhecido: quer governar? Aumente imposto. Mas com classe, claro — escolha um alvo, dê-lhe o nome de “classe privilegiada”, “ricos”, “rentistas”, ou qualquer outra etiqueta que funcione bem na manchete.
Esqueça, por ora, o que o Estado perde todos os dias com a corrupção institucionalizada, com os escândalos de fraudes no INSS, com licitações dirigidas, com obras superfaturadas ou, vá lá, com os super salários de um Legislativo que se “auto indulta”, até na hora do cafezinho. O “bode expiatório”, como sempre é o serviço público — aquele mesmo que amortece o colapso social entre um escândalo e outro.
O Executivo, fiel à cartilha do improviso, quer agora ampliar o IOF, imposto anacrônico e regressivo por natureza. A justificativa? Cobrir rombos. Mas os rombos não são do povo, são da farra institucional: empréstimos fraudulentos; verbas desviadas com obras inacabadas, e uma máquina que se alimenta de si mesma, sem qualquer pudor.
Chamam de “ajuste fiscal”, mas tem a cara e corpo de confisco.
Lá fora, o espetáculo é ainda mais ruidoso. Donald Trump — agora novamente sob os refletores da Presidência americana — resgata a diplomacia do grito.
Sua política de taxação contra outros países é uma versão moderna da doutrina do porrete: quem não se ajoelha, apanha tarifado. Tudo isso sob o pretexto de proteger a indústria americana, como se ela ainda fabricasse algo bom para a humanidade, e não essa sempre crescente tensão geopolítica.
As medidas de deportação em massa e de extradições sumárias completam o enredo: trata-se, ao que parece, de esculpir muros com as próprias mãos, e depois vendê-los como símbolo de liberdade. O país que um dia sonhou em ser “a terra dos livres” vira palco de um “reality show” em que o estrangeiro é o vilão de temporada.
No fim das contas, governar, para alguns, virou o exercício de buscar dinheiro onde ainda há — no bolso dos outros — e de empurrar a conta da má-gestão para quem não foi chamado à festa. O difícil talvez nem seja mesmo governar, mas fazer isso com um mínimo de honestidade intelectual e um tantinho de vergonha na cara.
No Brasil e no Mundo, a arte de governar parece ter trocado os pincéis pelas maquininhas de cartão. E o povo, esse eterno pagador da conta, assiste ao espetáculo como quem assina uma assinatura mensal indesejada: sem entender como entrou, mas certo de que não vai sair tão cedo.
