A educação dos nativos digitais: um chamado urgente à transformação das escolas
Nos últimos anos, a presença da tecnologia no cotidiano reconfigurou a maneira como vivemos, aprendemos e nos relacionamos. Isso é fato. Não é exagero dizer que uma nova geração de estudantes, os chamados nativos digitais, demanda mudanças profundas na forma como a educação é conduzida.
Apesar disso, o modelo tradicional, com suas aulas expositivas e com base na memorização, parece preso ao passado, incapaz de dialogar com a realidade e a necessidade dos jovens do século XXI. Muitas escolas insistem em um formato ultrapassado, que privilegia a transmissão passiva de conhecimento, desconectado da realidade desses alunos.
Os nativos digitais cresceram imersos em dispositivos tecnológicos, redes sociais e acesso instantâneo à informação. Esse ambiente hiperconectado moldou seu funcionamento cerebral, tornando-os mais propensos a processar grandes volumes de dados de forma rápida, mas menos aptos a manter o foco em atividades prolongadas, o que aumenta a preocupação quando pensamos na sala de aula.
Estudos como os da pesquisadora e psicóloga Jean Twenge, autora do livro ‘iGen: Por que as crianças de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta’, publicado pela Editora Versos, em 2018, mostram como a geração nascida a partir de meados da década de 1990, que cresceu com smartphones e redes sociais, difere das anteriores em aspectos como comportamento, saúde mental e valores. A fragmentação da atenção é uma característica marcante dessa geração, incompatível com o modelo tradicional de ensino.
A questão vai além de uma simples dificuldade de adaptação. O aprendizado ocorre de forma mais efetiva quando é significativo, prático e conectado ao mundo real. Ou seja, não basta despejar informações para os alunos; é preciso criar experiências que engajem, despertem a curiosidade e promovam a aplicação prática do que foi aprendido. Infelizmente, o que encontramos na sala de aula hoje não oferece essas oportunidades, deixando os estudantes desmotivados e mal preparados para os desafios do futuro.
Mais do que um problema cognitivo, estamos diante de uma questão social e emocional. A escola, como instituição, tem o dever de preparar cidadãos plenos, capazes de lidar com as complexidades do mundo moderno. No entanto, muitas vezes, o ambiente escolar é marcado por práticas competitivas, isoladas, e que pouco valorizam o desenvolvimento socioemocional.
O futuro da educação não pode ignorar essas demandas. É necessário adotar metodologias que despertem o desejo por aprender. Isso significa repensar em todo o processo de ensino e aprendizagem, significa investir na base, na primeira infância, significa investir em conhecimento para os professores também. A comunidade escolar precisa despertar para a ideia de que criar vínculos, conectar o conteúdo à realidade e promover o pensamento crítico são ações que devem estar no centro de qualquer proposta pedagógica.
É urgente que gestores educacionais, professores e a sociedade como um todo compreendam que a transformação na educação não é uma escolha, mas uma necessidade. Continuar insistindo em um modelo passivo é negligenciar o potencial dos nossos jovens e comprometer o futuro do país. Mais do que nunca, precisamos de uma educação que inspire, motive e prepare os estudantes para os desafios de um mundo em constante mudança.
A geração digital exige um ensino à altura de suas capacidades e expectativas. A pergunta que fica é: será que estamos prontos para essa revolução? O que tem sido a prioridade das escolas?
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