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Investigação

Preso, desembargador Júdice Neto recebeu R$ 125 mil de salário em novembro

Em 2025, ele recebeu todos os salários líquidos acima do teto constitucional

Macário Judice Neto, desembargador que relata o caso TH Joias no TRF-2, foi preso na manhã desta terça (16/12) durante operação da PF no RioMacário Judice Neto, desembargador que relata o caso TH Joias no TRF-2, foi preso na manhã desta terça (16/12) durante operação da PF no Rio - Foto: Reprodução/Rede Social

O desembargador Macário Júdice, preso pela Polícia Federal essa terça-feira, suspeito de ter vazado informações de uma operação contra o deputado Tiego Raiumundo dos Santos, o TH Jóias, recebeu em novembro R$ 125,6 mil brutos do Tribunal Regional Federal 2ª Região.

Dados da corte mostram que o magistrado, após os descontos, R$80,5 mil — valor quase o dobro do teto constitucional de R$ 46.366, referente ao salário de ministros do Supremo Tribunal Federal.

Os salários líquidos de Macário Júdice em 2025

Novembro: R$ 80.580,0

Outubro: R$ 127.869,67

Setembro: R$ 52.540,19

Agosto: R$ 54.680,27

Julho: R$ 79.907,20

Junho: R$ 81.561,36

Maio: R$ 49.330,29

Abril: R$ 49.640,17

Março: R$ 47.478,51

Fevereiro: R$ 50.165,62

Janeiro: R$ 68.293,42

A operação
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira a 2ª fase da Operação Unha e Carne, que apura o vazamento de informações sigilosas da Operação Zargun para integrantes do Comando Vermelho.

Um dos principais alvos desta etapa é o deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente afastado da Alerj, que voltou a ser alvo de buscas. Mandados também foram cumpridos no Espírito Santo.

Macário é o relator do processo que envolve o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Jóias, preso por ligação direta com o Comando Vermelho. Segundo as investigações, o magistrado teria atuado para favorecer o grupo criminoso. De acordo com a coluna Lauro Jardim, em 2023, ele foi reintegrado e promovido a desembargador após 17 anos afastado da magistratura.

Desde 2005, o juiz enfrentava sucessivas decisões que o mantinham fora do cargo, relacionadas a acusações de venda de sentenças quando atuava na Justiça Federal do Espírito Santo.

Seu primeiro afastamento foi determinado pelo próprio TRF-2, em novembro de 2005, em uma ação penal que apurava sua suposta participação em um esquema ligado à máfia dos caça-níqueis. Em 2015, Macário acabou absolvido nesse caso, mas permaneceu afastado devido a um processo administrativo disciplinar (PAD) que tratava do mesmo tema.

O PAD, repleto de recursos e diversas disputas jurídicas, chegou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que decidiu, em novembro de 2022, que o prazo para julgamento havia sido extrapolado. Com isso, determinou a reintegração do magistrado. Mesmo assim, ainda havia outra decisão de afastamento por improbidade administrativa, proferida pelo TRF-2.

De acordo com o site da Universidade Federal do Espírito Santo, Macário foi nomeado desembargador federal em maio de 2023, com indicação formal enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele era o primeiro nome da lista de antiguidade e assumiu o cargo em solenidade no gabinete da Presidência do TRF-2.

Esposa na Alerj
Outro elemento que voltou à tona com a operação é o fato de que a esposa do magistrado, Flávia Júdice, atuava até o mês passado no gabinete da diretoria-geral da Alerj, mesmo período em que as investigações já corriam contra o ex-deputado TH Joias e contra Bacellar.

A PF ainda não detalhou se a atuação dela tem relação direta com o caso. O nome aparece no inquérito apenas como conexão institucional.

Em nota, a defesa do desembargador afirmou que o ministro Alexandre de Moraes "foi induzido ao erro" ao determinar a prisão de Macário Júdice:

"Sua Excelência o Ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema. Ressalta, ainda, que não foi disponibilizada cópia da decisão que decretou sua prisão, obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura", diz a nota, assinada pelo advogado Fernando Augusto Fernandes.

A defesa de Rodrigo Bacellar diz que "o parlamentar sempre se colocou à disposição para evidenciar seu não envolvimento nos fatos noticiados, prestando todos os esclarecimentos necessários. Além disso, quando ouvido, informou, em sede policial, que havia acabado de se mudar, comunicando o novo endereço. A Defesa ressalta que o deputado tem cumprido todas as medidas determinadas e reitera que o parlamentar não atuou, de nenhuma forma, para inibir ou embaraçar qualquer investigação, direta ou indiretamente, sendo certo que isso restará demonstrado."

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